Pendurados no pincel, Danilo, Raquel, Miguel e Anderson travam luta crucial

 

 

A não ser que algo inesperado venha a acontecer até o dia 02 de outubro, a candidata Marília Arraes, do Solidariedade, estará no segundo turno. Mas a pesquisa do IPEC/Rede Globo desta quarta-feira expôs, de forma dramática, a situação dos demais candidatos que vinham empatados tecnicamente em segundo lugar. Agora o empate também numérico – cada um tem 11% – demonstra que qualquer deslize de um deles, sobretudo na propaganda eletrônica ou nos debates, será crucial e capaz de sepultar, por enquanto, o sonho de governar Pernambuco.

No jargão político costuma-se dizer nos momentos mais tensos das campanhas, que os candidatos “dormem a base de Rivotril” (um calmante conhecido), como comentava ontem um deputado estadual da Frente Popular, ao mesmo tempo em que observava com perplexidade o que jamais imaginava que viesse acontecer: o PSB ter perdido o primeiro lugar na disputa, o que não ocorria há 16 anos, e estar no mesmo pé de igualdade com os demais concorrentes em busca do segundo lugar. Na verdade, a eleição estadual deste ano vai ficar na história, como já admitem analistas políticos. É o primeiro caso conhecido no Brasil de cinco candidatos fortes disputando e ainda mais empatados numericamente.

Não parece haver outra explicação para isso, além do desgaste do PSB: a força de dois candidatos de base política interiorana, Miguel Coelho e Raquel Lyra, com administrações exitosas em seus municípios e com poder de barrar a entrada em seus redutos de candidatos metropolitanos. Marília tem hoje um grande percentual de votos no agreste e no sertão, mas parece ter esgotado a quota socialista. Danilo não está conseguindo penetrar nessas áreas, nem mesmo com a força dos 120 prefeitos que o apoiam. Tem que enfrentar ainda os residentes no Recife que são naturais das duas regiões e costumam votar, pelo menos para deputado, como os parentes do interior. Agora têm candidato a governador também.

Marília também não dorme tranquila

Mesmo em folgado primeiro lugar, Marília Arraes (SD) perdeu cinco pontos em uma semana, na pesquisa IPEC, e vai precisar “pisar em ovos” nos próximos dias. Não tem tempo na TV para revidar os ataques que vem sofrendo e a ausência nos debates, sobretudo a partir de agora, quando devem ter grande audiência, vai fazer seus eleitores desconfiarem de que tem algo a esconder ou receio de enfrentar os concorrentes. O fato de ser mulher tem pesado a seu favor, bem como a rebeldia e o parentesco com o avô, mas dificilmente contará com o apoio de dissidentes socialistas, como esperava, agora que Danilo reagiu e está no jogo.

Danilo entre a cruz e a espada

O fato de ter alcançado os demais concorrentes deu um fôlego a Danilo Cabral (PSB). Não deve perder tantos aliados, como estava previsto, e vai poder sustentar a estratégia de comandar uma grande mobilização de apoiadores em todo o estado até o dia 02. O ex-presidente Lula não vai voltar ao estado, mas gravou um vídeo com ele e Teresa Leitão que pode ainda mexer com os lulistas indecisos. Além disso ele vai precisar tentar desgastar os concorrentes na TV só que agora, ao contrário de outras eleições, se bater em um candidato como Marília, por exemplo, os votos dela podem migrar para Raquel ou Miguel, jamais para ele próprio. Qualquer deslize, ele tira de Marilia, mas engorda um concorrente.

Pouco tempo de TV é desafio de Raquel

Mulher e boa administradora, Raquel Lyra (PSDB) vinha dando sinais de que permaneceria no segundo lugar numérico até a eleição, mas a pesquisa do IPEC lhe subtraiu 2 pontos percentuais, o que pode ser explicado pelo pouco tempo que ela tem na TV, único meio em que 52% dos eleitores declaram estar se informando sobre o pleito. Pode se beneficiar com o voto de classe média metropolitano, onde sua vice Priscila Krause tem força, ou com votos que Danilo tirar de Marília. Ainda dá tempo.

Miguel beneficiado pela TV

O candidato Miguel Coelho (União Brasil) conseguiu na TV, em uma semana, ampliar em 3 pontos suas intenções de voto, empatando com os demais quando se imaginava que poderia ficar fora do jogo. Além do segundo maior tempo o seu discurso televisivo está sendo considerado perfeito por analistas. Tem sabido aproveitar sua experiência em Petrolina para dar credibilidade ao projeto metropolitano e exibe um vídeo que o compara com os demais concorrentes, sem agressividade. Nesta reta final pode ganhar apoio dos conservadores que não estiverem com Anderson e com o trunfo de um vídeo em que Mendonça Filho, com influência no Recife, pede votos para ele.

Anderson sabe casar voto com Bolsonaro

O ex-prefeito de Jaboatão, Anderson Ferreira (PL), tem se beneficiado como ninguém do apoio do presidente Bolsonaro que está batendo recorde de presença em Pernambuco. Já veio três vezes fazer comícios e motociatas em que pede votos para ele e para o candidato ao Senado, Gilson Machado. Semana que vem o presidente deve repetir a dose. O candidato está, porém, sendo vítima de mensagens na Internet e no zap de conservadores criticando a ida de um irmão dele, o deputado federal André Ferreira, a um ato em Gravatá em que o prefeito do município, que apoia André, pediu votos para Lula. Se Anderson conseguisse fechar o apoio de todos os bolsonaristas já estaria no segundo turno.

Pergunta que não quer calar: o PSB pode não estar no segundo turno, depois de ter vencido eleições durante 16 anos?

 

E-mail: terezinhanunescosta@gmail.com

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