Opinião

Miséria Eleitoral

Pedro Henrique Reynaldo Alves

A cada dois anos nos deparamos com um espetáculo dantesco. Nossas esquinas e sinais são tomados por falsos apoiadores, remunerados para flanarem bandeiras, ostentarem camisas e distribuírem panfletos de candidatos às próximas eleições.

Para os desamparados, vê-se uma oportunidade de renda mínima às custas da sua dignidade como cidadão, pois passam a integrar a engrenagem de uma indústria eleitoral que movimenta milhões de forma preponderantemente clandestina, em benefício de candidaturas dotadas de maiores “estruturas” (eufemismo para denominar o caixa 2 e a ilegal compra de votos).

O fenômeno se replica com mesma intensidade no mundo virtual, onde milhares de apoiadores de araque, a maior parte jovens de baixa renda, recebem dinheiro vivo por cada postagem nas redes sociais. Neste quesito a lei eleitoral é tão minuciosa quanto ineficiente ao coibir a prática da disseminação remunerada de apoios na internet. Enquanto os beneficiários dessas estruturas ilícitas de captação de votos fruem de indevida vantagem competitiva, nosso meio ambiente real e virtual é poluído pela propagação irregular impulsionada pelos famélicos pseudoapoiadores.

Se o esquema funciona dessa forma há tantos anos, sem grandes mudanças, é porque ele atende aos sucessivos donos do poder, de diferentes matizes ideológicas, que possuem know-how e capital para girar essa engrenagem. Contudo, tais práticas sacrificam não apenas a renovação dos quadros políticos, mas também comprometem o aprimoramento de nossa democracia, que há muito é manchada pela influência do poder econômico.

Os defensores deste estado de coisas costumam vociferar contra as propostas que limitam os excessos publicitários sob o pálio da preservação do que chamam da “festa da democracia”, enquanto nós, cidadãos comuns, assistimos atônitos a essa verdadeira miséria eleitoral.

*Pedro Henrique Reynaldo Alves

Sócio-Fundador do Limongi Advocacia e ex-Presidente da OAB/PE – Tema tratado em artigo para o JC e para o Blogdellas). Foto: Divulgação.

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