Saúde

Herpes-zóster: novo imunizante contra a doença chega ao Brasil

Em maio de 2021 a fonoaudióloga e atriz Thaïs Thedim, 80 anos, começou a sentir um incômodo nas costas. Foi tratada com anti-inflamatórios até descobrir, com surpresa, que as dores intensas vieram acompanhadas de lesões na pele. O diagnóstico: herpes-zóster (HZ), infecção causada pelo vírus da catapora (varicela zoster).So que já teve sabe o sofrimento que causa.

A erupção da pele sumiu em um mês, mas as dores não passaram. São dores intensas, persistentes. Sempre fui muito ativa e, agora, não consigo sequer ir à fisioterapia — conta.O que Thaïs não sabia é que a HZ é uma doença comum nas pessoas acima de 50 anos de idade e, assim como gripe, pneumonia e Covid-19, pode ser evitada ou atenuada com vacina. São mais raros, mas também possíveis, casos como o do cantor Justin Bieber, que ficou com parte da face parcialmente paralisada em função de HZ na região do ouvido.

A carteira de vacinação do idoso é tão importante quanto a da pediatria. A herpes zoster é uma doença que causa muito sofrimento e danos. A lesão na pele desaparece em cerca de duas semanas, mas pode deixar sequela, que é a inflamação crônica do nervo. É uma dor que incomoda muito e afeta a qualidade de vida — afirma a médica Ivete Berkenbrock, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).O varicela zoster causa duas doenças. Depois que o indivíduo tem a primeira infecção, geralmente na infância, o vírus permanece adormecido no organismo. Quando a resposta imune do corpo diminui, seja pela idade ou por uso de medicamentos imunossupressores, por exemplo, ele se reativa.


A estimativa é que um em cada três indivíduos vai desenvolver herpes-zoster durante a vida. O problema maior são as complicações. A mais frequente é a neuralgia pós-herpética – justamente as dores fortes, crônicas e que persistem por mais de quatro meses, como as que acometem Thaïs.A incidência da neuralgia aumenta quanto maior a idade – de 5% em pessoas com menos de 60 anos a 20% dos que têm mais de 80. Há ainda outros riscos associados à doença, como AVC, meningite e até comprometimento parcial ou total de visão, caso atinja a região do globo ocular.

Nova geração de imunizantes

Até o mês passado havia no Brasil apenas uma vacina contra a HZ, com eficácia em torno de 60%. Segundo nota técnica da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a Zostavax (Merck), de vírus vivos atenuados, administrada em dose única, é contraindicada para imunocomprometidos, salvo exceções a serem avaliadas pelo médico.Este mês, começa a chegar ao mercado a Shingrix, do laboratório GSK. Lançada nos Estados Unidos em 2017, ela faz parte de uma nova geração de imunizantes recombinantes, que usam apenas uma partícula do vírus, associada a um adjuvante. Recomendada para adultos acima de 50 anos, pode ser usada também por imunossuprimidos, a partir de 18 anos.


Os estudos demonstraram eficácia de mais de 90% na prevenção de episódio agudo, mesmo em idosos acima de 70 anos. A indicação é que sejam tomadas duas doses, com intervalo de dois meses.Nenhuma das duas vacinas, porém, são administradas pelo SUS. Segundo o Grupo Fleury, as cidades atendidas pelos laboratórios da rede começam a receber a Shingrix a partir de 21 de junho. O valor da dose varia de acordo com o ICMS de cada estado. No Rio, deve custar R$ 580 no Felippe Mattoso. Em São Paulo, no Fleury, R$ 681. Segundo a presidente da SBGG, embora o valor da vacina seja alto, o tratamento da doença também custa caro.

Debate necessário
Jessé Alves, gerente médico do GSK, fabricante da Shingrix, afirma que a Covid-19 acelerou a discussão sobre a vacinação do público adulto, que tem se tornado foco das pesquisas de novos imunizantes.— É inegável que a população mundial está envelhecendo. A pirâmide etária no Brasil está se modificando e a população com mais de 60 anos vai aumentar nos próximos anos. Vacinar faz parte das premissas para um envelhecimento saudável — diz ele.A infectologista Carolina Lázari, do Grupo Fleury, afirma que as tecnologias de fabricação de vacinas estão sendo aperfeiçoadas, tornando a imunização mais segura e duradoura.— São plataformas novas, que não usam mais vírus vivo.

A nova vacina da HZ tem apenas uma proteína do vírus e o risco é apenas de alergia a algum componente. Isso permite desenvolver mais vacinas para idosos – comenta. Lázari lembra que, com o envelhecimento, o sistema imune precisa de estímulos para proteger contra algumas doenças, sem descompensar comorbidades desenvolvidas com a idade, como diabetes e hipertensão.Segundo Berkenbrock, com a devastação causada pela Covid-19 no sistema imunológico, a possibilidade de outras doenças surgirem é enorme.— Por observação clínica, nos consultórios, temos visto muito mais casos de HZ — diz a geriatra.

Retrocessos na vacinação


Ao mesmo tempo em que as tecnologias de imunização avançam, o Brasil sofre retrocesso também na vacinação de idosos. A vacinação contra a Influenza (gripe), por exemplo, está bem abaixo da meta de 90%. A campanha entrou no terceiro mês com apenas 55,1% da população idosa vacinada. Das vacinas recomendadas para esse grupo, a da gripe é a mais popular disponível no Programa Nacional de Imunização.

Redação com veículos (O Globo) – Foto: Divulgação.

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