“Julho das Pretas” – A Luta é Permanente

 

 

A coluna “Mulheres Negras” aproveita a oportunidade do mês em pauta para prestar justa homenagem as mulheres negras brasileiras em movimento contra o racismo. Por que é 25 de Julho a data de celebração do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha? A gente explica. Vejamos:

 

A mulher negra em um cenário

de desigualdade e vulnerabilidade

 

 

Embora a população negra, segundo o IBGE/2010 represente mais da metade do contingente, sendo pretos (7,6%) e pardos (43,1%), um total de 50,7% da população brasileira autodeclarada. Este grupo populacional ainda é negligenciado no que diz respeito ao direito às políticas públicas alimentação, cultura, educação, habitação, saúde e segurança. Como também a representação em espaços de poder, consequências do racismo estrutural, que segundo Almeida (2021), se materializa no processo das relações tanto da ação individual quanto aos processos institucionais de reprodução sistêmica de práticas racistas na organização política, econômica, e jurídica da sociedade.

É em um cenário de extrema desigualdade e vulnerabilidade que vive a população negra brasileira e quando é feito o recorte de gênero, as mulheres negras são as mais atingidas.

De acordo com dados do Boletim do Núcleo de Pesquisas de Economia e Gênero/2021 sobre Mulheres Negras no Mercado de Trabalho, pautado em dados da PNAD Contínua do IBGE, em decorrência das crises: sanitária provocada pelo vírus da Covid 19 e a econômica, entre os 14,4 milhões de pessoas desocupadas, 4,8 milhões são mulheres negras; quanto a população subocupadas, são 7,5 milhões de pessoas nessa condição, entre estas 4,8 milhões são pessoas negras e 2,6 milhões são mulheres negras. Devido ao breve aumento no mercado de trabalho das ocupações provocando elevação das subocupações, entre elas, trabalho doméstico sem carteira e pelo trabalho por conta-própria, observou-se o aumento da participação das mulheres negras na força de trabalho potencial, porém com uma taxa de subutilização das mulheres negras acima de 40% da sua força de trabalho ampliada.

Um quadro que, sem dúvida, precisa mudar.

A importância do 25 de Julho

Diante da luta por direitos à dignidade humana, as mulheres negras vêm se movimentando. Em 1992 foi realizado o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas em Santo Domingo, na República Dominicana. Neste evento formalizou-se o marco internacional do movimento de luta e resistência da mulher negra para reafirmar a necessidade do enfrentamento contra a discriminação racial, social e de gênero, o racismo e sexismo vivido em pleno século XXI.

Conquistas das Mulheres Negras em Movimento

 

No momento que se consolidou o marco de luta para as mulheres negras, a partir do reconhecimento e valorização do Governo da Presidenta Dilma Rousseff, através da Lei 12.987/2014, passamos a comemorar o 25 de julho, Dia Nacional de Tereza de Benguela, homenageando a líder quilombola da comunidade negra e indígena pelo seu protagonismo na luta contra a escravidão, que resistiu por duas décadas no século XVIII, sobrevivendo até 1770, no Quilombo de Quariterê, o maior quilombo do Mato Grosso, localizado na fronteira entre aquele estado e Bolívia. Viva Tereza de Benguela!

A luta é permanente

O 25 de Julho, marco de luta, tem como contribuição à mobilização das mulheres negras em todas as regiões brasileiras, por meio de várias atividades artísticas, culturais, cursos de formação debates e oficinas que são vivenciadas nesse período, chamado “Julho das Pretas”, com a finalidade de trocar saberes sobre temas específicos como autocuidado, enfrentamento à violência do cotidiano.

Portanto, é relevante (re)conhecer e valorizar o movimento das mulheres negras na luta contra a escravidão. Do passado e na atualidade como foi defendido na Marcha das Mulheres Negras 2015 em Brasília, que teve como lema: “contra o racismo, a violência e pelo bem viver”.

 

 

Maria de Fátima Oliveira Batista é professora das redes públicas de ensino de Pernambuco e do Recife e colaboradora do Blogdellas.  Fotos: divulgação

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