Diversidade

“Ser você mesmo provoca um olhar diferente, de reprovação”, diz Douglas Souza do vôlei

Após uma pausa na carreira, na qual anunciou sua aposentadoria da seleção brasileira, o ponteiro Douglas Souza, de 26 anos, está de volta às quadras de vôlei. Sensação nas redes sociais nos Jogos de Tóquio-2020, o atleta foi apresentado nesta terça-feira (14) como uma das estrelas da próxima temporada do Vôlei São José, time de São José dos Campos, no interior de São Paulo. Nesta entrevista para a Folha, no mês em que se celebra o orgulho LGBTQIA+, ele reafirmou que é importante como atleta falar abertamente de sua sexualidade e que o politicamente correto não é excesso, é necessidade.

“A gente sabe que não é só com questões de homofobia, mas, pelo fato de ser quem você é mesmo, de você ser um pouco mais espontâneo, vai ter gente que vai olhar diferente, com olhar de crítica, olhar de reprovação”, disse. “Isso é muito comum no esporte, é o que a gente vem tentando mudar há alguns anos, o que eu venho tentando fazer, sempre.Quando estava na seleção, eu sabia que eu representava mais do que só o Douglas. Não era só por mim, era toda uma comunidade, eu tinha essa noção. E aqui no clube não é diferente, eu estou dentro do esporte. A gente sabe como funcionam as coisas”, afirmou o ponteiro.

Ele defende o comportamento chamado de politicamente correto contra piadas e brincadeiras homofóbicas ou racistas. “Eu acho necessário. Tem piadas que as pessoas fazem com negros e com gays que não são piadas, pessoas morrem diariamente por causa disso. A vida de alguém não é piada.” Em dezembro — antes do anúncio do adeus à seleção, feito em março—, ele deixou o clube em que jogava na Itália, o Callipo Sport. Voltou ao Brasil, cercando-se de familiares e amigos.

“Eu simplesmente resolvi priorizar a minha saúde mental. Eu tinha que fazer o que eu tinha que fazer. Era isso ou era até eu correr risco de acontecer alguma coisa comigo. Eu precisava preservar não só a minha carreira mas a minha vida”, disse o atleta, que não tem a pretensão de voltar à equipe nacional.

“Quando você está na seleção, tem que abdicar de várias coisas da sua vida, coisas que são importantes para mim. Por exemplo, deixei de ir ao enterro do meu falecido vô para estar em um jogo da seleção, e eu me arrependo profundamente dessas coisas. Mas são coisas de que a gente tem que abdicar quando quer ir para a Olimpíada, coisas que para mim já não estavam fazendo bem”, explicou.

Atuando só no clube, segundo ele, é bem mais fácil conciliar carreira e vida pessoal.”Termina o jogo, e você vai sair com os amigos. É um pouco mais leve. Lógico que tem essa cobrança, você tem que ganhar. Na seleção, acaba sendo um confinamento, você sai para um jogo, volta para o quarto e já tem que se concentrar para o próximo”, disse o jogador, cujo desejo de deixar o time verde-amarelo era antigo.

“Eu já tinha entendido isso, já tinha passado para meu empresário desde 2017. Se fosse por mim, eu já teria saído, teria falado: ‘Não, gente, chega, eu não consigo mais’. Só que aí eu entendo que a figura do Douglas Souza lá dentro representa toda uma comunidade, não é só o Douglas lá, sabe, tem uma carga maior”, recordou.

Além de Douglas, também foram apresentados nesta terça pelo Vôlei São José o levantador Matheus Brasília, o líbero Rogerinho e o ponteiro Rodrigo Leandro. O clube anunciou, ainda, como parte do novo time dois atletas estrangeiros, que não estavam presentes no evento: o oposto cubano Michael Sánchez e o ponteiro estoniano Robert Täht.

O time, que também disputará a Superliga Masculina na temporada 2022/23, será conduzido pelo técnico Carlos Schwanke.A estreia do ponteiro no time está prevista para agosto, no Campeonato Paulista.

Redação do Blogdellas com os veículos/assessorias.

 

Matéria por Tânia Campelo. Fotos:Folha de S.Paulo.

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