Saúde

Vacina para doença de pobre a passos lentos

 

Há anos o Brasil enfrenta surtos de dengue, chikungunya e zika. Milhares já morreram sobretudo de dengue e, a cada ano, 30 mil adquirem sequelas – algumas pelo resto da vida -deixadas pela chikungunya. A zika tem matado menos mas causou a epidemia de 2015, quando mais de 7 mil crianças nasceram com microcefalia, causando comoção internacional.

 

A cada quatro anos – como normalmente acontece – a dengue volta com força na estação mais quente e traz consigo a chikungunya, lotando as UPAS sobretudo no Nordeste, onde estas doenças estão mais presentes por motivo muito simples: é região mais pobre, de sub-habitações, e esgoto a céu aberto, celeiro para o transmissor aedes aegypti.

 

Há mais de dois anos , junto com a Covid-19, essas três doenças, aliadas à gripe, tem causado clamor e esgotado equipes médicas e de enfermagem nessas áreas. A pergunta que não quer calar é só uma: por que para a Covid as vacinas foram desenvolvidas num piscar de olhos e quase 80% da população brasileira, inclusive nordestina, já está vacinada e para as doenças mais brasileiras não?

 

A resposta surgiu da própria Organização Mundial de Saúde-OMS que alertou o mundo, em meio à euforia da chegada da vacina contra Covid que o imunizante precisava ser distribuído também para os países pobres sob pena de demorar anos e anos para ser controlada, em função novas variantes. Estava claro, como ainda está, que a vacina da Covid não só foi rápida porque os países ricos foram afetados igualmente e que não estão interessados em ajudar os pobres, sobretudo, da África.

 

Mesmo assim o alerta não foi ouvido. Muito menos tem sido ouvidos por aqui os gritos de dor de famílias enlutadas e de doentes sequelados principalmente pela chikungunya. A primeira onda de deste mal se deu em 2014 – há oito anos – e só agora o Instituto Butantã anuncia uma vacina ainda a ser testada e que pode estar disponível em 2023. No caso da dengue o prazo previsto é de 2024 embora desde 1986 o Instituto Oswaldo Cruz tenha isolado o vírus da dengue DNEV-1, o que já poderia ter ensejado a luta pela fabricação da vacina.

 

 

Não fosse o Butantã estaríamos ainda sem previsão de vacina. O Ministério da Saúde que é obrigado a gastar rios de dinheiro, na época dos surtos, para socorrer os que batem às portas das unidades básicas ou hospitais, não tem política de prevenção e muito menos dá atenção aos doentes sequelados, muitos transformados em deficientes físicos porque a chikungunya atinge as articulações de forma arrasadora. “As sequelas são regra e não exceção” declarou recentemente a cientista Melissa Falcão da Sociedade Brasileira de Infectologia.

 

Nos governos estaduais o descaso é com o saneamento básico que é desleixado – problema que enfrentamos há séculos. Em qualquer um desses casos se os atingidos fossem os mais ricos todas as providências já teriam sido tomadas. Se há um vetor a ser combatido, o aedes aegypti , e o saneamento é a melhor forma de enfrenta-lo não há desculpa para a postergação. Aliás o aedes, que também provoca a febre amarela, foi tido como banido do país há mais de um século com o controle da febre amarela mas, sem ser importunado, voltou com força provocando novos males.

 

Para mostrar a diferença entre a vacina da Covid e as demais, o site Clinical Trias.gov concluiu que há no mundo atualmente 534 pesquisas com imunizantes contra Covid e apenas 7 estudos sobre vacina contra a dengue e chikungunha. Um deles é o tocado pelo Butantã, com a parceria de laboratórios franceses e americanos.

 

Enquanto isso , em 2012 aumentou em 31% os casos de chikungunya no Brasil em relação a 2020 com 93.400 casos confirmados. A dengue, só em 2019, chegou aos e 1.400 mil casos e 689 mortes. Quem vai responder por tudo isso? A indagação fica na ar bem como a denúncia sobre o abandono dos mais pobres, inclusive quando correm risco de vida.

 

Fotos-Divulgação

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