Teresa nega ataques a Marília: “É questão de interpretação”. E diz que será a “senadora de Lula”

 

*Por Terezinha Nunes

Após idas e vindas na escolha do candidato a senador pela Frente Popular, envolvendo o deputado federal André Paula (PSD), a quem o PSB tinha prometido a vaga, o próprio PT e suas divisões internas, a deputada estadual Teresa Leitão (PT) conseguiu, há poucos dias, tornar pública a frase que estava cravada na sua garganta desde que, chamada por Lula em São Paulo, soube que era o nome escolhido por ele para representá-lo no palanque pernambucano: “Serei a primeira senadora de Pernambuco” – disse ao ter a confirmação.

Mais recentemente, ela anexou outra frase de efeito à sua pré-campanha : “Teresa, senadora de Lula”. Em um cenário de protagonismo feminino e em um estado onde o ex-presidente tem cerca de 60% das intenções de voto, pode-se dizer que as frases de Teresa respondem ao que o marketing político recomenda em um cenário de múltiplas candidaturas a governador e senador e onde os próprios petistas se dividiram levando Marília Arraes a deixar o partido e montar palanque próprio.

“O preconceito contra as mulheres na política ainda existe”

Tida como combativa e muito fluente na tribuna e forjada na luta sindical, a professora Teresa Leitão sempre soube separar os embates acalorados no plenário à vida cotidiana de um parlamentar nos corredores da Assembleia. Cordial, sempre se deu bem com todos os colegas, independente do espectro ideológico. Seu jogo de cintura se revelou maior, porém, na luta pela vaga do Senado na chapa socialista. Conseguiu vencer o grupo dos trabalhadores rurais, comandado pelo senador Humberto Costa e pelos deputados Carlos Veras e Doriel Barros, que a derrotaram na disputa interna escolhendo Veras. Teresa soube ter a paciência de esperar que a direção nacional convencesse o PSB a aceitá-la e a romper o compromisso com André.

O Blogdellas começa com Teresa Leitão uma série de entrevistas com os candidatos majoritários à eleição deste ano. Como é mulher, teve prioridade sobre os homens nesta página para iniciar o debate. Vejamos:

Blogdellas: Teresa, sua primeira declaração após confirmado seu nome como candidata ao Senado foi “serei a primeira Senadora de Pernambuco”. O que te leva a ter esta convicção, em um estado no qual uma mulher nunca foi eleita Governadora, Senadora ou Prefeita da capital?

Teresa Leitão: Tenho observado uma tendência muito forte aqui e em outros países quanto ao voto em mulheres. Isso é fruto de muita luta dos movimentos sociais e de medidas partidárias. Pernambuco desde 2002 tem tido uma presença mais forte de mulheres na Assembleia Legislativa, por exemplo. Por isso pretendo agregar essa representação à luta pelo espaço da mulher no Senado.

Blogdellas: O que pretende falar para o eleitor no sentido de convencê-lo a apostar em uma mulher?

Teresa Leitão: Falarei da importância da construção de uma sociedade com igualdade entre homens e mulheres: das experiências exitosas de mulheres nos espaços públicos de poder; e da minha própria luta histórica em defesa das mulheres.

Blogdellas: Foi difícil vencer as resistências até agora?

Teresa Leitão: O preconceito contra mulheres na política ainda existe, mesmo com esses avanços. Ele é estruturante do modelo de sociedade que temos. Nesse sentido cada passo que damos é uma resistência vencida. Mas o apoio coletivo que procuro manter e a concepção de projeto, facilitam.

“Machismo não me amedronta, me causa indignação”

Blogdellas: O Uol fez um levantamento recente apontando que, a cada 15 dias deste ano, uma mulher política foi atacada por homens que, entre outras situações, as mandaram ir cuidar dos maridos e filhos. Não te amedronta esse machismo enraizado na sociedade brasileira?

Teresa Leitão: Não. Não me amedronta mas me causa indignação. Sou autora de um Projeto de Lei que busca justamente prevenir e coibir a violência política contra as mulheres.

Blogdellas: Considerando que as mulheres são maioria no país o que explica o fato delas não apostarem em outras mulheres?

Teresa Leitão: Acho que o tempo histórico de nossa presença nas disputas políticas públicas ainda influencia. A atividade política é mais pública das atividades públicas e foi a última a ser ocupada por mulheres. Elas foram historicamente destinadas ao espaço privado e doméstico.

Blogdellas: Com tantas mulheres em disputa por cargos majoritários esse ano uma hora alguma vai se estranhar. No final de semana passado a senhora começou a apontar defeitos de Marília em encontro no interior e falou que “a Frente Popular deseja que sejas o contraponto a ela”. A população que nunca elegeu uma mulher para cargo majoritário estadual não pode estranhar o embate assim? Forte, direto, contundente?

Teresa Leitão: Se as mulheres querem fazer diferente na política, elas devem se tratar com respeito e sem usar nenhuma das normas naturalizadas pelos homens. Eu estou na vida pública como deputada há 20 anos, sempre assumindo minhas posições com firmeza. Ninguém me vê em ataques e querelas pessoais, muito menos contra uma mulher. E contra a candidata do Solidariedade muito menos. Sou candidata a Senadora. Tenho feito uma abordagem geral dos palanques políticos no Estado, me abstendo de citar nomes e dou ênfase ao palanque de Lula. Fora disso são interpretações. O meu principal papel na Frente Popular é representar Lula. Ser a Senadora de Lula. Ajudar na unidade da Frente Popular será minha tarefa.

* Terezinha Nunes é jornalista, uma das fundadoras do Blogdellas e titular da Coluna Giro Político.

Fotos: Acervo pessoal/Divulgação

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