Opinião

Pandemia diminui mercado de trabalho para mulheres

*Tânia Bacelar

 

Em conjuntura marcada por uma pandemia, o estudo do DIEESE para 2020 e 2021, publicado no “Boletim Especial de 8 de Março” último, evidencia um forte impacto negativo no contingente de trabalhadoras brasileiras, com sobrecarga de responsabilidades e atividades que o isolamento social gerou, sobretudo para mães das camadas populares com filhos fora da escola e, também, para trabalhadoras qualificadas atuando em home office e tendo que conciliar a atividade profissional com as atividades domésticas.

 

Dois indicadores atestam o impacto para grande parte das mulheres nos tempos de pandemia: a) o desalento – que coloca a pessoa fora da força de trabalho depois de ter insistido em procurar emprego e b) a taxa de participação – que indica quem conseguiu trabalhar.

 

O desalento feminino no final do segundo ano da pandemia tinha aumentado 7% (passando de 39.553 para 42.395 pessoas) e quase metade das desalentadas buscava trabalho há mais de um ano. Já a taxa de participação na vida ativa declinou, passando de 54,6% para 52,3%, enquanto entre os homens a queda foi menos acentuada (de 73,6% para 72,2%).Esses movimentos conjunturais se inscrevem em ambiente de desigualdades estruturais herdadas que marcam o Brasil e atingem especialmente as mulheres, sobretudo as negras. Tanto que, apesar dos avanços nas décadas recentes, em especial o investimento firme na qualificação, a desigualdade ainda marca a presença feminina no mercado de trabalho brasileiro.

 

O investimento em educação resulta em conquista evidente, confirmada pelo diferencial positivo consolidado: na população brasileira com 25 anos ou mais, no início da década passada, 14% das mulheres e apenas 11% dos homens tinham nível superior. No começo da atual década o diferencial favorável à população feminina havia se ampliado: 19,5% das mulheres e apenas 15,1% dos homens eram portadores de um diploma universitário. E em outros níveis de ensino, o esforço foi na mesma direção: favorável às mulheres. No entanto, o mercado de trabalho não referenda este diferencial positivo, segundo dados da PNAD continua divulgado pelo IBGE para o terceiro trimestre de 2021. Em todos os indicadores relevantes, as mulheres estão em nítida desvantagem, em especial as mulheres negras, como mostram os dados a seguir.

 


No que se refere aos rendimentos, o hiato se confirma, visto que recebido em termos pelos homens que alcançou R$ 2.599,00 enquanto o das mulheres foi de 80% menor, ou seja, de R$ 2.078,00. E mesmo nas ocupações típicas do nível superior, o diferencial persiste, com o valor da hora trabalhada sendo pago a R$ 44,41 aos homens e apenas R$ 31,41 às mulheres (71% do valor médio pago aos homens).Como estamos vivendo março, o Mês Internacional da Mulher”, vale lembrar as conquistas, mas alertar para a importância de manter ativa a atuação contra as desigualdades sociais flagrantes no Brasil, em particular as de gênero e de raça, heranças pesadas em nossa sociedade.

 

*Tânia Bacelar é Doutora em Economia, socióloga e colaboradora do Blog Dellas.

 

Foto ilustração: Tânia Bacelar – (Crédito Gabriel Novaes).

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