O sacrifício coletivo e o entulho que resulta da ingratidão

Texto de Igor Maciel do Jornal do Commercio
-Preservar a imagem e o legado de Jarbas, principalmente para os que foram beneficiados pelos sacrifícios que ele já fez precisa ser algo inegociável-
Jarbas Vasconcelos (MDB) representa um período de desenvolvimento do estado de Pernambuco difícil de ser repetido e que, exatamente por isso, precisa ser respeitado à última instância. As condições criadas para o salto econômico que o estado deu naquela época foram, em grande parte, fruto do ambiente político que o então governador criou para muitos que usufruíram desses espaços.
Muita gente aproveitou os frutos desse cenário proporcionado por ele para construir a própria carreira e não há nada de errado nisso, é bom que se diga. Desde que, em primeiro lugar, o respeito à matriz desse ambiente seja mantido.
Respeitar e preservar a imagem de Jarbas Vasconcelos deveria ser a prioridade número zero de qualquer um que tenha algum respeito por Pernambuco e principalmente alguém que já tenha ajuntado até mesmo um único tijolo sobre o terreno que o ex-governador proporcionou em sua trajetória como gestor e líder político.
Por essas e outras, o que está acontecendo no MDB de Pernambuco nos últimos dias por causa de uma disputa partidária interna é, no mínimo, repulsivo e abjeto. Digno de desprezo.
Coletivo
Jarbas, entre outras coisas, sempre foi capaz de se sacrificar para beneficiar aliados, assumindo prejuízos para sua própria vida se isso significasse a sobrevivência do coletivo.
Basta lembrar que depois de ser governador e senador, aceitou disputar uma das eleições mais perdidas de que já se teve notícia em Pernambuco, tentando vencer um Eduardo Campos que buscava a reeleição no Governo de Pernambuco, num momento em que o socialista tinha quase 80% de aprovação.
Poderia ter evitado um pleito que só serviu para lhe desgastar a imagem. E ainda assim aceitou a porrada que viria com a certeza de que estava cumprindo uma missão em nome do partido e do grupo de candidatos a deputado que, sem ele na cabeça, talvez nem tivesse conseguido uma cadeira no Congresso.
Câmara
Depois, na eleição de 2014, abriu mão de disputar uma reeleição ao Senado para ser candidato a deputado federal. Quem acompanhou os bastidores dessa época lembra os motivos para que o senador tomasse essa decisão. Não foi algo feito com alegria.
Para Jarbas, homem de discursos célebres entre os colegas de Casa Alta, ter que conviver no “mercado de muamba” em que se transforma a Câmara dos Deputados em alguns momentos era um sacrifício e isso durou quatro anos.
Houve dois motivos principais para a decisão de voltar a ser deputado. Um deles foi o resultado do sacrifício que já havia feito em 2010 na disputa pelo governo, quando saiu com a imagem arranhada. O outro motivo foi a aliança que precisou fazer com o PSB e com o antes adversário Eduardo Campos, mais uma vez para ajudar na sobrevivência política de integrantes do seu partido que, sem ele, estariam perdidos.
Lealdade
E tem outro episódio, que não é segredo nos bastidores da política pernambucana, mas diz respeito à lealdade de Jarbas em relação aos acordos que fazia. Nesta mesma eleição de 2014, depois de fechar uma aliança com Eduardo Campos, a tragédia com o avião do ex-governador do PSB poderia ter modificado toda a história.
O corpo ainda estava sendo velado quando um protagonista da política estadual procurou o emedebista com uma proposta: cortar Paulo Câmara da chapa e modificar o arranjo feito por Eduardo antes de morrer.
Jarbas considerou covardia e deslealdade imensa querer aproveitar o momento de dor do PSB, ficou indignado. Quem acompanhou na época diz que a discussão teve até tapa na mesa.
Jarbas não apenas negou a proposta como ameaçou e prometeu usar toda a sua influência para evitar que alguém tentasse lucrar com o momento doloroso que o PSB vivia. O posicionamento é fruto de uma integridade moral que não se encontra fácil por aí.
Funcionou e ninguém tocou mais no assunto.
Entulho
No dicionário jarbista, a ética e o respeito aos acordos sempre são maiores do que qualquer oportunidade pessoal, por saber que não se exerce a boa política sem sacrifício e sem se doar para o benefício coletivo antes de qualquer benesse privada.
É por isso que preservar a imagem e o legado de Jarbas, principalmente para os emedebistas, principalmente para os que foram beneficiados pelos sacrifícios que ele já fez deve ser algo inegociável e impossível de se corromper.
Não há presidência de partido, cargo público ou privado, não há interesse pessoal que possa ser colocado acima disso.
Tudo o que se tenta construir com o cimento da ingratidão e do oportunismo é corroído em sua própria natureza e tende a desabar, mas deixar marcas através dos escombros. O ex-governador, a essa altura da vida, não merece o entulho que resulta disso.
Redação com texto de Igor Maciel do Jornal do Commercio compartilhado em 05/04/2025 Foto: Gabriel Ferreira/ Jc Imagem
e-mail: redacao@blogdellas.com.br/terezinhanunescosta@gmail.com


Um comentário
Ana Lourdes Marques Maia
Perfeito. Nada que, mesmo de leve, arranhe a imagem do nosso grande homem público, Jarbas Vasconcelos, pode ser sequer pensado.
Os louros são e sempre serão dele.
Vamos ter respeito e consideração a este político exemplar.