O protagonismo de Priscila

 

Na história política brasileira, o lugar de vice é reservado a composições entre partidos ou para complementar, diante da sociedade, o perfil do candidato a prefeito, governador ou presidente. Terminada a eleição, o melhor vice é visto como a pessoa mais discreta possível para não rivalizar com o titular. Marco Maciel ainda hoje é citado como o melhor deles nos últimos tempos porque agiu com discrição extrema, sempre atrás de Fernando Henrique, mas ajudando-o nos bastidores a enfrentar todas as crises.

Mas a eleição de Pernambuco este ano, cheia de inusitados e simbolismos a serem explicados por historiadores, reservou mais um nesta linha. Como se não bastasse o segundo turno ser disputado, pela primeira vez no país, por duas mulheres, a candidata Raquel Lyra, que compôs a vice com uma mulher, deu à escolhida, Priscila Krause, uma relevância jamais vista. Não só andou e gravou com ela as mais expressivas mensagens como se comprometeu se eleita, dividir com a mesma as tarefas de, como falou, “só erguer Pernambuco”.

Priscila não só foi fundamental para a candidata ter os votos que teve no Recife – chegou em primeiro lugar à frente de Anderson Ferreira, em segundo, e Marilia Arraes, em terceiro – como, nesta última semana, quando Raquel, abalada pela tragédia da perda do esposo no dia primeiro turno, precisou se recolher, ela se dedicou, 24 horas por dia, a receber prefeitos, deputados, vereadores e entidades diversas para manifestar apoios vindos de todas as regiões pernambucanas. Fosse um vice não tão identificado com o titular as composições poderiam não se dar, mas, como disse um deputado estadual recém chegado ao grupo, “falar com Priscila é como estar com Raquel”.

Perfil ajudou

Uma das mais combativas dos deputados estaduais pernambucanos, Priscila se destacou na Assembléia por fazer oposição ao PSB e transformou seu gabinete, durante anos, em um bunker de fiscalização das ações governamentais. Pelo estilo, teria muito mais característica de titular do que de vice, mas nunca se recusou a aceitar as tarefas que surgissem pela frente. Foi assim que virou vice de Mendonça Filho em 2020 no Recife e agora de Raquel, no estado. Se identificou de tal forma com Mendonça na campanha que já se sabia que, eleitos, ela teria ao lado dele o mesmo destaque que agora tem com Raquel.

Voto a voto

Passada a primeira semana da campanha em segundo turno, o blogdellas publicou ontem o levantamento dos apoios a Marilia e Raquel nesses primeiros momentos, feito a partir de informações dos comandos de campanha. Marília claramente ganhou de Raquel até agora em apoio de partidos (já tinha Solidariedade, PSD e Avante e agora tem PT, Republicanos, PDT, PV, PCdoB, PSOL) mas a ex-prefeita de Caruaru a superou em número de prefeitos e de lideranças de oposição nos municípios, a esta altura se preparando para disputar o poder em 2024. Segundo as próprias assessorias, a candidata do Solidariedade recebeu 150 apoios de lideranças e entidades e Raquel 500 apoios.

Lula e Marília

Lideranças de esquerda iniciariam ontem a coleta de assinaturas para um manifesto a favor de Lula presidente e Marília governadora. O objetivo é associar os dois nomes para fazer as intenções de voto do ex-presidente colarem na candidata. Até que ponto isso vai dar certo? No primeiro turno, mesmo aparecendo diariamente na TV, Lula não conseguiu levar seu candidato Danilo Cabral ao segundo turno. Somados, os votos de Marília e Danilo, que diziam na TV apoiar Lula, somaram 42,03% dos sufrágios. Os três principais candidatos de oposição tiveram 56,77% dos votos.

Pergunta que não quer calar: quem vai estar na frente das pesquisas para governadora de Pernambuco esta terça-feira quando dois institutos divulgam suas primeiras sondagens?

E-mail: terezinhanunescosta@gmail.com

Compartilhar