Ida do prefeito de Caruaru para o Republicanos expõe dificuldades de Raquel na área política
Às vésperas de encerrar seu primeiro ano de mandato e com a administração na ponta da língua – como demonstrou nas várias entrevistas concedidas à imprensa estadual esta quarta-feira – a governadora Raquel Lyra foi surpreendida na mesma data por uma notícia que demonstra a dificuldade que vem tendo no relacionamento com a classe política, incluindo a Assembléia Legislativa. Sua principal cria política – o prefeito de Caruaru, Rodrigo Pinheiro – anunciou ontem a decisão de se filiar ao Republicanos, do ministro Sílvio Costa, poucos dias depois de ouvir um apelo da governadora para disputar sua reeleição pelo PSDB e receber com isso seu apoio. Se em sua própria terra Raquel não conseguiu manter o prefeito no partido pelo qual os dois se elegeram, das duas uma: ou ela não está fazendo questão disso, o que parece improvável, ou perdeu o jeito de trabalhar a política.
Indagada sobre isso na entrevista que concedeu aos principais blogs do estado, ela mostrou surpresa ao saber da decisão de Rodrigo e atribuiu os problemas que está enfrentando com os políticos à sua “mudança na forma de fazer as coisas”. Enumerou os diversos encontros que teve com senadores e deputados federais e estaduais desde o início da administração “para discutir investimentos para o estado” e os 100 prefeitos que já recebeu em Palácio “sem perguntar de que partido eram para saber como ajudar cada um dos municípios”. A respeito da Assembléia, onde já enfrentou até derrubada de vetos seus, ela saiu pela tangente: “tenho que agradecer à Assembléia pelos projetos que vêm sendo aprovados. Há muito mais coisa que nos une do que nos separa” e encerrou o assunto.
Às vésperas de um ano eleitoral em que o número de prefeitos eleitos pelos partidos que a apoiam – e são poucos – pode expressar ou não sua força política, ela não abriu a guarda do que fará para ajudar seus aliados a se eleger. Argumentou que passou o ano de 2023 arrumando a casa, pagando dívidas e restabelecendo a credibilidade de Pernambuco e que as eleições só serão realizadas em 2024. Deputada estadual por dois mandatos, oriunda de uma família tradicional na política pernambucana, a governadora surpreendeu a todos depois que tomou posse e não formou uma base na Assembléia, sendo obrigada a negociar cada projeto a duras penas. Sua base fiel continua restrita a 10 dos 49 deputados. Resta saber se ela vai querer incluir mais.
Primeiro as ruas depois os políticos
Nos meios políticos desconfia-se de que a governadora pensa em conquistar primeiro as ruas para só depois chegar aos políticos. E como existe uma máxima de Ulisses Guirmarães de que “o político só tem medo de povo na rua”, ela estaria aguardando a maturação de seus projetos, sobretudo junto à população mais pobre, para, só então, abrir a guarda à política tradicional. Nas entrevistas ontem ela não cansou de citar seus programas de distribuição de renda – “ há dois milhões de pernambucanos passando fome”, ressaltou – e as mais de 100 mil mulheres que vão ser atendidas pelo Mães de Pernambuco com uma bolsa de R$ 300 mensais.
Sem prefeitos
Para expressar o que a distância da política pode acarretar a um governante, apesar do desgaste do PSB, que chegou a ter o controle de mais de 140 dos 184 prefeitos pernambucanos e anda muito desgastado, contam-se nos dedos os prefeitos hoje fechados com o Palácio das Princesas. Na Região Metropolitana, o PSDB – partido da governadora – só tem um dos 14 prefeitos que é Elcione Ramos, prefeita de Igarassu. Os demais estão em partidos aliados, mas não tão comprometidos assim, ou às vésperas de virar oposição. O prefeito de Jaboatão Mano Medeiros está mais perto da governadora mas não se sente partícipe de seu Governo. O de Olinda anda reclamando do tratamento recebido. Vai ser difícil desatar esse nó.
Gilson candidato
O Recife vai contar a partir de hoje com o segundo pré-candidato de oposição ao prefeito João Campos. O primeiro foi a deputada estadual do PSOL, Dani Portela, escolhida por seu partido no último final de semana. Hoje haverá o lançamento da pré-candidatura do ex-candidato ao senado, Gilson Machado, do PL de Bolsonaro, em evento comandado pelo presidente estadual da legenda, Anderson Ferreira. Gilson está se propondo a empolgar o eleitorado de direita que levou Bolsonaro a conquistar 43,88% dos votos recifenses no segundo turno de 2022.
Sabesp e Compesa
A decisão da Assembléia Legislativa de São Paulo autorizando esta quarta-feira a desestatização da Sabesp – empresa que cuida de abastecimento de água e saneamento do estado – pode ajudar a governadora Raquel Lyra que planeja fazer a concessão da área de saneamento e distribuição de água da Compesa. O projeto, em estudos, pode render ao estado mais de R$ 10 bilhões e não é uma privatização. Além disso, o estado manterá em seu poder todos os mananciais bem como a construção de novas obras voltadas a acumular água para consumo humano e animal.
Miguel e Elias
O ex-candidato a governador Miguel Coelho reuniu-se esta quarta-feira com o ex-prefeito de Jaboatão Elias Gomes. Candidato a prefeito pelo PT no mesmo município que governou por dois mandatos, Elias disse que os dois trocaram experiências sobre administração pública. Miguel elogiou o desempenho de Elias, deixando a entender que vai apoiá-lo. Já o candidato jaboatonense lembrou que o ex-senador Fernando Bezerra Coelho o ajudou bastante no município, sobretudo na obra de engorda das praias.
Pergunta que não quer calar: após se afastar do PSDB o prefeito de Caruaru terá o apoio da governadora Raquel Lyra em sua campanha à reeleição?
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