Vínculos afetivos são essenciais para o bem- estar- Por Nádia Oliveira*
No próximo dia 20 de julho celebra -se o Dia Internacional da Amizade, data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o propósito de propagar a cultura da paz e da convivência não-violenta. Além do significado, existem motivos para a celebração das nossas amizades. Uma perspectiva pouco analisada, mas muito importante, é a relação dos vínculos afetivos com a manutenção da saúde mental em todas as fases da vida. As nossas amizades integram as redes de apoio; conceito que engloba os grupos de pessoas com quem nos relacionamos e oferecem ajuda – material e emocionalmente – quando necessitamos.
A formação da rede de apoio acontece desde a infância, que também é a fase responsável pela construção das noções de afeto e amizade para nós enquanto seres humanos. As aprendizagens trazidas na infância são intelectuais e cognitivas, e garantem vínculos sociais sólidos neste período, onde ainda ocorre a maturação física e neurológica. É um período fundamental para o desenvolvimento de importantes habilidades cognitivas e sociais, apresentando impactos positivos nas demais fases do nosso desenvolvimento.
Após a infância, as amizades construídas na adolescência trazem sentido nos processos de autoafirmação, a partir do momento que inicia a construção da personalidade do indivíduo, no entanto, pesquisas revelam que, no Brasil, a solidão é algo crescente entre os jovens. Segundo uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Pediatria, publicada em 2021, 15% dos estudantes de 13 a 17 anos afirmam que se sentem sozinhos.
Em relação a este índice preocupante, entende-se que as razões para esse sentimento generalizado de solidão estão ligadas às pressões do modelo socioeconômico atual. O modus operandi da sociedade no século XXI é de uma sociedade que condiciona o indivíduo à busca pelo sucesso e realização profissional como uma forma de garantia do bem-estar e da realização pessoal. Além disso, é uma perspectiva que demanda mais precocemente dos adolescentes a certeza sobre a carreira e o futuro de ‘sucesso’ que almejam construir, ocasionando a pressão por uma produção constante.
É necessário salientar, também, o contexto pós-pandemia, que trouxe riscos não apenas à saúde física, mas também ao bem-estar emocional. Em um contexto de pandemia, esses sentimentos de ansiedade e insegurança são potencializados, pois, além de estarmos privados das relações interpessoais de modo presencial, ainda foi presenciada a cobrança pela rápida adaptação e os mesmos índices de produtividade, sem levar em conta o contexto de crise que culminou no isolamento social: incertezas frente ao futuro, e alto número de óbitos.
Na fase adulta, os vínculos afetivos aparecem como lugar de compartilhar os desafios. As afirmações e a segurança transmitidas nas nossas relações são fundamentais para demonstrar que nossos problemas não são tão grandes como imaginamos, sobretudo num país tão ansioso como o Brasil. Segundo o informe divulgado pela Organização Mundial da Saúde, o Brasil é o país com maior proporção na porcentagem de pessoas ansiosas: 9,3% da população.
Neste contexto, as redes de apoio são importantes para que o indivíduo se sinta acolhido ao compartilhar suas questões. De um modo geral, a rede de apoio – formada tanto por amigos como familiares que sejam capazes de, principalmente, acolher o indivíduo em sofrimento sem julgamentos, é essencial nesse processo de enfrentamento de uma ansiedade, por exemplo. Por outro lado, ainda que a rede de apoio seja importante, ela não ocupa o lugar do tratamento especializado com profissionais, sobretudo quando os sintomas representam um obstáculo maior na rotina do indivíduo.
Na 3ª idade, a rede de apoio ganha novos significados, e uma importância ainda maior, sobretudo por ser uma fase em que o idoso questiona seu lugar na sociedade e seu valor enquanto indivíduo, contribuindo para o surgimento de sintomas de ansiedade e depressão.
Na fase idosa é muito importante ter amizades, pois é uma fase do desenvolvimento na qual torna-se comum o surgimento de alguns desafios que podem acentuar o sentimento de solidão, como algumas perdas sensoriais, motoras, físicas e cognitivas. Assim sendo, os vínculos interpessoais nessa faixa desenvolvimental são importantes, pois proporcionam interações, sentido de vida e pertença, sendo estes importantes aspectos de promoção à saúde mental.
O Dia Internacional da Amizade é, também, um lembrete da importância dos relacionamentos que construímos. O ser humano, enquanto ser social, precisa das relações que estabelece para sobreviver, sentir-se completo e seguir se desenvolvendo ao longo da vida.
*Nádia Oliveira é psicóloga, professora e coordenadora do curso de psicologia da UniFBV Wyden. O texto é uma colaboração para o Blogdellas.
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