Nem tudo como dantes, pior – Por Pedro Henrique Reynaldo*

 

Nossa jovem democracia, como ocorre na maioria dos países jovens e em desenvolvimento, é constantemente ameaçada pelos donos do poder. Compra de votos, tráfico de influência, atos de improbidade, são comuns e, via de regra, envolvem titulares de poder político e econômico.

Ao que tudo indica, contudo, o protesto de centenas de pessoas da classe média que resultou na vandalização de bens públicos, em 08/01/2023, vem sendo equiparado a um Golpe de Estado, merecedor de julgamento pelo STF e aplicação de penas privativas de liberdade de muitos anos.

Em tempos bem recentes, que jamais devemos esquecer, a nossa ordem democrática restou gravemente ameaçada por um fenômeno que intitulei de Ditadura da Corrupção, a partir da corrupção sistêmica de grande número de partidos e agentes políticos, numa verdadeira cleptocracia, como bem definiu um ilustre Ministro do STF.

Nas eleições que sucederam às muitas prisões, delações e confissões de corruptos, a roda política girou e a presidência foi parar nas improváveis mãos de um Deputado do baixo clero da Câmara, que, camuflado de outsider, conseguiu amalgamar o sentimento nacional contra aquele estado de coisas. Mostrando clara inépcia para o cargo, Bolsonaro teve seu mandato marcado, de um lado, pelo estancamento da grande corrupção e de outro por um delirante enfrentamento de outros entes e poderes da República, o que foi agravado pela sua forma bizarra de lidar com a pandemia, que resultou na sua derrota à reeleição.

A reação de agentes dos poderes afrontados, assim como a possível síndrome de abstinência de muitos, com o abrupto fechamento dos propinodutos, convergiram para ressuscitar a figura política de Lula, numa ampla coalização que lhe propiciou um terceiro mandato na presidência.

Passado um terço da gestão, os Yanomamis continuam desnutridos, as florestas devastadas, os corruptos negociando a redução de seus bilionários acordos de leniência, enquanto o Brasil defende internacionalmente os interesses do Hamas, de Cuba e Venezuela. Pior do que tudo isso, é a impressão de que, atualmente, afirmar fatos como estes pode ser considerado ato de subversão à ordem democrática, pois se realmente “o amor venceu”, a liberdade de expressão, por sua vez, vem sendo derrotada no dia a dia da nossa nação.

*Pedro Henrique, colaborador do Blogdellas é ex-presidente da OAb-PE . Texto compartilhado com o JC de 21/03/2024.

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