Sem Spoiler… Por Erik Limongi Sial*

 

Herman Melville escreveu Moby Dick em 1851. Se a recepção foi fria, assomou seu lugar no panteão da literatura, referenciado por Hawthorne como o “grande romance” estadunidense.

Mas, a frieza que recebeu originalmente a Moby Dick, não contamina a película “A Baleia”, tendo Brendan Fraser no papel título, agraciado com a estatueta de Melhor Ator na Cidade dos Anjos.

Parafraseando a angústia subliminar do personagem Ishmael, em sua saga pessoal para muito além da caça marítima ao maior mamífero da terra, Brendan irradia as agruras de um professor absorto na perda do parceiro amado, perda essa afogada sem salva-vidas numa compulsão que transforma não apenas seu figurino pessoal, mas, sobremaneira, emocional.

Circunscrito ao seu apê, com a alma a embotar sentimentos como que em isolamento acústico, o professor, de codinome Charlie, grita silenciosamente para recuperá-la, afogada tanto pelo mar revolto da dor de consciência pelo divórcio de sua esposa Mary, quanto pelo redemoinho gestado do afastamento da única filha, Ellie, porto seguro do seu amor. Se a angústia de Charlie é entrecortada pelos diálogos com sua singular amiga e filha, sua crença segue inabalável na pureza humana, como que a entreolhar, para além das camadas de dor, o sublime dom da vida.

As horas de maquiagem, compondo seu visual, entretanto, não são as bússolas da personificação de Charlie, cujo olhar, timbre e tom professam os bons sentimentos, norteados pelas estrelas guias das maiores criações de Deus, o homem e a mulher, como se marujos desse mundo fossem.

De sua convicção se extrai, como o curso traçado a partir de uma carta náutica, que ao homem é impossível não se importar.
Em épocas em que o culto ao “shape” esteriotipa o padrão do sucesso nesses trópicos e nos sete mares, Charlie nos evoca, sem soar piegas, a verdadeira beleza do firmamento, dedicado, penso eu, a todas as pessoas que acreditam no bem…

 

*Erik Limongi Sial é advogado, sócio fundador do Limongi Advocacia. Colaborador/ Blogdellas. Texto também publicado no JC.

E-mail: redacao@blogdellas.com.br

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