O PSB e a operação que uniu de socialistas a bolsonaristas no combate a Raquel Lyra na Alepe

Por Terezinha Nunes*
Popularidade de João Campos ajudou

No início deste ano, aproveitando a onda de popularidade do prefeito João Campos – um atrativo a mais para quem está insatisfeito com o Governo –, o partido, com o apoio do presidente da Alepe, Álvaro Porto (PSDB), pôs em ação uma estratégia só possível entre os calejados na ação política. Deu um verdadeiro golpe na bancada governista afastando-a do comando das três principais comissões da casa, de onde saem os projetos a serem votados em plenário.
Para isso, o partido juntou alhos com bugalhos: entregou a presidência da Comissão de Justiça ao mais ferrenho bolsonarista pernambucano, o deputado coronel Alberto Feitosa (PL), a de Finanças ao deputado estadual Antonio Coelho (UP), que guarda mágoas da governadora por não ter prestigiado seu irmão Miguel. A de Administração, a menos importante das três, foi destinada ao experiente socialista Waldemar Borges (PSB).
Ao abrir mão de Justiça e Finanças para atrair aliados, os socialistas conseguiram fazer maioria nas três principais comissões, deixando os governistas a ver navios.
Assumir as comissões foi crucial
De lá para cá, nada tem sido como antes no quartel de Abrantes. Não adiantou, por exemplo, a governadora conquistar maioria folgada no plenário da Alepe, pois as matérias só chegam até ele depois que passarem nas comissões.
E tem sido difícil esse percurso não só do empréstimo mas até da sabatina do novo administrador de Fernando de Noronha, Vinícius Oliveira, brecada pelo deputado Alberto Feitosa sob o argumento de que a governadora fizera uso político do cargo para beneficiar o partido Avante, que antes apoiava o prefeito João Campos.
“Aqui tudo só se faz com vistas às eleições de 2026. A oposição antecipou o pleito e é dessa forma que conduz a Assembleia. O espírito Republicano desapareceu”, diz o decano da Casa, deputado Antonio Moraes (PP).
A Deputada Débora Almeida (PSDB) tentou vencer o cerco recorrendo à Constituição do Estado que, como afirmou em ofício à mesa diretora da Alepe, determina que qualquer matéria, em regime de urgência, se ficar nas comissões por mais de 45 dias sem decisão, deve ser remetida diretamente ao plenário.
Tentativa de inviabilizar o Governo Raquel Lyra
Ela solicitou que assim fosse procedido, mas a procuradoria geral da Assembleia opinou que o presidente tem a prerrogativa de fazer a pauta do plenário, independente de qualquer coisa.
Resultado é que a pauta acabou trancada, e a deputada acusada de ter obstruído os trabalhos. “Não sei mais o que fazer”, disse Débora, que é procuradora concursada. “Aqui nesta casa – afirmou na tribuna da Alepe – não se respeita mais o Regimento e nem as Constituições estadual e federal, nunca vi algo parecido na minha vida”.
Em linha paralela a essa discussão, existe outra de linha ideológica lembrada sempre que a bancada do PT, que é aliada da governadora, entra em atrito com o presidente da Comissão de Justiça, coronel Alberto Feitosa, que acusa Lula na tribuna de “ladrão” e recebe troco parecido dos lulistas.
O deputado estadual João Paulo Silva, líder do PT, acusa o PSB de ter colocado no maior cargo da Assembleia, após a presidência, um bolsonarista. “Há entre socialistas e bolsonaristas aqui na Alepe uma aliança clara para inviabilizar o Governo Raquel Lyra. Se não fosse isso, Feitosa não estaria na presidência da Comissão de Justiça”, diz.
PT acusa PSB de aliança com bolsonarismo

Sobre a posição do PT, João Paulo explica: “O PSB está no Governo Lula, mas a governadora tem reconhecido que as portas do Governo federal estão abertas para ela e para ajudar Pernambuco e tem dado o devido crédito ao presidente. Nós, como está fazendo Lula, estamos tentando ajudá-la na execução de projetos estratégicos que ela vem conduzindo com responsabilidade e zelo e com o apoio total do presidente”, responde aos que chama de “insatisfeitos” com esta postura.
O deputado Waldemar Borges , do PSB, chama de “improcedente e incoerente” o argumento que há na Assembleia como dizem os petistas uma aliança entre socialistas e bolsonaristas.
“É improcedente porque as questões que tramitam e são debatidas na Comissão de Justiça não dizem respeito, em absolutamente nada, ao antagonismo que temos com o bolsonarismo, mas às divergências em relação ao Governo do Estado. E é incoerente porque as mesmas pessoas que fazem esse tipo de crítica se aliam, na própria Alepe, a outras alas do bolsonarismo na defesa da governadora. Isso não passa de desculpa para justificar o apoio a um governo comandado pelo PSD que todo dia apresenta um candidato contra Lula.”
Questão ideológica perdeu força
A cientista política Priscila Lapa acha que “hoje a atuação dos deputados está muito mais orientada por questões pragmáticas do que ideológicas. É um ciclo político muito mais focado em ocupação de espaços, diante das mudanças advindas da eleição de 2022. Diante disso, as questões ideológicas que orientam o discurso político de maneira mais ampla acabam sendo secundárias para o eleitor. O foco é expandir a capacidade de atuação dos legisladores e cada um se fortalecer em seus projetos individuais”.
Na verdade, assim sendo, é bem mais provável que, além da luta pelo poder entre a governadora e o PSB, o caldo de cultura que levou a Assembleia a ficar tão oposicionista só tenha ganhado forma à medida em que o Palácio do Campo das Princesas não liberou em 2024 as emendas parlamentares daquele ano.
Nesse caso, parte do clima atual não é culpa apenas da sede de poder do PSB, como afirmam os governistas, e nem das articulações politicas dos socialistas, mas também do não reconhecimento pelo Executivo da onda de independência que tomou conta da Casa.
Não à toa, na atual gestão, a Alepe copiou o mesmo modelo da Câmara Federal, apropriando-se muito mais do orçamento público e colocando o Executivo no canto da parede. Como tem feito. Raquel e Lula que o digam.
*Texto de Terezinha Nunes publicado no Jornal do Commercio, em 15/06/2025
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