Racismo, injúria racial ou calúnia?

 

O blogdellas faz questão de tratar deste caso: No último sábado, 26, uma funcionária de loja do Shopping Del Rey, em Belo Horizonte, chamou uma menina negra, de 9 anos de ‘ladra’ e família denuncia racismo. A Polícia registrou boletim de ocorrência como calúnia.

A menina foi acusada de furto na loja All Mini do Shopping Del Rey, em BH. De acordo com a mãe da vítima, a criança foi com a irmã mais velha, de 23 anos, até a loja para comprar prendedores de cabelo. E estavam acompanhadas por três adolescentes. Enquanto escolhiam as peças, perceberam que eram seguidas e observadas por uma funcionária.” O tempo inteiro elas foram vigiadas, a minha filha comprou um item no valor de R$ 8 e foi pago em dinheiro. Ela esperou minha filha pagar, abordou a minha filha na frente dos clientes, constrangeu a minha filha e falou com ela: ‘Você é ladra, você está roubando. Você está pegando joias da loja e colocando na mochila’’ Minha filha não estava com mochila e a loja não tem joias”, contou a mulher. As meninas saíram da loja e encontraram com os pais nos corredores do shopping.

Após relatarem o ocorrido, todos voltaram até a loja para esclarecer os fatos e mostrar a nota fiscal. De acordo com o boletim de ocorrência, uma funcionária afirmou que a menina de 9 anos havia furtado objetos do local.” Eu questionei. ‘Quero saber o que aconteceu. Minha filha é menor, como vocês abordaram? Como tem câmera na loja, me apresente esse vídeo, o momento exato que a minha filha estava furtando’. A funcionária começou a rir da minha cara e respondeu: ‘Não vou mostrar nada, não. Aquela menininha é ladra’. Falou na minha cara”, disse a mãe das vítimas.

O pai das meninas é policial penal e sacou a arma. Segundo o boletim de ocorrência, apontou para as funcionárias, que correram. Os seguranças do shopping e a Polícia Militar foram acionados. Os envolvidos foram levados para a delegacia, ouvidos e liberados. A Polícia Civil informou que um procedimento foi instaurado para apurar o ocorrido. Também será feita uma análise das imagens das câmeras e testemunhas serão ouvidas para verificar se houve crime de calúnia ou racismo. O advogado William Santos, que representa a família, discordou da classificação da ocorrência no registro policial, qualificada como calúnia.” Trata-se de crime de racismo, que vai contrário ao boletim de ocorrência que foi feito. Mexeu com parte da sociedade é que maioria da população brasileira. E por uma situação que não se desenhou como crime de calúnia, como consta no boletim de ocorrência. No mínimo, é um crime de injúria racial”, afirmou.

O Shopping Del Rey informou que repudia toda e qualquer forma de discriminação e está à disposição para apoiar o trabalho das autoridades competentes

*Joice Berth analisa o caso relatado acima. Vejamos:

 

Olha, a prática do racismo é criminosa em qualquer circunstância, mas contra crianças é a forma mais cruel e me desperta vários gatilhos.

Sim, porque eu não me “descobri” negra aos 30 anos, eu fui acusada de ser negra, literalmente, aos 8 anos de idade, por uma professora e na escola.

Aqui temos uma menina de 9 anos sofrendo essa violência que vai doer e atormentar para sempre sua vida e afetar de maneira irreversível o seu desenvolvimento psíquico. Mas o que me chama atenção aqui e eu tenho dito sempre, é que toda vez que se ataca uma opressão podem esperar porque seguramente o contra-ataque vem. Quando se acirra a lei antirracismo, enquadrando injúria como prática racista, algo que era pleiteado há décadas, começam a recorrer a outros desvios. Nesse caso chamaram ataque racista contra criança de “calúnia”.

Isso mesmo, o caso foi registrado como calúnia.

Outra questão que merece atenção é a desinformação da jornalista que apresentou o caso na mídia. Ela disse que essa ocorrência “está bem parecida com o racismo estrutural”. 😳 Uai gente?! Como assim?! Está parecida com o racismo estrutural? Vocês percebem que estamos em um buraco profundo onde as pessoas repetem desinformação com a maior segurança em um veículo de comunicação de massa e sobre uma questão histórica que leva centenas de pessoas a morte entre outras atrocidades? Quando o são opressões estruturais, a desinformação é um projeto de fomento às desigualdades. E detalhe importante: a jornalista não é branca, o que não significa que seja negra, mas certamente ela está ali porque a cota negra precisa ser cumprida e nesse caso, pouco importa o que a pessoa sabe ou não a respeito. É só não ser branca, mas também não ser retinta, já que quanto mais escuro, pior.

O racismo cotidiano, aquele que não está inserido no espetáculo da indignação branca e nem nos interesses individuais de parte da negritude do “pretos no topo” continua a todo vapor, matando física e simbolicamente. Mas infelizmente, esses casos não dá engajamento e não rendem #publi e nem tokenização política.

*Joice Berth, arquiteta e urbanista, escritora , curadora e psicanalista. Cria conteúdo para as redes sociais e plataformas como a Revista “Elle Brasil” e o “Portal Terra”, sobre temas de conscientização de questões sociais, desigualdades e saúde mental. Feminista negra.

Redação com veículos/ Foto-Divulgação

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