Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas
Chama-se storytelling e poucos profissionais sabem desenvolver essa arte tão bem.
E o diretor Tim Burton sabe realmente como fazer. Talvez seu filme “Peixe Grande e Suas Histórias” seja, entre toda sua obra, o mais incompreendido. Não alcançou o total sucesso entre o público mundo afora que deveria. E merecia. É, sem dúvida, genial.
O filme chegou ao Brasil em fevereiro passado e já está disponível na Prime Vídeo. Trata dos últimos momentos de vida de Edward Bloom, que o excelente ator Albert Finney incorpora magnificamente como um grande contador de histórias. Bloom é um homem gentil, que sempre prezou pelo melhor para sua grande família, ainda que a inquietasse com suas intermináveis histórias, vistas como mirabolantes, cuja narração se estendeu até em seu leito de morte.
Quem não tem no núcleo familiar ou por perto aquela pessoa amada que repete histórias, piadas? Tio, primo, irmão? E por afeto a gente lá está, nas reuniões comemorativas, almoços de fim de semana, a escutar, mais uma vez, narrativas repetidas e ainda oferece gargalhadas para agradar. “Peixe Grande e Suas Histórias” nos ensina que estamos corretos com essa prática de ouvir, sem reclamar, aplaudir e incentivar tal mania. Precisamos, muitas vezes, ser a plateia, sim, dos nossos mais próximos.
No filme, Will (Billy Crudup), o único filho de Bloom, inicialmente não pensa assim. Se põe na posição reativa. Ele se posiciona e rebate aquele pai, exigindo saber das histórias verdadeiras, para conseguir finalmente traçar uma linha entre a ilusão e a realidade e destituir a “realidade do pai”. É um embate, na verdade, onde o filho segue desconstruindo verdades que ele não acredita. Ed reconta sua história de forma extremamente envolvente, que se mescla com o tempo atual do filme, incluindo sua luta contra uma fraqueza que se espalha de modo gradativo por seu corpo e indica que ele está prestes a partir.
Como última aventura, a busca em “fazer as pazes” com o filho. E o filho lança mão da mesma história já contada sobre a complicada trajetória do seu nascimento, nem um pouco convencional. Aqui o filme nos oferece realismo fantástico, com sequências engraçadas, lúdicas.
De certo modo, podemos analisar ‘Peixe Grande’ diferentemente igual da extensão da própria vida humana, um mergulho em um mundo totalmente único, no qual criamos sonhos que nos acalantam vida afora. Será?
Mas ao longo da narrativa, poderíamos dizer figurativamente que o filho de Bloom cresce. Amadurece. As cenas, as estórias que vão surgindo ao longo da produção movem-se seguindo um estilo lento por demais. Mas deixando a gente a querer mais.
O filme termina nos trazendo constatações inevitáveis. Que filme! Veja. Assistam. Reflitam.
Da Redação Blogdellas – Foto: Reprodução
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