Os desafios de Raquel e Marília para fugir da rejeição neste segundo turno

 

É voz comum na política que, em uma eleição de dois turnos, o eleitor escolhe no primeiro o candidato do seu coração e, no segundo, vota contra o pior, ou seja, o mais rejeitado. Levando isso ao pé da letra, como a candidata Marília Arraes passou para o segundo turno como a primeira em rejeição entre os cinco principais candidatos, enquanto Raquel Lyra foi a menos rejeitada, o natural era que agora a ex-prefeita de Caruaru vencesse Marília, considerando o grau de rejeição da oponente.

Mas, ao mesmo tempo em que o menos rejeitado sai vencedor no segundo turno, também é normal se dizer que o segundo turno “é uma outra eleição”, dependendo das condições criadas em torno dos dois concorrentes. Neste quesito, até agora, em que pese o apoio do ex-presidente Lula e do PT, que lhe deu um novo gás, Marília corre um sério risco: o de herdar, junto com tudo isso, a rejeição ao PSB que inviabilizou a eleição de Danilo. Gatos escaldados, os socialistas sabem disso, tanto que jogaram nas costas de Lula a definição, prometendo a apoiar quem ele indicasse.

Com um olho no padre e outro na missa, o PSB não iria naturalmente para o palanque da candidata do Solidariedade, no máximo declararia neutralidade, esperando que os filiados tomassem o rumo desejado. Mas nem sempre as coisas saem como o planejado e agora estarão inexoravelmente agarrados com Marília, Lula e o PT no “seja o que Deus quiser”, como diz a linguagem popular. As redes sociais, que não deixam por menos, já espelhavam na noite desta sexta-feira postagens de Marília com Paulo Câmara, tentando colar nela a rejeição ao governador. Não vai ser fácil.

Raquel também tem desafio

No quesito rejeição a candidata Raquel Lyra também corre risco. Pernambuco, terra de Lula, estado que lhe deu mais de 60% dos votos, pode não enxergar bem o apoio dos bolsonaristas a Raquel, caso isso venha a ocorrer. O desafio da ex-prefeita de Caruaru é receber esses votos sem carregar junto a rejeição. Mesmo tendo tido no estado mais votos do que os tucanos que enfrentaram o PT em outras eleições, o presidente pode tirar mais votos do que acrescentar ao capital político da candidata do PSDB. Enlutada, ela tem evitado se pronunciar, mas o tempo urge e isso deve ocorrer na próxima semana quando, finalmente, os palanques vão estar montados.

Diogo Moraes vai recorrer

O deputado estadual Diogo Moraes, do PSB, que corre o risco de perder o mandato conquistado no último dia 2 após o TRE reconhecer como legítima a candidatura do ex-prefeito do Cabo, Lula Cabral, que estava impugnado, distribuiu nota ontem informando que vai continuar lutando na justiça pois a decisão a favor de Lula é passível de modificação no TSE ou mesmo no Tribunal de Justiça de Pernambuco. Na verdade, a decisão do TRE teve como base uma liminar do TJ tornando sem efeito a rejeição das contas do ex-prefeito pela Câmara de Vereadores que havia provocado a impugnação. Nos dois casos o prejudicado pode recorrer.

Posição dos partidos

Os partidos políticos devem definir até a próxima semana o caminho que vão seguir na eleição deste segundo turno. Por enquanto, Raquel tem o apoio do PSDB, Cidadania, MDB, Podemos e de grande parte do União Brasil. Marília conta com o Solidariedade, PSD, Avante, Republicanos, PSOL, PDT, PT e, por tabela, do PSB. As legendas indefinidas são PP, PV, Rede e PL.

Solidariede sem cláusula de barreira

A candidata Marília Arraes pode enfrentar dificuldades no seu novo partido, o Solidariedade. Como não atingiu a cláusula de barreira na eleição deste ano, tendo tido, nacionalmente, menos votos do que o exigido na eleição de deputados federais, o Solidariedade perde direito ao horário eleitoral gratuito e ao fundo partidário a partir de 2023. O natural será os deputados eleitos migrarem para outra legenda. No caso de Marília e de sua irmã Maria Arraes, eleita federal, a opção pode ser o regresso ao PT, de onde saíram para se candidatar.

Lula e Bolsonaro no “ora veja”

Com a divulgação das primeiras pesquisas nacionais de segundo turno – as de Pernambuco vão sair na próxima terça – a distância entre Lula e Bolsonaro está variando entre 5 a 10% das intenções de voto. Analistas acreditam que o presidente está em melhor situação do que quando terminou o primeiro turno pelo volume de apoios que recebeu, logo após o fechamento das urnas, de governadores eleitos no Sudeste. Em São Paulo, por exemplo, a pesquisa Datafolha de ontem mostrou o presidente com 46% das intenções de voto e Lula com 44%. Na pesquisa para governador o bolsonarista Tarcisio de Freitas está 10 pontos na frente de Fernando Haddad, do PT.

Pergunta que não quer calar: Lula vai ter mais influência no voto para governador neste segundo turno do que teve no primeiro, quando não conseguiu eleger Danilo Cabral?

E-mail terezinhanunescosta@gmail.com

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