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Oftalmologista pernambucana devolve a autoestima de pacientes com deficiência visual

Sem medo do espelho, seu João reencontra a própria identidade após cirurgia pioneira na região

Dez dias após realizar a tatuagem ocular, seu João Alfredo Barros, 66 anos, voltou ao consultório para a primeira consulta pós-cirúrgica no Hospital Santa Luzia. O procedimento, conduzido pela oftalmologista Manuela Tenório, devolveu ao olho esquerdo do paciente a mesma tonalidade castanha do olho direito, eliminando o contraste que o fazia usar óculos escuros por insegurança.

“A minha cirurgia foi maravilhosa para mim. Eu já estou me sentindo outro João, com a autoestima lá em cima, graças a Deus. Eu só tenho muito que agradecer primeiramente a Deus, que foi ele que me enviou à doutora Manuela para fazer essa bênção na minha visão”, afirmou seu João, o terceiro paciente operado pela oftalmologista.

Paciente antes e depois da correção ocular

Os dois se conheceram no prédio onde a médica mora, no bairro dos Aflitos. Ele trabalha como porteiro e reside em Moreno. Seu João perdeu a visão do olho esquerdo em 2009, após uma conjuntivite e outras complicações.

Depois disso, passou a se esconder por trás de um óculos escuro, do qual, agora, não dependerá mais. Foram 15 anos de dependência em relação aos óculos.

A oftalmologista percebeu seu desconforto e decidiu ajudá-lo. Foi inspirada nele que a médica aprendeu a fazer a tatuagem ocular com os melhores profissionais do Brasil. O procedimento, conhecido como ceratopigmentação, é indicado para pacientes que perderam a visão e desejam restaurar a aparência natural dos olhos.

O resgate da autoestima pela ciência

Segundo Dra. Manuela Tenório, a técnica consiste em preparar a superfície ocular, removendo tecidos e cauterizando vasos, para então realizar a pigmentação com uma caneta automatizada.

“Realizamos o preparo da superfície ocular para receber o pigmento, removendo epitélio, cauterizando vasos, removendo tecidos que foram se formando ao longo dos anos. Após essa primeira etapa, manipulamos o pigmento com o tom mais próximo ao olho contralateral e realizamos a pigmentação com uma caneta automatizada fazendo microperfurações”, detalhou a médica.

A técnica, aprimorada no Brasil por especialistas como o Dr. Alexandre Costa e o Dr. Giovani Garotti, tem se mostrado eficaz na reabilitação estética de pacientes que perderam a visão. Foi justamente com os dois que a oftalmologista Manuela Tenório se especializou, trazendo posteriormente a técnica para o Estado de Pernambuco.

“Eles (os médicos) têm feito a diferença na vida de muitas pessoas, resgatando a autoestima e reinserindo-as na sociedade”, disse Dra. Manuela.

O encontro com o espelho

Na consulta de retorno, o paciente olhou-se no espelho e relembrou a emoção de se reconhecer novamente.
“Eu perguntei à senhora se eu podia chorar, eu chorei. Porque a primeira vez que eu me vi no espelho, eu me senti muito emocionado, como se tivesse uma vitória que era muito desejada em minha vida”, disse. “Eu não tenho palavras para agradecer à doutora Manuela e ao Hospital Santa Luzia”.

O momento diante do espelho foi marcante. Seu João observou atentamente seu reflexo, tocou o rosto e levou as mãos aos olhos, como se quisesse sentir a mudança. “Eu só fui alegria, entendeu? Felicidade que eu senti, entendeu? Aquela baixa estima que eu tinha desapareceu. Graças a Deus”, relatou. A transformação representava mais do que um aspecto estético; era um resgate da confiança e da identidade, que, por anos, ele sentiu ter perdido.

O impacto da cirurgia na vida do paciente já é perceptível. “Aquela baixa estima que eu tinha dentro da minha casa, no meu banheiro, na rua, entendeu? Eu me escondia por trás de óculos escuros. As pessoas já me tratam um pouco diferente, entendeu? Realmente essa cirurgia fez toda a diferença em minha vida”.

A transformação também gerou repercussão entre amigos e vizinhos. “O meu vizinho, o Sr. Geraldo, que esteve aqui ontem com a esposa dele, disse: ‘Foi maravilhosa’. Perguntou a mim qual foi o hospital e qual foi a médica. Eu até chorei”, relatou emocionado.

O procedimento tem ganhado popularidade entre oftalmologistas brasileiros e pode se tornar cada vez mais acessível. “Acredito que será um procedimento mais comum à medida que mais médicos tiverem esse conhecimento”, afirmou a oftalmologista.

A médica também destacou os desafios técnicos envolvidos. “O maior risco é a perfuração ocular. O exame cuidadoso no pré-operatório e o conhecimento a respeito do que levou à perda visual nos preparam para possíveis complicações pré e pós-operatórias”.

A companheira chamada confiança

O procedimento de seu João não trará de volta a visão perdida, mas devolverá algo essencial: a confiança. “A cirurgia não melhora a acuidade visual. O objetivo é devolver a autoestima e permitir que ele se sinta confortável sem precisar esconder o olhar”, disse a médica.
A oftalmologista Manuela Tenório acredita que a ceratopigmentação tem um grande potencial para melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas. “Ouvi uma vez um paciente dizer que o olho branco era algo superado até a chegada dos netos: ‘eles têm medo de mim’. Fazer parte dessa virada não tem preço”.

Opção para olhos sem prognóstico visual

No Brasil, a ceratopigmentação é permitida apenas para olhos sem prognóstico visual. Nos Estados Unidos e na Espanha, a técnica também é utilizada para mudar a cor dos olhos saudáveis, mas essa prática ainda não foi regulamentada no país.

“O procedimento precisa ser bem indicado. É importante alinhar as expectativas do paciente, avaliar o quadro clínico e garantir que não haja doenças ativas”, explicou Dra. Manuela.

A médica pretende expandir o acesso ao procedimento. “Estou muito entusiasmada. Quero fazer parte da transformação de muitas pessoas, se Deus permitir”.

Seu João também faz planos para o futuro. “Sobre o apoio da doutora Manuela, para mim foi tudo. Deus no céu e ela aqui na terra”. Agora, sem os óculos escuros, ele encara a nova fase da vida com confiança renovada.

Redação com assessoria Fotos: divulgação

e-mail: redacao@blogdellas.com.br

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