Quem foi Auta de Souza?

 

Auta Henriqueta de Souza, mulher negra, nasceu na cidade de Macaíba, no Rio Grande do Norte, em 12 de setembro de 1876. Filha única entre quatro irmãos do casal Elói Castriciano de Souza e Henriqueta Leopoldina Rodrigues.

A morte na sua vida foi marcada a partir dos 3 anos de idade quando perdeu sua mãe com 27 anos, devido a tuberculose e dois anos depois seu pai, com 38 anos também pela mesma doença e no mesmo ano, morreu o seu avô materno. Quando tinha 12 anos perdeu seu irmão mais novo, Irineu Rodrigues de Souza durante um incêndio acidentalmente com um candeeiro.

Após a perda dos pais, ela se mudou-se para Recife para morar com a avó materna, Silvina Maria da Conceição de Paula Rodrigues, a Dindinha. Embora analfabeta, sua avó, possibilitou boa educação aos netos. Daí Auta ter contado com professores particulares. Estudou no Colégio Vicente de Paula até aos 14 anos, quando descobriu que foi acometida pela tuberculose, tendo que interromper os estudos no colégio. Com a saúde precária, ela voltou para o Rio Grande do Norte e na perspectiva de encontrar um lugar com bons ares na luta para vencer a doença. Viveu em várias localidades, como Angicos, Nova Cruz e Serra de Raiz, no Estado da Paraíba.

A luta para ser poeta

Embora impossibilitada de frequentar a escola, prosseguiu à sua formação como escritora autodidata, que principiou aos 16 anos. Foi uma escritora do século XIX, período em que a formação tanto familiar quanto a escolar era pautada nos valores da sociedade patriarcal, ou seja, estabelecia um espaço reducionista à mulher, ser esposa ou ser freira. E a imprensa da época não tratava a mulher de maneira diferente, isto é, ignorava as mulheres escritoras. Portanto, para uma mulher afrodescentende, o sofrimento era dobrado, contudo, ela conseguiu romper quando aceita pela imprensa, tornando-se uma pequena representação de mulher negra escritora, escrevendo como profissional numa sociedade onde ser escritor era uma profissão quase que exclusivamente masculina. Nas rodas literárias despertou interesse e foi reconhecida tanto como poeta norte-rio-grandense, quanto em todo Brasil.

A consolidação do nome

Mediante de tal reconhecimento aos 18 anos, passou a escrever para a revista Oásis. O seu caminhar como escritora avança. Com 20 anos colaborava com o jornal de maior circulação, A República, que lhe deu visibilidade, projetando-a para a imprensa de outras regiões. E isso se consolida com a publicação de seus poemas no jornal O Paiz, do Rio de Janeiro. O sucesso continua e ela passou a escrever assiduamente para o jornal A Tribuna, de Natal. Os seus versos foram publicados junto com outros vários escritores famosos do Nordeste.

Vida adulta e o adeus

Auta namorou durante um ano com João Leopoldo da Silva Loureiro, promotor público de Macaíba, mas foi pressionada pelos irmãos a por fim ao romance, devido ao seu crítico estado de saúde. Vindo a falecer aos 24 anos em decorrência da tuberculose, pouco tempo depois da separação no dia 07 de fevereiro de 1901, na cidade de Natal.

Mulher negra em uma idade tenra viveu a perda de seus pais, do avô e seu irmão. E a frustração de ter que desistir da sua relação amorosa e perdeu a vida precocemente devido a tuberculose, nos deixa o legado da resistência na luta pela vida por meio das suas obras.

 

 

 

 

*Maria de Fátima Oliveira Batista é Professora das redes públicas de ensino de Pernambuco e do Recife e colaboradora do Blog Dellas.

 


Fotos-Divulgação-Acervo (1990).

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