Seis anos sem Marcus Accioly – Por Arnaud Mattoso *

Neste 21 de outubro de 2023, completam-se seis anos da morte do poeta Marcus Accioly. Pernambucano da cidade de Aliança, na Mata Norte de Pernambuco, Marcus é imortal da Academia Pernambucana de Letras (ocupou a Cadeira 19 que foi de João Cabral de Melo Neto) e um dos mais profícuos escritores do Estado.

A sua formação acadêmica era em Direito com mestrado em Letras, exercendo a docência em Literatura na UFPE. Ao longo dos seus 74 anos de vida, deixou mais de quinze livros publicados, trinta obras inéditas e recebeu doze prêmios literários, entre eles o Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras.

A viúva do poeta, arquiteta Glória Dalla Nora, é detentora dos espólio autoral do autor e vem se empenhando em manter viva à memória de Marcus, a partir da publicação de antigas e novas obras. Neste ano, a editora Cepe fez a reimpressão da coletânea Sísifo, Íxion, Narciso e Érato, quatro livros essenciais de Marcus e de altíssimo nível literário, originalmente lançados entre 1976 e 1990. A Cepe também publicou, em 2018, Don Juan-Don Giovanni.

A minha relação de amizade com Marcus é antiga, por volta de 1984, quando eu tinha na faixa dos vinte anos de idade. Marcus foi a minha primeira referência literária e o primeiro escritor que conheci. Ele era colega de docência da minha tia Carmela Mattoso e foi ela quem nos apresentou.

Ao longo dos anos, tive a sorte de receber dele orientações e colaborações. A mais importante foi o prefácio para o meu livro “Pequeno Ruby”, vencedor de prêmio literário da Academia Pernambucana de Letras, na categoria infanto-juvenil, e publicado pela Bagaço em 2017.

Assim como eu, Marcus era apaixonado pelos animais e o seu cão-filho Alfa é um personagem importante em sua vida, assim como o meu cão Sebastian foi para mim e inspirou o livro premiado. Um ano após a morte de Alfa, em 2005, Marcus escreveu a crônica “A Dor”, onde parte do texto completo foi publicado na coletânea “Cronistas de Pernambuco”, (Ed. Carpe Diem, Recife, 2010).

“A Dor” é uma crônica magistral, com densidade emotiva acima de qualquer texto sobre o amor de um ser humano por um cão. Glória Dalla Nora me entregou os originais em 2018. Em parceria com o professor de Literatura da Unicap, Robson Telles, e o produtor musical do selo Midiout, Felipe Maia, produzimos o áudio-livro de “A Dor”.

Este foi o primeiro produto digital de Marcus Accioly e está distribuído nas plataformas de streaming. Infelizmente, Marcus não alcançou essa etapa em suas obras. Gostaria muito de poder conversar com ele sobre isso e lhe dizer que é a minha forma de agradecimento e retribuição pela amizade e o carinho que sempre demonstrou comigo. Depois do áudio-livro, tenho distribuído a produção musical de Marcus Accioly junto com o cantor e compositor cearense Cesar Barreto. O leitor do blog Dellas pode encontrar nas plataformas de música os álbuns com os poemas dos livros de Marcus Accioly musicados por Cesar Barreto. Estão todos lá: Guriatã, Nordestinados, Sísifo, Cancioneiro, entre outros singles e EP’s.

A poesia de Marcus era, naturalmente, musical. Para se ter uma ideia da qualidade de Nordestinados, uma das obras mais conhecidas de Marcus e vencedor do prêmio Recife Humanidades, em 1972, a comissão julgadora deste prêmio teve como avaliadores Gilberto Freyre, Mauro Mota e César Leal. Eu musiquei três poemas de “Guriatã – um cordel para meninos”, livro premiado nacionalmente em 1979 e também o meu livro preferido da obra de Marcus. Quem lê Guriatã e Nordestinados percebe a musicalidade nos poemas de Marcus. Isso tem origem na métrica e no ritmo dos Cantadores de Repente que influenciaram o menino Marcus no Engenho Laureano.

As memórias desse tempo perseguiram o homem maduro até o fim de sua vida. Cesar Barreto captou essa métrica-rítmica como ninguém. O mais recente trabalho da dupla é o álbum “Itamaracanto”. Uma ode poética de Marcus Accioly à ilha de Itamaracá, onde ele morou em seus últimos anos e onde faleceu seis anos atrás.

*Arnaud Mattoso é Jornalista. Texto para o Blogdellas-Foto-Divulgação

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