União Brasil cria mais desunião do que entendimento e obriga justiça a intervir
A fusão de partidos e a criação de federações partidárias, instrumentos criados para tentar salvar legendas inviabilizadas pelo fim das coligações partidárias, são mais um desafio para a justiça, acusada de interferir demasiadamente no processo político. Um exemplo claro é o da União Brasil em Pernambuco. Para fazer valer a fusão do DEM de Mendonça Filho e Miguel Coelho com o PSL de Luciano Bivar a nível nacional, se optou por um acordo estadual que tinha tudo para dar errado. Como a história popular do rabo carregando o cachorro, o DEM estadual era muito maior do que o PSL de Bivar mas como Bivar é pernambucano e presidente nacional optou-se por entregar-lhe, nos primeiros anos, a direção estadual do União Brasil e a Mendonça a municipal do Recife.
O time de Mendonça, porém, se fortaleceu mais com a chegada à legenda do grupo Coelho de Petrolina e com o próprio Mendonça se elegendo deputado federal e aí a balança se desequilibrou. Na eleição do ano passado o União fez três deputados federais – Fernando Coelho Filho, Mendonça e Bivar – e elegeu cinco estaduais dos quais só a deputada Socorro Pimentel é fiel a Bivar, os demais deputados fazem parte do grupo de Miguel Coelho, que disputou o mandato de governador. Como se não bastasse, Bivar desentendeu-se, sem motivo aparente, com Miguel e Mendonça durante a campanha e puniu os dois. Cozinhou Miguel na geladeira por meses até garantir-lhe o direito de disputar o pleito e não só tirou Mendonça do guia de TV como reteve no partido seus recursos de campanha e, por fim, rompeu o acordo feito lá atrás e Marcos Amaral, presidente estadual e assessor de Bivar, decretou intervenção no Recife e afastou Mendonça.
As rusgas de 2022 não pararam por aí. Mendonça conseguiu de volta a direção da capital, por meio judicial, e surpreendeu Marcos Amaral fazendo uma convenção e se legitimando como chefe maior do partido no Recife. O troco veio a galope. Amaral fez a convenção estadual esta terça-feira na qual teve 59 votos contra 19 de Mendonça e anunciou que continuaria presidente estadual por mais três anos. No mesmo dia, novamente na Justiça, Mendonça e o grupo Coelho, junto com diversos prefeitos, conseguiram provar que grande parte das executivas municipais favoráveis a Amaral estavam irregulares e a o desembargador do TJ Fernando Martins anulou a convenção. Ficou o dito pelo não dito, até que a novela tenha um final ou o partido se pacifique para fazer jus ao nome.
As manhas de Bivar
Embora tenha grande capacidade de articulação, a ponto de se tornar presidente nacional do PSL, partido que abrigou Bolsonaro e depois o dispensou, e, em seguida ser presidente do União Brasil, que, com a incorporação do DEM possui a terceira maior bancada na Câmara Federal, Bivar nunca foi um político de prestígio em Pernambuco. Foi deputado federal mas perdeu várias eleições sempre com o mesmo discurso – o do imposto único – artimanha na qual ninguém acredita. Para se eleger federal em 2022 precisou dar uma chave de braço em Miguel Coelho. No dia da convenção retirou a candidatura a presidente e afirmou que seria candidato a federal. Ctirou um rebuliço que quase desmanchou a chapa completa. Mesmo assim foi apenas o terceiro mais votado. Perdeu para Fernando Filho e Mendonça.
De João a Raquel
Na Assembléia Legislativa se apelida de “ninja” o político que muda constantemente de lado mas nunca sai do poder. Bivar é chamado assim desde que fez um acordo pelo União Brasil com o prefeito João Campos, conseguindo indicar uma assessora sua secretária municipal, e com a governadora Raquel Lyra (adversários conhecidos), ganhando a indicação do novo administrador do Porto do Recife. O que fará em 2024, quando João será candidato à reeleição e Raquel terá candidato próprio a prefeito da capital ? Talvez nem ele mesmo saiba mas, por enquanto, posa de gaiato ao lado dos dois.
Pergunta que não quer calar: até quando Mendonça e Miguel vão precisar continuar a peitar Bivar?
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