Diversidade

INCLUSÃO – HQ em Libras conta a história de uma pajé surda

 

Projeto criativo de língua brasileira de sinais se baseia em expressões faciais .A ideia nasceu durante uma semana acadêmica em 2016, quando os professores surdos Knapik e Suellen Floriano apresentaram uma palestra sobre os artefatos culturais do povo surdo. Na plateia, estavam a professora Kelly e Luiz Gustavo Paulino de Almeida, desenhista e aluno do curso de Letras Libras.

 

A professora Kelly convidou, então, Almeida para pensarem juntos em quadrinhos para a comunidade surda. O desafio era esse: sabiam que haveria uma necessidade de adaptação – afinal, os leitores não tinham o português como primeira língua, mas Libras. A dupla queria que o leitor não ouvinte se interessasse pela história a ser narrada em quadrinhos e perceberam que, para isso, trocar a comunicação de português para Libras era um bom passo, mas não o suficiente. Iniciaram, então, um trabalho de pesquisa que resultou em detalhes preciosos para o público-alvo, como expressões faciais mais facilmente identificáveis e menos texto escrito.

 

 

“Organizamos um gênero híbrido em que articulamos vídeos, ilustrações, redução da linguagem verbal escrita, intensificamos as expressões faciais dos personagens e escolhemos uma temática de muito sentido para a comunidade”, conta a professora Kelly Cezar. O primeiro fruto do projeto saiu em 2018: a HQ O Congresso de Milão. O HQs Sinalizadas não se resume a narrar histórias em Libras, mas também a fazer com que as HQs cheguem ao público-alvo – todas estão disponíveis gratuitamente como e-books no site da Letraria (www.letraria.net).

 

Libras não é a única linguagem usada por surdos aqui no Brasil: há, pelo menos, 13 línguas de sinais documentadas no País. O quinto livro do HQs Sinalizadas, lançado no ano passado, é narrado na língua terena de sinais. A edição impressa vem com o título maior em terena: Séno Mókere Káxe Koixómuneti – o título em português, Sol: A Pajé Surda, aparece logo abaixo.

 

“O Brasil é um país plurilíngue, inclusive nas línguas de sinais, mas muitas pessoas desconhecem esse fato”, comenta a professora Kelly.Projeto de pesquisa desenvolvido dentro da universidade, o HQs Sinalizadas inclui alunos que realizam iniciação científica e atividades congêneres.

 

A escolha do tema, parte fundamental do processo, passa por eles.”Os alunos são livres para escolher a temática, desde que tenha representatividade para a cultura e garanta a língua de sinais como primeira língua”, observa ela.Uma vez escolhido o tema, a HQ pode levar até três anos para ficar pronta – tempo que inclui do levantamento bibliográfico a revisões, inclusive uma feita por sinalizantes (os que utilizam a língua de sinais, normalmente, os surdos).Um exemplo de tema foi uma história ambientada nas Surdolimpíadas, evento multidesportivo internacional organizado desde 1924 pelo Comitê Internacional de Desportos para Surdos. A HQ, escrita por Addyson Celestino, Kelly Priscilla Lóddo Cezar e Clovis Batista de Souza e ilustrada por Addyson Celestino, foi lançada em 2020.

 

“A parte mais trabalhosa é a criação do roteiro sinalizado (voltado para a comunidade surda), verificação da temática e análise das ilustrações sinalizadas nos quadrinhos”, explica a professora.”A gramática dos quadrinhos sinalizados passa pela análise linguística das expressões faciais, da configuração de mãos, movimento e ponto de articulação, bem como a verificação por parte dos sinalizantes da língua de sinais estudada. Em média, essa etapa demora dois anos. Depois, vem a parte de diagramação e articulação dos vídeos em Libras.”

 

imagens/Divulgação

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