Protagonismo das 1.as damas anima Janja a dar palavras de ordem a militantes do PT
O protagonismo das primeiras-damas do Brasil nos anos recentes surgiu com Dom Ruth Cardoso. Esposa do ex-presidente Fernando Henrique, antropóloga e professora universitária mas avessa ao exibicionismo nas mídias, Dona Ruth é até hoje respeitada como a figura pública que, por sua sensibilidade social, criou as políticas sociais que até hoje são referência nacional como o Programa Comunidade Solidária no qual foram gerados o bolsa-família, o primeiro programa de distribuição direta de renda no país, e vários outros benefícios. Avessa ao assistencialismo ela “queria que as pessoas exercessem seus papéis na sociedade com autonomia e reivindicando seus direitos”- falou recentemente FHC.
Depois de Fernando Henrique, sob o Governo Lula, D. Marisa acompanhava muito o marido em atos oficiais mas não exercia um papel público de destaque. Sob Dilma Rousseff a própria mulher ocupou a presidência. Já na era Michel Temer, sua esposa, Marcela, era extremamente discreta e foi apenas conhecida como embaixadora do Programa Criança Feliz, lançado pelo marido. Com Michelle Bolsonaro a primeira-dama ganhou relevância logo na posse do marido, vindo a discursar. No final do mandato de Bolsonaro fez mais: foi às ruas, promoveu cultos e encontros com mulheres evangélicas e se revelou uma importante oradora pelo seu público. Com isso acabou sendo cotada para candidata a presidente depois que o esposo se tornou inelegível. Michelle foi catapultada pelos bolsonaristas nas redes, que ampliaram seu discurso e usaram-no como palavras de ordem.
A atual esposa do presidente Lula, a primeira-dama Rosangela da Silva, a Janja, formada em ciências sociais, foi e ainda é o contraponto da esquerda a Michelle Bolsonaro. Afoita, tem forte influência no Governo, o que vem provocando uma enorme ciumeira na cúpula petista, e transformou-se, nas redes sociais, em animadora das bases petistas. Janja desbancou o deputado federal José Janones, que exercia esse papel, e esta terça-feira mostrou a que veio: tão logo começou o Apagão energético postou uma simples frase: “a Eletrobrás foi privatizada em 2022”, passando aos petistas um discurso que todos encamparam de que a privatização da estatal era responsável pelo acidente, brecando críticas da oposição ao Governo no primeiro momento. Até o ministro Alexandre Silveira aumentou as especulações declarando, ao ser questionado pela imprensa, que foi contra a privatização quando ninguém o teria inquirido sobre isso.
Pernas curtas
Ficou claro que Janja, como boa marqueteira, fez seu papel e, no primeiro momento, o Governo fugiu da avalanche de críticas espalhadas pelo país. Esta quarta-feira, porém, como já era esperado, o que falaram especialistas e até de autoridades federais foi que ocorreu um problema na rede de distribuição da Eletrobrás nada tendo a ver com privatização mas por fatores técnicos ainda em análise. A primeira-dama agiu por iniciativa própria ou por inspiração da assessoria do seu partido? É difícil saber mas sua postagem teve efeito sim e muito.
Governo avançou na busca por maior controle do conselho
Chamar atenção para a privatização teve outro efeito , além de reduzir as críticas ao que já está se chamando nos corredores do Congresso de “apagão do PT”, foi o de ampliar a luta do Governo pela conquista de mais vagas no Conselho da Eletrobrás. Por “coincidência”, na tarde desta quarta-feira a Procuradoria Geral da República se pronunciou favorável à tese de que a União ocupe mais quatro vagas no colegiado, passando a ter mais influência na ex-estatal, hoje privatizada.
No colo de Bolsonaro
O advogado do coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, César Bittencourt deixou a entender em entrevista à CNN que o seu cliente está sendo injustiçado e que “apenas cumpriu ordens”, adiantando: “militar cumpre ordens”. Bittencourt levantou com isso a hipótese de que Mauro Cid acabe por revelar quem o mandou vender as jóias, acusando o seu chefe, o próprio ex-presidente, ou buscando encaminhar as investigações para esse campo.
Pergunta que não quer calar: afinal, quem mandou Mauro Cid vender as jóias e Wassef recomprar o Rolex nos Estados Unidos?
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