Prisão de ex-ministro desgasta

Bolsonaro e evangélicos

No ano passado, em conversa reservada, quando falava da sua resistência a que padres se candidatassem a cargos públicos, um bispo nordestino adiantou : “vocês vão ver os evangélicos se arrependerem de terem colocado a política dentro das igrejas e incentivarem pastores a se candidatar”. Não durou muito tempo e esta quarta-feira a Polícia Federal prendeu preventivamente o ex-ministro da educação, o pastor Milton  Ribeiro, que é alvo de investigação sobre esquema de corrupção na pasta, por suposto conluio com o pastor Gilmar Santos, presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros da Assembléia de Deus – uma das denominações evangélicas mais numerosas do país – e o pastor Arilton Moura, assessor de assuntos políticos da Assembléia.

A prisão de Milton, sobre quem o presidente Bolsonaro tinha dito que colocava “a cara no fogo”, gerou pânico entre os bolsonaristas – há uma gravação em que ele diz que teria recebido os pastores para levar demandas de prefeitos, a pedido do presidente – e na bancada evangélica, que seria beneficiada com o esquema. O grupo é acusado de prevaricação, corrupção passiva e tráfico de influência ao fazer a liberação de verbas para prefeitos alinhados com os evangélicos, em troca de propinas. Constatou-se que Milton tenha recebido Gilmar e Arilton em seu gabinete 22 vezes. Numa dessas vezes teria autorizado a liberação de R$ 5 milhões para a construção de uma escola no Maranhão apenas 20 dias depois do pedido oficial da prefeita Marlene Miranda (outros casos semelhantes duram anos para serem resolvidos).Outros 40 municípios teriam sido beneficiados.

Com a mão no fogo, que já queimou Bolsonaro: “se ele fez algo que responda por seus atos”, disse o presidente, ao saber da prisão, bolsonaristas evangélicos como Silas Malafaia,  deputado federal Marcos Feliciano e o líder da bancada evangélica na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante, defenderam Bolsonaro dizendo que Milton tinha sido demitido no começo do ano     (isto aconteceu depois que o escândalo estourou) e tiraram o corpo fora: “ele não representa os evangélicos e nem foi indicado pela bancada” disse Cavalcante. Nada falaram sobre os dois outros pastores, acusados de lobby.

Com a mão na cumbuca

A partir de agora o presidente vai ter dificuldade de continuar dizendo que não há corrupção em seu governo. A senadora Simone Tebet já disparou : “a máscara começa a cair”.  Quanto aos evangélicos, correm o risco de não eleger mais as bancadas volumosas que crescem, ano a ano, na Câmara Federal. Hoje são  84 os deputados evangélicos filiados a partidos que vão do PL ao PT. Esses parlamentares costumam ter muitos votos provenientes de fiéis aguerridos e incentivados por pastores nos estados e, por isso, ampliam cada vez o espaço não só no governo federal, como nos estaduais e municipais. Aqui em Pernambuco, pela primeira vez, eles têm este ano um candidato a governador – Anderson Ferreira (PL) – mas todos os demais candidatos, inclusive católicos,  já posaram em cultos, com receio de admoestação.

Centrão faz parte

Em Brasília, os parlamentares evangélicos são classificados como “núcleo mais estruturado e coeso do Centrão” (grupo de deputados conservadores e que são altamente beneficiados pelas chamadas emendas parlamentares, inclusive do orçamento secreto). Em vista disso, o ex-ministro Abraham Wentraub, que acusa o presidente de tê-lo afastado do cargo para entregar o MEC ao grupo, afirmou em suas redes sociais, logo após a prisão :“infelizmente este é o resumo do pacto firmado pelo presidente com o Centrão”.

Arma no Aeroporto

O ex-ministro Milton Ribeiro protagonizou um grande vexame em abril no Aeroporto de Brasília quando uma arma que levava consigo disparou no balcão da Gol e quebrou um vidro cujos estilhaços feririam uma funcionária da companhia aérea. Normalmente quem tem porte de arma tem que descarregar a arma em casa e leva-la separada das balas para a Polícia Federal no Aeroporto para liberação. Ribeiro deixou o objeto cair de sua mala de mão sobre a bancada de despachos da Gol, causando um grande reboliço. Tudo que não precisava uma pessoa que saíra do Governo após denúncias de corrupção. Essa é a personagem em pauta.

Presidente pode ser envolvido?

O que mais se discutiu ontem nos meios políticos e jurídicos foi a possibilidade de Bolsonaro vir a ser envolvido no caso do seu ex-ministro da educação. A única prova contra ele seria o áudio de Milton Ribeiro ou algo que ele possa vir  adeclarar ou mostrar, agora que está preso. Juristas explicaram, porém, que cabe ao Ministério Público, se for o caso, pedir a inclusão de Bolsonaro nas investigações mas para isso precisa antes conseguir o “aprovo” do Procurador-geral  da República, Augusto Aras, que foi nomeado pelo atual presidente.

Serra Talhada no foco

Dois dias depois que a pré-candidata a governadora Marília Arraes (SOL) fez um grande ato em Serra Talhada para apresentar sua chapa majoritária e garantir a vice para o deputado federal Sebastião Oliveira, nascido no município, esta terça foi a vez do pré-candidato Danilo Cabral e da pré-candidata ao senado Teresa Leitão participarem de outro grande ato, no município, comandado pela prefeita Márcia Conrado, do PT, que apoia a dupla. O candidato a deputado estadual de Márcia, no entanto, é o ex-prefeito e seu mentor Luciano Duque, que apoia Marília.

Foto: Divulgação

 

E-mail: terezinhanunescosta@gmail.com

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