O Brasil e a pandemia da educação

 

Por Júlio Lóssio*

Durante a pandemia da COVID, que mudou a rotina no mundo, observamos um grande esforço coletivo para minimizar os impactos devastadores na economia e no número de vidas perdidas. Vacinas foram criadas em tempo recorde, recursos foram mobilizados para socorrer aqueles que foram impactados economicamente pela pandemia.

No Brasil, apesar da politização da pandemia e da enorme discussão em torno do fique em casa observamos que, independente de alguns erros de avaliação quanto ao impacto nefasto da COVID na saúde do nosso povo, tivemos uma mobilização gigante no combate à pandemia.

Todos os níveis de governo, Federal, Estadual e Municipal mobilizaram uma quantidade de recursos, pessoas e espaço em suas agendas para tratar do tema COVID. Os meios de comunicação se dedicaram quase que exclusivamente ao tema da pandemia. A Sociedade civil, em sua grande maioria, se mobilizou para contribuir ficando em casa para minimizar a taxa de contaminação e permitir que os sistemas de saúde público e privado suportassem a demanda.

Entre mortos e feridos, erros e acertos, uma coisa é certa: a mobilização e os esforços foram gerais e gigantescos no combate à Pandemia da COVID.

Infelizmente, em grande parte do Mundo e, de modo especial no nosso Brasil, ainda vivemos uma pandemia que se prolonga há muitos anos e parece não ter data para terminar. A pandemia da educação, do saber, do conhecimento.

Ainda temos milhares de analfabetos. Milhares de homens e mulheres que, mesmo sabendo ler, não conseguem interpretar o conteúdo de sua leitura. Ainda temos milhões de brasileiros que, mesmo se colocando na categoria dos alfabetizados, deixaram a escola precocemente ou concluíram algum curso técnico ou superior sem o mínimo de conhecimento e que, infelizmente, arrastam a produtividade e eficiência do trabalhador brasileiro para níveis vergonhosos em comparação a outros países.


Na pandemia da COVID a morte ocorre de forma aguda e dramática pela “ falta de ar”. Na pandemia da Educação o efeito é crônico e prolongado. A morte muitas vezes advém da desigualdade gerada, da falta de oportunidade que empurra nossos jovens da periferia, em sua maioria pobres e pretos, para o caminho da marginalidade.

Mas por que será que para essa pandemia educacional não temos esforço por vacinas? Não há a mobilização para a obtenção de recursos suficientes, e muito menos uma mobilização real das classes dominantes?

A resposta pode estar no comportamento egocêntrico da raça humana. Na COVID o contágio não é seletivo, pobres podem transmitir para ricos; brancos, pretos ou pardos podem ser afetados e ter que enfrentar o dilema da entubação e da morte. Já a pandemia educacional, mesmo atingindo uma importante parcela da população brasileira, é seletiva. A imunização se dá no nascimento. Se o indivíduo nasce bem, dificilmente será contaminado. Se nasce pobre, já está praticamente condenado à contaminação.

Infelizmente, se fala muito de Educação e assistência à saúde nas campanhas políticas, contudo, os filhos dos que ocupam o parlatório da fala estão nas melhores escolas e com os melhores planos de saúde. A fala usual não se converte em ação porque a verdadeira dor da pandemia da educação não chegará à sua porta.

Nosso contrato social esqueceu de incluir os que mais precisam. Precisamos de um plano para salvar nosso povo da mais terrível pandemia da humanidade. Um plano vintenário que possa transformar cada criança nascida em nosso país em um cidadão capaz de transformar sua vida e dos que o sucederem. A vacina existe, basta aplicarmos no local certo e durante o tempo certo.

*Julio Lóssio, médico e ex-prefeito de Petrolina. Colaborador do blogdellas

E-mail: redacao@blogddellas.com.br

Compartilhar