Interior chega à disputa majoritária

 

Acostumados a votar em candidatos a governador nascidos e criados na Região Metropolitana, os pernambucanos estão vendo este ano a chegada à eleição majoritária de dois candidatos – Miguel Coelho e Raquel Lyra – que ganharam a condição de disputa fazendo política no interior e se notabilizaram pelas exitosas administrações em Petrolina e Caruaru. Dos demais candidatos a governador só Marilia teve expressivos votos no Recife (54 mil), Danilo teve 12 mil e Anderson não concorreu.

Quem não acompanha os bastidores da política pode não entender mas há muito tempo que  aAssembléia Legislativa virou a expressão do interior. Se, no auge da grande batalha pelo voto, antes e logo depois do regime autoritário, o peso da capital e do Grande Recife na Alepe era enorme e nas casas e nos bares do Recife o voto era conquistado em discussões acaloradas, que resvalavam para os mercados, feiras livres e bairros periféricos, isso não mais ocorre.

Apesar de  abrigarem 40% dos eleitores de Pernambuco, os municípios metropolitanos deixaram de discutir política – sobretudo a classe média- e o voto de compadrio e troca de favores assumiu seu lugar. Uma prova disso foi a eleição de 2018 quando apenas uma deputada, Gleide Ângelo, dos 49 deputados eleitos, teve no Recife os votos suficientes para se eleger. Até a deputada Priscila Krause, que já disputou duas eleições na capital, conseguiu apenas 26 mil votos por aqui. Precisou ir conquistar fora mais 20 mil para garantir sua vaga.

 

Ninguém representa o Recife

Não há duvida que Priscila é a representante de fato do Recife na Alepe, como Gleide e outros mais que fazem política também na capital, mas o fazem muito mais pelos compromissos assumidos em campanha do que para satisfazer todos que neles votaram. A esquerda que contava aos montes votos na capital para seus deputados Há muito deixou de fazê-lo. O coletivo Juntas, do PSOL, dividiu com João Paulo (PT) o quarto e o quinto lugar nos votos dos recifenses. Os quatro primeiros são quadros da centro direita – Gleide, Cleiton Collins, Francismar e Priscila.

 

Nemna Câmara Federal

Na Câmara Federal da mesma forma o voto do Recife não elegeria sequer o atual prefeito e campeão no estado onde teve 460 mil  votos. Aqui João Campos teve apenas 70 mil desses votos. O segundo foi Felipe Carreiras com 67 mil e o terceiro Marília com 54 mil. No caso da Câmara a esquerda levou a melhor na capital. Dos 17 federais mais votados no Recife, porém, apenas seis eram de esquerda. Os 11 restantes representam partidos de centro-esquerda. Como não temos eleição distrital o voto se fraciona a um ponto que os grandes municípios são os mais penalizados. E os deputados não mais disputam apenas o apoio de prefeitos mas de cada um do vereadores eleitos.

 

Recife perde poder e verbas

Atribui-se a isso o fato do Recife receber, proporcionalmente, menos recursos de emendas dos deputados federais que pequenos municípios do interior. Se observar as agendas de final de semana dos deputados federais, com raríssimas exceções, eles passam sábado e domingo na mata, agreste ou sertão, inaugurando obras. Poucos fazem isso por aqui e, deste modo, acabam contribuindo para o cidadão da capital não se interessar por seu mandato.

 

Caruaru, Petrolina e Vitória ganham espaço

Com a relevância do voto interiorano hoje deputados votados em municípios como Petrolina, Caruaru e Vitória de Santo Antão ganham ares de majoritários em suas regiões. Há sempre na Assembléia a bancada de Petrolina, de Caruaru e de Vitória. Com não menos que dois deputados estaduais, cada uma. Petrolina e Caruaru têm até federais e Vitória está lançando este ano uma candidata a federal, Iza Arruda, do MDB, que tem como slogan “a primeira federal do interior”. Ela diz que Cristina Tavares era de Garanhuns mas na época sua votação saía do Grande Recife.

 

Federação PT, PV e PCdoB demorou a se entender

Foi no apagar das luzes que a federação formada pelo PT, PV e PCdoB, definiu sua chapa proporcional. Tudo porque os candidatos do PT chiaram quando o PV foi em busca de deputados fortes como Felipe Carreiras  e o PCdoB insistia para filiar Waldemar Borges, do PSB, e João Paulo Costa, do Republicanos, que nunca foi comunista. Só ficou João Paulo (irmão de Silvio Filho) que podia não disputar pois grande parte dos demais candidatos do Patriotas, para onde ele foi, único partido pequeno a formar chapa para a Alepe, tiveram receio de aceita-lo e virarem apenas bucha de canhão…

 

Fotos: Google imagem

 

E-mail: terezinhanunescosta@gmail.com

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