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Ressocialização animal: Galos são resgatados das rinhas, tratados e devolvidos à vida

A Rinha de Galo ou Briga de Galo é cruel, violenta, desnecessária, condenável e que sabemos ser proibida por lei, mas ainda praticada as escondidas (e quase à vista das autoridades) país afora. Existem os que as orquestram sadicamente como “esporte” favorito. O tema rende debates calorosos. É motivo de polêmicas. E é crime ambiental, com pena de dois a cinco anos de prisão, além de pagamento de multa e inclusão do nome no registro de antecedentes criminal.

E é em direção a essas aves, que existem leis proibindo também de levá-las ao abate. Um exemplo admirável a ser seguido vem de Minas Gerais: Galos resgatados de rinhas estão sendo encaminhados para reabilitação. Projetos desenvolvidos nas cidades de Formiga e em Uberaba oferecem tratamento para ressocialização de aves resgatadas em operações da Polícia Ambiental. Após o tratamento, os galos são recuperadas e podem ser adotados por agricultores familiares. A experiência de reabilitação começou em 2019, no Centro Universitário de Formiga. Criador do protocolo de tratamento, o professor do curso de medicina veterinária Dênio Garcia conta que, antes, as aves resgatadas de rinhas eram encaminhadas para abate em função do comportamento agressivo que desenvolviam devido aos maus-tratos.

Mas, a partir de uma proposta do Ministério Público de Minas Gerais se deram início, em Formiga, à pesquisa para reabilitação dos animais. Desde então, ao menos 1.260 galos resgatados já passaram por tratamento. E lamentável. Os galos explorados em rinhas são tratados para que fiquem agressivos. As aves são presas em gaiolas e privadas de alimentação e podem, ainda, sair mutiladas dos confrontos com outros animais. Essas aves não sabem empoleirar, ciscar nem comer num local que não seja predefinido. O trabalho de reabilitação envolve cuidados de veterinários, como vermifugação, um processo de readaptação comportamental desde a alimentação a convívio social. A metodologia consiste em persistência e gentileza no trato desses animais. Eles precisam reaprender a ser um galo solto, diz Garcia.



Após o resgate, os galos ficam em quarentena por cerca de 30 dias. O tempo pode ser maior, dependendo do nível de estresse do animal. Depois, as aves são submetidas a triagem e ressocialização antes de serem reintegradas à natureza. Na última etapa do tratamento, os galos são soltos em área aberta com gramado natural, junto a fêmeas, e então são monitorados. As galinhas são parte importante do processo de readaptação, lembra Garcia. Segundo ele, o convívio é necessário justamente para que os animais possam voltar a viver em comunidade. O tempo de ressocialização varia, a média é de três meses. Ao final, as aves recebem chips de identificação e são doadas a produtores rurais de programas de agricultura familiar cadastrados na Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural. Quem recebe o animal assina um termo de adoção com as obrigações no cuidado da ave.

Embora o projeto tenha começado em 2019, por causa da pandemia de Covid-19, o trabalho realizado em Formiga se intensificou em 2021, quando 650 aves foram para tratamento. Neste ano, outros 500 animais resgatados foram para recuperação. Desses, cerca de 400 galos concluíram todas as etapas da readaptação e foram doados a agricultores da região. O coordenador do projeto explica que nem todos os animais conseguem sobreviver após o resgate, pela gravidade das lesões sofridas nas rinhas e pelos maus-tratos dos antigos proprietários. A taxa de mortalidade é alta. Ainda assim, o resultado é considerado bem-sucedido pela equipe, e em julho do ano passado a experiência passou a ser replicada no Hospital Veterinário da Uniube, em Uberaba. Até o momento, 110 galos foram reabilitados e doados a agricultores da região, e outras dez aves seguem sob cuidados no hospital. Alguns animais em condições críticas chegaram a passar por cirurgia para tratar feridas no peito e nos pés. As aves ficam isoladas durante o pós-operatório e só depois seguem para a reabilitação. Tanto em Formiga como em Uberaba o trabalho é realizado em parceria com o Ministério Público de Minas Gerais, que destina paro projeto recursos provenientes de medidas compensatórias.

São projetos assim que nos fazem acreditar que o mundo pode ser um lugar melhor. Para os animais e para os humanos.


Blogdellas com veículos (Folha de São Paulo). Fotos: Divulgação.

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