Coluna Gente

O amigo fiel de todos os animais – Por Homero Primeiro

A atenção dada aos animais tem sido uma ação crescente nos dias atuais. Elpídio Araújo não é apenas um apaixonado por cães e gatos. É verdadeiramente um ativista que luta pelo bem de todos os seres de quatro patas. Desde pequeno nunca resistiu a um “miado” ou a um “latido”. E se esses estavam em situação de abandono ou de maus-tratos, era na casa onde mora que encontravam alimento, abrigo e muito carinho. Isso fez despertar no garoto um desejo que levaria para toda a vida: o amor pelos animais. Elpídio cresceu e se tornou um microempresário atuante em prol dos bichinhos. “O animal merece ser respeitado, ele não pode ser tratado apenas como um bicho de estimação. É preciso vê-lo como um filho”, afirma.

Mas até encontrar o que chama hoje de missão, Elpídio Araújo viveu histórias que o marcaram para sempre e que salvaram da morte bichos que cruzaram seu caminho. “Tudo começou quando eu tinha uns nove anos”, lembra. Nessa idade, o menino Elpídio encontrou jogado num campo de várzea um periquito australiano. Como precisava abrigar o pássaro numa gaiola, foi atrás de uma na feira da Encruzilhada. Lá, se deparou com uma Burguesa macho com a pata quebrada. “Algo me fez pedir para meus pais comprarem ele para mim”. Só que a ave, que é da família do Pombo e da Asa Branca, tinha uma fêmea que não deu sossego a quem tentou pegar seu ‘companheiro’. A Burguesa é uma daquelas espécies de animais que quando se une só a morte separa. “Esses bichinhos fizeram parte da minha infância”, recorda.

Outra lembrança da sua tenra idade remete aos anos de 1984 e 1985 marcados por uma seca “braba” que Pernambuco viveu. O período foi de tristeza total. Muitos criadores perderam bois, vacas, cabras e ovelhas. Foi o caso do seu avô, Elpídio Birunda, de quem não só herdou o nome, mas também o amor pelos animais. Até hoje, ele é a sua maior inspiração. “Nas férias de dezembro, eu ia com vovô atrás de água e palma para dar de beber e comer ao rebanho”, recorda.

Desde então, nunca mais parou de pegar animais para cuidar, alimentar e dar nome e carinho. E não se arrepende de nada do que fez até aqui para salvar essas criaturas da maldade humana. Aliás, ele quer é fazer mais e se desafia todos os dias pelas ruas do Recife em busca de gatos, cachorros, cavalos, papagaios e periquitos vivendo ao relento. “É cruel demais ver esses ‘irmãozinhos’ abandonados, doentes, com fome e sem nenhuma proteção”.

Há oito anos esse pernambucano de 52 anos está à frente da Casa de Passagem Eu Amo Animais, que foi fundada inicialmente para resgatar cadelas grávidas e filhotes. Porém, com o passar do tempo o espaço se transformou num lar para animais vítimas de abandono e desprezo. Se perguntar a ele quantos bichinhos já livrou das ruas, a reposta é “ah… muitos”. Na Casa existem hoje 80 gatos e oito cães. Afora, os que Elpídio alimenta ao redor da residência onde mora e os que encontra pelo trajeto até o trabalho.

Uma pesquisa publicada no final de 2022 pelo Datafolha revelou que, embora seja absurdamente grande o número de animais vagando pelas cidades sem um lar, o brasileiro gosta de um bichinho para chamar de seu. De acordo com o levantamento, a maioria, 61%, tem a companhia de um pet em casa (23% gatos e 48% cachorros). Na projeção que o instituto fez a partir do tamanho da amostra da pesquisa, são pelo menos 34 milhões de lares no país com um cachorro como animal de estimação.

Protetor independente, Elpídio conta com a colaboração de voluntários e vários amigos. Ele diz que os custos no amparo dos pets na Casa de Passagem – que envolvem castração, tratamento adequado de saúde e alimentação – são caros. “Só com ração, usamos boa parte do nosso dinheiro”, revela ele que divide sua rotina de trabalho com a de administrador da Casa e que precisa vencer uma batalha todos os dias para garantir a comida e os remédios dos bichos abandonados. “Infelizmente não temos ajuda do poder público”, diz.

Para dar suporte a esses gastos, ele montou um brechó no centro do Recife, também com a ajuda de amigos, para venda de objetos pessoais e de doações como LPs, CDs, DVDs, livros entre outros. Tudo o que é arrecadado é empregado na manutenção do abrigo para a compra de alimentos e remédios. Mas não é suficiente para cobrir as despesas. Por isso, toda ajuda é bem-vinda. “A gente está sempre precisando de comida para dar a essas ‘criaturinhas’ de Deus e também de quem puder doar ‘amor’, que é algo tanto necessário na vida deles”.

A consequência do abandono é a quantidade de cães, gatos e até cavalos que a gente vê doentes, famintos, perambulando pela cidade sem ninguém a lhe chamar por um nome. Segundo Arthur Schopenhauer, filósofo alemão que viveu no século XIX, “a compaixão pelos animais está intimamente ligada à bondade de caráter, e quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem.” Por isso, nunca é demais lembrar que o abandono é uma das formas mais perversas de maus-tratos. É um crime que incorre na Lei nº 9.605/1998. Quem pratica o abandono pode ser condenado de três meses a um ano de reclusão, além de pagamento de multa.

A amizade entre pessoas e animais é secular. Um companheirismo leal que transcende qualquer imaginário. Fiéis e amigos para qualquer hora do dia ou da noite, os pets são puros e sinceros. São muitos os benefícios que um bichinho criado em casa causa à saúde mental. Estudos científicos já comprovaram o bem que a ‘turminha’ faz. Quer uma prova? Brincar pelo menos meia hora com seu animal favorito é garantia da liberação da oxitocina, o hormônio que promove os sentimentos do amor, da união e do bem-estar.

Ou seja, conviver com um ‘amigo fiel’ é sinal de felicidade.

Como ajudar: Quem quiser ajudar os voluntários da Casa de Passagem, com ração, medicamentos, dinheiro, carinho ou adotando um bichinho, pode acionar as redes sociais: Casa de Passagem (@euamoanimaispe); Brechó de DVds, CDs e Livros (@brecho_garagemvinil)

*Homero Primeiro é jornalista e colaborador do blogdellas.

E-mail: redacao@blogdellas.com.br

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