Precisamos conversar sobre câncer de pulmão – Por Wolfgang Aguiar*

 

A humanidade busca viver mais desde os primórdios de sua existência. Aplacadas as necessidades básicas de sobrevivência, o tema torna-se dos principais objetivos e sonhos de nossa espécie. Chegaram aos nossos dias as inúmeras histórias sobre a incessante procura da fonte da juventude e do Santo Graal; grande parte de nossas histórias de ficção científica reeditam esse desejo das formas mais fantásticas possíveis.

Ao longo do último século, observamos a tecnologia nos permitir viver mais de uma forma nunca antes imaginada e pudemos entender que a questão não era apenas viver mais tempo, mas manter a qualidade dessa vida durante esses anos adicionais.


Estamos prestes a observar outra virada de chave da história de nossa espécie. Em alguns anos, as doenças cardiovasculares deixarão de representar o principal ceifador de vidas humanas; o bastão está sendo passado para as doenças oncológicas, os cânceres. Essa transição será um desafio em várias frentes: desde a necessidade de capilarização da informação de qualidade aos custos para os sistemas de saúde ao redor de todo o mundo.

Há algum tempo, estamos tentando levar conscientização sobre saúde a população pernambucana, seja em escolas ou empresas. Nesse verdadeiro trabalho de formiguinha, sempre incluo a pauta câncer de pulmão – combate ao tabagismo e diagnóstico precoce. Nunca deixo de me surpreender ao perguntar quem já tinha ouvido falar em rastreamento de câncer de pulmão e não ver nenhum braço levantado, ou ainda, ser confrontado com o questionamento: se a questão é tão relevante, porque não vemos os médicos e as pessoas discutirem o tema…

Recentemente perdemos Rita Lee. Para quem se inteirou um pouco da história ou leu alguma de suas biografias, fica evidente a perda de oportunidade para diagnosticar precocemente o câncer de pulmão que findou com sua carreira e sua vida depois de 2 anos das melhores alternativas de tratamento que a humanidade tem em mãos nos dias atuais. Os especialistas em pulmão já estamos cansados de discutir os benefícios de rastrear os pacientes de risco e tratar precocemente os tumores diagnosticados. No entanto, o desconhecimento entre a comunidade médica e a sociedade civil organizada assusta e nos força a novas estratégias para levar essas informações mais longe.

Câncer de pulmão é uma pauta urgente, não apenas do ponto de vista individual de quem enfrentará o câncer que mais mata no mundo, mas também para toda a sociedade que, de uma forma ou de outra, acaba pagando pelo tratamento, cada vez mais oneroso, dos pacientes com doença avançada.

*Dr. Wolfgang Aguiar nasceu em Porto Alegre. Mudou-se para o Recife em 2012. É membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica e do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Integra o European Society of Thoracic Surgeons , Chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Universitário Oswaldo Cruz , Chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital das Clínicas da UFPE , Sócio-fundador do Serviço de Cirurgia Torácica de Recife .Texto colaboração / Blogdellas.

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