Feito exclusivamente com mulheres, o 10º Observatório FEBRABAN (Ipespe) constata que mais da metade das brasileiras já foram vítimas ou presenciaram alguma situação de preconceito ou discriminação contra mulheres nos seus cotidianos, impressão que aumentou na pandemia.

 

Aqui, o Blog Dellas analisa, em primeira mão, este oportuno levantamento, no qual as mulheres brasileiras enxergam avanços na igualdade de direitos com os homens na última década, mas ainda temem por suas vidas e sua integridade física e mental. Elas entendem travar uma batalha diária contra a discriminação e por seus direitos no trabalho, na família, na escola/universidade e nas suas relações sociais.O Observatório FEBRABAN mostra que oito em cada dez entrevistadas se dizem insatisfeitas ou muito insatisfeitas com a forma como as mulheres são tratadas na sociedade brasileira. A violência , o assédio, o feminicídio e a desigualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres são os principais pontos negativos.

 

A grande maioria considera que há desigualdade entre mulheres e homens quanto a remuneração ou salários direitos e liberdade sexual. É predominante também o conhecimento de que o Brasil é um dos países que mais matam mulheres. Um terço indica o machismo como principal causa desse quadro e um quinto aponta que a impunidade ou falta de leis mais rigorosas levam a essa situação. Mais da metade das brasileiras viram ou tomaram conhecimento sobre mulheres próximas que foram vítimas de situações de violência verbal, física ou sexual. Também passam da metade as que já foram vítimas ou presenciaram uma situação de preconceito ou discriminação contra mulheres: na rua, transporte, em festas.

 

Mulheres, Preconceitos e Violência

O levantamento Mulheres Preconceito e Violência, realizado na primeira semana deste mês, com 3 mil mulheres em cinco regiões do País, traça um amplo quadro desse problema e se alinha aos esforços de investigar a situação das mulheres brasileiras e de combater o preconceito e a violência. A Constatação é de que os casos de violência contra a mulher aumentaram durante a pandemia.“O levantamento mostra que, apesar de a sociedade brasileira ter avançado muito , ainda temos desafios a suplantar em relação à diversidade e igualdade de gêneros”, diz Isaac Sidney, presidente da FEBRABAN. “Não podemos pensar em crescimento social e econômico sem combater esse tipo de mazela e sem incentivarmos políticas e ações afirmativas que eliminem essas diferenças”.

 

Caracterizando a violência contra a mulher no Brasil, quase oito em cada dez respondentes indicam a casa como o lugar onde as situações de violência, ameaça e assédio ocorrem com mais frequência e sete em cada dez citam pessoas próximas ou conhecidas – atuais ou antigos cônjuges, companheiros e namorados – como principais agressores. “Se esse quadro, por si só, já evidencia a situação de vulnerabilidade a que as mulheres estão expostas, ele se agrava quando metade declara que as vítimas não procuram ajuda ou não denunciam. E isso acontece em função do medo, de represália ou perseguição, e também de serem desacreditadas”, aponta o cientista político Antonio Lavareda, presidente do Conselho Científico do IPESPE.

 

Quando as lentes são colocadas sobre o ambiente de trabalho, expressivos 40% afirmam já terem sido vítimas ou conhecerem quem já sofreu algum tipo de assédio moral nesse espaço por ser mulher. Percentual semelhante aponta assédio sexual. E apenas um terço das entrevistadas declaram que houve denúncia formal à empresa.

 

Destaques – Observatório Febraban (Ipespe)

A íntegra do décimo levantamento OBSERVATÓRIO FEBRABAN, pesquisa FEBRABAN-IPESPE pode ser acessada neste link. O recorte regional poderá ser lido neste link.

 

Desigualdade de gênero no Brasil

Apesar de 56% das entrevistadas afirmarem que a questão da igualdade de gênero no Brasil “melhorou” ou “melhorou muito” nos últimos 10 anos, 80% se declaram insatisfeitas ou muito insatisfeitas com a forma como as mulheres são tratadas no Brasil. As mulheres pretas (89%) se mostram mais insatisfeitas do que as brancas (78%) e pardas (80%) em relação ao tratamento dado à mulher. No geral a sociedade brasileira é percebida como muito desigual entre homens e mulheres quanto a:

. Remuneração e salários (82%);
. Liberdade sexual (71%);
. Direitos em geral (71%)

 

Violência contra mulheres

Sobre as principais preocupações, as entrevistadas citam como primeira resposta a violência e o assédio contra a mulher (40%) – entre as solteiras o percentual é 45% – O feminicídio (26%). Uma soma de 66% para a violência de gênero. A maioria (70%) declara saber que o Brasil ocupa a 5ª posição em mortes violentas de mulheres.

 

Motivação para violência

O machismo (31%) é apontado como principal motivação para os crimes violentos contra as mulheres. A impunidade ou falta de leis mais rigorosas contra o agressor (20%). Uma série de outras razões associadas ao machismo são citadas ( 40%).

· Ciúme (19%)
· Sentimento de posse em relação às mulheres (10%)
· Não aceitação do fim de um relacionamento (7%)
· Restrição à independência profissional, econômica, social ou intelectual da Mulher, manifestação de desprezo pela mulher (4%).

 

Violência cotidiana

A maioria responde sim quando perguntadas se foram vítimas ou presenciaram situações de preconceito ou discriminação contra a mulher em ambientes públicos.

. Na rua (67%)
. No transporte público (56%)
. Em festas ou locais de entretenimento (54%)
. No ambiente de trabalho (42%)
. Na escola ou universidade (39%).

 

Violência doméstica

Quanto à violência verbal, física ou sexual (55%) das entrevistadas afirmam ter sido vítimas ou terem tomado conhecimento de mulheres que foram vítimas de ameaça, insulto, assédio ou agressão, alcançando 63% na faixa etária de 18 a 24 anos. Mais mulheres pretas (61%) do que brancas (52%) e pardas (58%) declaram ter sido vítimas ou tomaram conhecimento de vítimas de violência verbal, física ou sexual. A casa aparece como principal local da violência , sendo apontada por 77%.

 

O agressor

É consensual a percepção de que os autores de violência verbal, física ou sexual contra as mulheres foram pessoas conhecidas ou próximas da vítima (69%).

. 77% citam atuais cônjuges, companheiros e namorados.
. 36% citam ex-cônjuges, ex-companheiros e ex-namorados
. 17% mencionam chefes/colegas de trabalho
. 16% apontam vizinhos
. 12% dizem padrasto/madrasta
. 9% pai/mãe
. 6% irmão/irmã
. 6% filho/enteado.

 

Violência e pandemia

A percepção é de que a violência contra a mulher aumentou na pandemia (83%).Entre as mulheres pretas (87%),brancas (81%) e pardas (83%). Para 70% homens e mulheres sofreram igualmente os impactos da pandemia na economia, trabalho. E 25% creem que as mulheres sofreram mais do que os homens impactos nesses setores.

40% das entrevistadas já sofreram ou conhecem alguém que sofreu assédio moral no local de trabalho por ser mulher. Esse percentual é similar ao das que apontam o assédio sexual no ambiente profissional (38%). Em ambos os casos, um terço (33%) disse ter havido denúncia do crime. As mulheres de maior escolaridade e renda são as que declararam a experiência pessoal ou de terceiras com o assédio moral ou sexual no ambiente de trabalho e que também fazem denúncia.

 

Violência e ambiente de trabalho

 

Busca de ajuda

Metade das entrevistadas (51%) acredita que vítimas de agressão, assédio ou ameaça não procuram ajuda. Só 30% assim agem e14% buscam apoio de amigos, familiares e conhecidos; Apenas1% procura os gestores de onde ocorreu o fato. A maioria diz que por medo de represália (59%), sentimento que sinaliza poder entre o agressor e a vítima. A dependência está na base das respostas: não perder ou se prejudicar no trabalho (11%), e depender financeiramente do agressor (2%). Um quinto (19%) refere-se à vergonha, 15% ao medo de não acreditarem e 10% a falta de confiança na Justiça. A Delegacia da Mulher é a referência de apoio nas violência de gênero.

 

Punição

Para punir o homem que comete violência contra mulher, 45% indicam a prisão. Bem atrás estão as medidas protetivas (8%), a participação em grupos de reeducação (3%) e o uso de tornozeleira eletrônica (2%). Para 40%, deve-se aplicar todos os dispositivos. Sobre a Legislação, 69% reconhecem que mudanças ocorridas como a Lei Maria da Penha.

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