Zé Fofinho – Por Washington Olivetto*

 

Quando uma moça arrumava um namorado gordo, sua mãe dizia que a filha estava namorando um rapaz forte.

Houve um tempo em que ser gordo não era nenhuma tragédia, e uns quilinhos a mais na balança não representavam nenhum problema. Nessa época, as mulheres mais desejadas eram aquelas que tinham o corpão violão; a maioria das certinhas do Stanislaw Ponte Preta tinha formas arredondadas; as vedetes famosas do Carlos Machado eram curvilíneas; e as duas polegadas a mais da Martha Rocha não representavam demérito algum.

Pelo contrário: segundo o que se falava em rádios, televisões, revistas e jornais, foi devido a essas duas fabulosas polegadas que ela acabou injustiçada e não conquistou o título de Miss Universo.

Nessa mesma época, quando uma moça arrumava um namorado gordo, sua mãe dizia que a filha estava namorando um rapaz forte, e as avós adoravam elogiar os netos acima do peso, chamando aquelas crianças de saudáveis e rechonchudas.

Naquele tempo, era normal comer feijoada às quartas e aos sábados, almoçar macarronada com brachola e jantar pizza de muçarela aos domingos. Sushis e sashimis eram desconhecidos da maioria da população, praticamente uma exclusividade da colônia japonesa e dos privilegiados amigos da grande artista Tomie Ohtake, que levava sua turma para conhecer os mais autênticos restaurantes “japorongas” do bairro da Liberdade, em São Paulo.

Não existia a palavra vegano, e vegetarianos eram uma minoria, como minha tia Lígia, que achava a homeopatia muito melhor que a medicina tradicional.

No cinema, os casais românticos eram magros, como Humphrey Bogart e Lauren Bacall, mas ainda existiam os gordos de sucesso, como Oliver Hardy, que, em dupla com Stan Laurel, protagonizava a dupla O Gordo e o Magro. Nos anos 1960, junto aos Beatles, à pílula e à minissaia, a estética da magreza começou a prevalecer na mídia e no planeta, por meio da figura de Lesley Lawson, a adorável magrela e primeira top model do mundo, Twiggy.

Foi quando os adoçantes artificiais começaram a ganhar espaço em supermercados, farmácias e drogarias.
No Brasil do fim dos anos 1960, foi veiculado um anúncio com uma foto da linda pós-adolescente Bruna Lombardi, com o título “Para onde foi aquela menina loirinha e bonitinha que você era. Suita não engorda”. E assim aquele produto que tinha cara de remédio acabou virando moda.

Logo depois, aproveitando sua recém-conquistada popularidade, Suita lançou um outdoor nas ruas de São Paulo e Rio de Janeiro com o título “Ninguém ama um homem gordo”. Muita gente gostou, muita gente comentou, mas o gordo genial Jô Soares não gostou e resolveu dar o troco. Criou um espetáculo teatral de enorme sucesso, com o título “Todos amam um homem gordo”, que se desdobrou numa série de outros sucessos. Alguns anos depois, durante a ditadura militar, Jô lançou seu espetáculo “Viva o gordo e abaixo o regime”.

Dietas e regimes ficaram famosos durante anos — como a pioneira dieta da Lua, baseada no gesto lunático de só consumir líquidos vários dias por mês — e desembocaram em dietas que existem até hoje, como a da pirâmide, a mediterrânea ou a paleolítica.

Mas, nestes anos 2020, os emagrecedores que fazem sucesso e dão resultado mesmo são os dinamarqueses Ozempic e Wegovy, que mudaram a economia da Dinamarca. Consumidos em quantidades gigantescas, particularmente nos Estados Unidos, esses medicamentos levaram uma enxurrada de dólares para a Dinamarca, desequilibrando a economia do país. Por causa disso, o Banco Central dinamarquês se viu obrigado a manter a taxa de juros mais baixa que a do Banco Central Europeu, enfraquecendo a moeda local.

Quanto a mim, que mantenho meu peso sempre igual, sem a mínima preocupação com remédios ou regimes, faço no dia a dia aquilo que batizei de dieta All Star.
Baseada em sorvetes pela manhã, todo tipo de comida em quantidade moderada durante o dia, muitas frutas vermelhas nas sobremesas, vinhos brancos e tintos nos almoços e jantares e um guarda-chuva preto.
Dentro dessa rotina, todos os dias calço meu par de tênis All Star e caminho disciplinadamente dez quilômetros, faça chuva ou faça sol.

Como moro em Londres, e a chance de chover é sempre grande, o guarda-chuva preto é parte fundamental da minha dieta.

*Washington Olivetto é publicitário. Texto compartilhado de O Globo. Foto-Divulgação.

E-mail: redacao@blogdellas.com.br

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