Nem todo esquecimento no idoso é benigno – Por Alexandre de Mattos*

 

É muito importante desmistificarmos um engano frequente na nossa sociedade, que é o uso do termo Demência Senil . Isso é um mito que precisamos descontruir, fruto do que chamamos de velhismo ou ageísmo , de preconceito em relação ao envelhecimento.

O envelhecimento não é sinônimo de doença e o esperado, no envelhecimento normal, é que o cérebro mantenha a sua funcionalidade, mesmo tendo algum grau de declínio, esse declínio cognitivo não trará impacto na funcionalidade normal do idoso no processo de envelhecimento normal. Sempre que ocorrer alguma alteração na funcionalidade do idoso, estaremos diante de uma doença, que pode ser uma síndrome demencial, sendo a doença de Alzheimer o tipo de demência neurodegenerativa mais comum.

Mas o que seria um déficit cognitivo que altera a funcionalidade de um idoso?

Sempre que alguma alteração na memória ou de outros domínios cognitivos causar erros ou dificuldades para manter as atividades da vida diária, como, por exemplo, se perder no controle das finanças, não acertar mais o controle e gerenciamento das próprias medicações, não conseguir planejar com assertividade as atividades cotidianas, passar a ter problemas na direção veicular ou no uso de transporte público, etc. Nesses casos de incapacidades e falhas na funcionalidade da vida diária deve acender um sinal de alerta, pois esse déficit funcional ou incapacidade para atividades da vida diária jamais ocorrem no dito envelhecimento normal e nesses casos a busca de uma causa patológica se impõe. É muito comum ocorrer atrasos no diagnóstico e com isso a perda da janela terapêutica ideal porque os familiares e até mesmo alguns profissionais de saúde não especializados para lidar com isso pode dizer que esse quadro é “normal da idade”, cometendo-se assim um preconceito de velhismo e, não dolosamente, uma negligência no cuidado.

Como essas síndromes neurodegenerativas são raras em adultos jovens e aumentam muito sua incidência e prevalência com o avançar da idade, então alguns podem considerar que um idoso com síndrome demencial está apenas apresentando uma manifestação normal da idade avançada e assim perder um diagnóstico precoce importante.

Existem também outros sinais de alerta que devem acender a luz vermelha quando estamos diante de um idoso com declínio cognitivo: dificuldades de memória persistentes e frequentes, especialmente a memória recente, o que chamamos de memória episódica: é quando o idoso pergunta ou repete o mesmo assunto mais de uma vez por dia – “esse é o quadro clínico mais característico da doença de Alzheimer”; problemas na linguagem e comunicação: com dificuldade para acompanhar ou participar de uma conversa, problemas para nomear um objeto familiar ou encontrar a palavra correta;- perda do entusiasmo na realização de atividades anteriormente apreciadas. Neste caso, o principal diagnóstico diferencial se faz com depressão, mas pode ser uma fase inicial da doença de Alzheimer; esquecer-se de pessoas ou lugares conhecidos; deterioração de competências sociais e emocionais. Então, é importante sempre lembrarmos que não existe o que alguns chamam de demência senil, já que a demência é sempre uma condição patológica. O envelhecimento norma nunca causará um grau de declínio cognitivo com impacto na funcionalidade do idoso.

Acreditar que a demência é uma condição normal do envelhecimento é um tipo de preconceito chamado de velhismo ou ageísmo. O risco de síndromes neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer, aumenta muito com o avançar da idade e é muito rara em adultos jovens e essa pode ser uma das causas do mito da demência senil.

*Alexandre de Mattos é médico geriatra do Instituto de Medicina do Idoso e professor de geriatria da Universidade de Pernambuco. Texto colaboração –Blogdellas. Foto: Divulgação.

E-mail: redacao@blogdellas.com.br

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