O que vem depois do Me Too? – Por Mariliz Pereira Jorge*

 

Silêncio, vergonha, medo. Foram as palavras que mais li nos últimos dias para justificar a reação tímida de supostas vítimas dos supostos casos de assédio, que têm como protagonistas dois ministros de Estado e uma das maiores organizações feministas do mundo.

O Me Too teve papel decisivo ao ajudar centenas de mulheres a romper o silêncio sobre assédio e colocar o tema no centro do debate. O que vimos na última década foi a aprovação de leis, o aumento da consciência sobre violência, prisões e um enorme questionamento sobre os códigos vigentes do comportamento masculino. Apesar disso, parece faltar avanços na forma de enfrentamento.

Se o que ainda impera é vergonha e medo, mesmo entre mulheres inseridas nos movimentos, falhamos em algum capítulo do manual do empoderamento. Nós, feministas, e ONGs que abraçaram nossas causas não temos tido a capacidade de inspirar a reação necessária diante de violências. Não mudaremos as estatísticas com silêncio, mas com coragem. Viver com mais igualdade de gênero não garante que o mundo será mais seguro, apenas que teremos mais mecanismos para nos defender.

Ao contrário do discurso nas redes sociais, nas declarações oficiais, nas análises sobre o caso, de que as mulheres não denunciam porque não encontram acolhimento, a reação majoritária foi de apoio à ministra Anielle Franco e às outras supostas vítimas. Tanto que Silvio Almeida caiu, condenado publicamente e previamente.

Mas o episódio, que era para ser mais um round vencedor na luta contra a violência de gênero, vem à tona cheio de fragilidades. Juridicamente, as denúncias não existem. Sabe-se pouco, além das acusações.

Não é a falta de empatia que levanta questionamentos, mas a de transparência. O argumento de que a dor da mulher é o que importa é pura barbárie, ainda mais entre defensores dos direitos humanos. Vítimas devem procurar justiça e não justiçamento. Para continuar relevante, o Me Too precisa mostrar que é capaz de transformar vergonha em voz e reação dentro do devido processo legal.

*Mariliz Pereira Jorge é colunista da Folha de São Paulo. Texto compartilhado.
e-mail:redacao@blogdellas.com.br

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