Zema mancha a imagem dos políticos mineiros no Nordeste e pode se dar mal

 

Ao longo da historia do Brasil, o estado de Minas Gerais, berço de grandes políticos, sempre foi tido como uma expressão da média do pensamento nacional. Minas é da Região Sudeste mas tem parte de seu território no Nordeste e ganhou de tal forma a feição brasileira que até pesquisadores credenciados afirmam que o candidato a presidente que vence em Minas, vence no Brasil. De todos os presidentes brasileiros, desde que a República foi proclamada, considerando os eleitos direta e indiretamente, 10 foram mineiros – o maior número entre os estados. Tancredo Neves, em especial, conhecido como porta-voz da conciliação nacional, foi o principal incentivador do presidente Juscelino Kubitschek na criação da Sudene e no discurso que leu em sua posse como presidente indireto, poucos dias antes de falecer, dedicou parte dele aos nordestinos “Nós brasileiros temos uma dívida enorme com o Nordeste” disse e acrescentou depois: “ao lado do reordenamento institucional, o problema do Nordeste se coloca como prioritário nas minhas preocupações”.

Diante da forma sensata e solidária dos mineiros Juscelino e Tancredo, causou perplexidade na região a entrevista concedida este final de semana pelo governador de Minas, Romeu Zema (Novo), ao jornal O Estado de São Paulo que, a pretexto de levar os governadores do Sul e Sudeste a formarem um Consórcio igual ao criado pelos governadores do Nordeste, fez um discurso considerado separatista (como definiram os executivos nordestinos) chegando a chamar a região de “vaquinha que produz pouco”, deixando a entender que os nordestinos recebem mais atenção do que merecem.

Zema levou bordoadas na Internet de Norte a Sul. No Nordeste ensejou uma nota dos governadores afirmando que sua entrevista foi “separatista, aprofundando a logica de um país subalterno, dividido e desigual” contra um país “democrático, inclusivo e, portanto, de união e reconstrução”. O ministro Flávio Dino foi ao twitter afirmar : “ é incrível que a extrema direita esteja fomentando divisões regionais”. Já o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, fez pronunciamento no instagran dizendo que Zema foi mal interpretado e que defendeu a criação de um Consórcio no Sudeste e Sul como existe no Nordeste : “ foi a união comum dos nordestinos que despertou as demais regiões a agir da mesma forma” e acrescentou que “a existência de outros consórcios não visa discriminar, diminuir, desintegrar e nem ferir a unidade do país”.

Peso do Nordeste com Lula

Há uma outra explicação para toda esta celeuma criada em torno da discriminação contra os nordestinos, quase tão antiga quanto a República brasileira. Além de ter sido o Nordeste a região que garantiu a vitória do presidente Lula – o primeiro pernambucano a governar o país, agora por três mandatos – todos os governadores nordestinos atuais se elegeram com o apoio direto ou indireto do atual presidente. Raquel Lyra, de Pernambuco,  do PSDB, ganhou o segundo turno, entre outras razões, pelo voto luquel (Lula e Raquel). Em troca, Lula não só tem visitado constantemente sua região como indicou como ministros senadores eleitos no Nordeste: Rui Costa, da Bahia; Flávio Dino, do Maranhão; Camilo Santana, do Ceará, e Wellington Dias, do Piauí.

De onde vieram os presidentes

Na história brasileira de presidentes eleitos diretos ou indiretamente, o Sul e Sudeste ganham de lavada da região Nordeste. Desses 6 foram mineiros, 5 gaúchos e 5 paulistas. Contando com os vices que chegaram ao cargo, os presidentes da Câmara ou do Senado que assumiram pela inexistência de vice, ou os que tomaram posse por interferência do Exército ou do Judiciário, a conta é ainda mais favorável ao Sul e Sudeste. Desses 10 foram mineiros 7 paulistas, 6 gaúchos, 5 do Rio de Janeiro, 2 do Ceará, 2 de Alagoas e 1 de cada um dos estados seguintes: Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco ( Lula, no terceiro mandato), Rio Grande do Norte e Santa Catarina. Dos 27 estados, 14 nunca elegeram presidentes. O deputado federal pernambucano Pedro Campos (PSB) rebateu Zema por ignorar até a procedência dos presidentes brasileiros ao falar que o Sul e Sudeste nunca tiveram protagonismo na política: “o preconceito reside na ignorância”- afirmou.

Dueire e o recorde de voos

O senador Fernando Dueire celebrou este final de semana o fato do Aeroporto dos Guararapes está batendo recordes de voo – isso aconteceu em junho e julho. Disse que “o aumento expressivo da movimentação aérea do terminal reflete os resultados de um investimento considerável e planejado, que foi planejado e finalizado durante a gestão do ex-governador Jarbas Vasconcelos”. Na época Dueire era secretário de infraestrutura.

PSB chega aos 76 anos

Neste domingo, o PSB, que governou Pernambuco por 16 anos na era Eduardo e atualmente governa o Recife, fez 76 anos. No próximo sábado dia 12, o aniversário será comemorado com um seminário organizado pelo prefeito João Campos com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin, dos ministros Flávio Dino e Márcio França e da deputada federal Lidice da Mata. Será realizado em Gravatá em parceria com a Fundação João Mangabeira. No dia 28 será a vez de uma sessão solene na Assembléia em torno da legenda proposta pelo deputado estadual e presidente do PSB pernambucano, Sileno Guedes.

Pergunta que não quer calar: Zema terá condições de ser candidato a presidente após atacar o Nordeste?

E-mail: terezinhanunescosta@gmail.com

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