O Piloto “Doido” – Por Júlio Lóssio*

 

Se imaginarmos nosso planeta Terra como uma grande espaçonave viajando pelo universo, podemos concluir que nas últimas décadas, e de modo especial após a Segunda Guerra Mundial, os EUA ocuparam o lugar da cabine de comando. A influência americana em cada canto da Terra, seja do ponto de vista econômico, cultural, militar, etc., é indiscutível.

Conceitos econômicos baseados na economia de mercado, a difusão do inglês como língua universal, universidades vibrantes e abertas à diversidade e à participação internacional, formando inclusive líderes em várias áreas do conhecimento de todo o mundo, são exemplos dessa influência. A ideia do progresso, traduzida no “sonho americano”, acabou atraindo milhares de pessoas de todas as partes do mundo, tanto que as maiores cidades americanas são extremamente cosmopolitas, com imensa variedade cultural, mas que até então davam um exemplo ao mundo de convivência pacífica.

Evidentemente, durante um longo voo, é esperado turbulências, sobretudo pela imensa diversidade cultural e econômica entre nossos continentes.

Na cabine do avião chamado EUA, de alguma forma desde o pós-guerra, sendo republicano ou democrata, o piloto sempre procurou manter a estabilidade dentro da cabine e, na medida do possível, em toda a nave.

Mesmo que isso tenha custado muitas pequenas guerras em várias partes da Terra, e apesar das contestações aqui e ali, podemos dizer que, de uma forma geral, os EUA ajudaram na manutenção de uma relativa estabilidade no mundo e no próprio país, que nasceu da junção de várias colônias britânicas.

De repente, um piloto que inclusive já havia comandado o avião em um passado recente volta ao comando da espaçonave e, sem prévio aviso para apertarem os cintos, resolve fazer um looping radical. Não poderíamos esperar outra coisa: a turbulência tem sido generalizada. Não contente, a cada sinal de estabilidade, uma nova manobra radical que tem deixado os passageiros em pânico.

Vemos uma guerra tarifária com idas e vindas que quebram um dos pilares da relação econômica entre as nações: a confiança.

A utilização de informações não confiáveis e não confirmadas transformou o Salão Oval da Casa Branca em um verdadeiro circo de constrangimento para líderes mundiais, a exemplo dos presidentes da Ucrânia e da África do Sul. Há um ataque à autonomia universitária, com destaque para a incursão contra a Universidade de Harvard, cuja contribuição acadêmica, econômica e social para os próprios EUA e para o mundo é indiscutível. Soma-se a isso o resgate de um espírito expansionista que ameaça seus vizinhos e aliados históricos.

Se na década de 80 tivemos o filme: “Apertem os Cintos… o Piloto Sumiu!”, agora, na vida real, podemos dizer: “Apertem os Cintos… o Piloto Tá Doido!”

*Júlio Lóssio é médico e ex-prefeito de Petrolina
E-mail: redacao@blogdellas.com.br

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