Silêncio ensurdecedor

 

Uma das mais expressivas lideranças do PT no Recife, o deputado estadual e prefeito da capital por oito anos, João Paulo Silva, está, há vários dias, mostrando insatisfação com o processo de escolha do candidato a vice de João Campos, que, na sua opinião, tem desgastado o partido na busca de um lugar na chapa majoritária do qual o prefeito não tem demonstrado interesse em abrir mão. Este domingo, em artigo para o Jornal do Commércio, ele foi mais além. Falou das alianças feitas ao longo do tempo entre o PT e o PSB e concluiu: “O que se espera não é apenas a indicação de um vice. O que se quer é que prevaleça e se resgate o respeito. O PT merece respeito e o PSB deve respeito ao PT”.

Durante esse período em que tem se expressado na condição de nome petista mais forte entre os eleitores recifenses – nas pesquisas em que seu nome foi colocado ele só perdia para o prefeito, que é muito bem avaliado – não se ouviu nenhum outro líder petista se expressando à respeito do assunto. Nem para concordar, nem para discordar. O silêncio tem sido ensurdecedor, o que é incomum em uma legenda que é acostumada a embates e à discussão de idéias.

Procurado por este blog este domingo o presidente municipal do PT, Cirilo Mota, disse que a direção municipal não vai se manifestar “primeiro porque está tudo andando nas mãos dos senadores Teresa Leitão e Humberto Costa, do presidente Lula e do próprio João Campos. Não tem nada parado”. Cirilo é defensor da tese de que no final PT e PSB vão se entender e o PT terá seu vice na chapa a ser homologada em convenção. “Tudo que se tem dito sobre isso é especulação”-  acrescenta. Mas não deixou de dar uma estocada em João Paulo: “ele fala por ele mesmo, não pelo PT. Quem apita nesse jogo do Recife pelo PT são os dois senadores e ninguém mais”. Este blog apurou que o silêncio em torno  dos pronunciamentos de João Paulo é estratégico. Teme-se que, confrontado, ele acabe atraindo para si a militância petista, a mesma que vaiou o PSB na eleição de 2022.

Reunião em Brasília

O Palácio do Planalto informou este final de semana aos senadores Teresa Leitão e Humberto Costa que o presidente Lula deseja conversar com os dois nos próximos dias. Como a informação passada para os mesmos foi a de que no encontro do prefeito com Lula quarta-feira passada, ao contrário do que informou o jornal O Estado de São Paulo citando uma fonte socialista,  a eleição do Recife não entrou em pauta, o PT espera que, depois de conversar com os senadores, Lula chame, enfim, João Campos para tratar do assunto. E até lá a ordem nos bastidores e que ninguém desse grupo restrito fale, nem mesmo em off.

Fato Novo

Na verdade, além do desejo do prefeito de escolher um vice de sua inteira confiança, um fato novo pode prejudicar os entendimentos entre o PSB e o PT. A informação da imprensa do sudeste é de que não repercutiu bem no Palácio do Planalto, muito menos entre os ministros do PT, a aliança que João Campos fez na semana passada com o União Brasil, na qual se comprometeu a garantir ao deputado federal Elmar Nascimento (pré-candidato a presidente da Câmara Federal pela legenda) os 14 votos da bancada do PSB, em troca do apoio ao seu projeto no Recife. Elmar não tem o apoio do PT, que está preferindo uma aliança em torno do assunto com o presidente da Câmara, Arthur Lira. A leitura é que o gesto de Campos fortaleceu Elmar.

Quem cala consente?

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