Raquel entra no jogo da política com ousadia ao tirar da Prefeitura sua nova secretária de cultura

 

Vista no início do seu Governo como avessa à classe política, a governadora Raquel não nomeou nenhum político ou indicado por partidos em seu secretariado e sustentou, por mais de dois meses, uma queda de braço com os deputados estaduais que deu o que falar. Ontem, num gesto de ousadia, demonstrando que agora está disposta a entrar no jogo, ela atravessou simbolicamente a ponte que separa o Palácio do Campo das Princesas, do Palácio Capibaribe prefeito Antonio Farias, onde despacha o prefeito João Campos, e de lá tirou a secretária de turismo da capital, Cacau de Paula, e a empossou, incontinenti, como secretária de cultura do estado esta sexta-feira. Os dois atos duraram exatas 24 horas.

O gesto da governadora surpreendeu a classe política mas já estava sendo costurado há mais de dois meses quando, preocupada com a força do prefeito João Campos, que incorporou várias legendas importantes em sua administração, a governadora iniciou entendimentos com o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, e o atual ministro da pesca e aquicultura do Governo Lula, André de Paula, convidando-o os pessedistas a deixar a base do prefeito e fazer parte da sua. O próprio André fez questão de confirmar isso na entrevista que deu no Palácio após a posse de Cacau de Paula, sua filha. Citou explicitamente que Kassab “tem conversado muito com Raquel e admira sua coragem, competência e ousadia”.

A saída do PSD da base de João acendeu o sinal amarelo na cúpula do PSB que trabalha dia e noite pela reeleição do prefeito em 2024. É que, além do PSD que agora largou o prefeito, mais dois grandes partidos estão hoje com um pé no Palácio e outro na Prefeitura: o MDB e o União Brasil. Se Raquel agir com a mesma desenvoltura demonstrada na atração do PSD, pode fazer os dois se definirem por seu projeto e o prefeito vir a passar por sérias dificuldades para recompor seu palanque. Favorito nas pesquisas e até agora sem um opositor à altura, João vinha nadando de braçadas, ganhando musculatura cada vez mais rígida. “O jogo nem começou a ser jogado e tudo pode acontecer”- resumiu ontem um deputado estadual da base governista na Alepe para quem a governadora vai agir ainda mais fundo “e balançar as estruturas”.

Sem deputados no estado, PSD promete mais

Que interesse poderia ter Raquel no PSD, um partido que, por força das circunstâncias, não elegeu deputados federais ou estaduais no estado, em 2022? Pelos discursos e entrevistas de ontem, porém, a conta não seria essa. Com 43 deputados federais e 15 senadores a legenda tem mais tempo de televisão do que o PSDB da governadora e, a esta altura, vai ser fundamental na campanha televisiva para prefeito. Além disso, com enorme jogo de cintura, André vai trabalhar para conseguir eleger prefeitos com apoio do Palácio, abrindo caminho para fazer uma bancada de deputados federais e estaduais favoráveis ao Governo, em 2026, quando a governadora tentará a reeleição.

Recado aos independentes

Raquel aproveitou a posse de Cacau de Paula para, nas entrelinhas, mandar um recado aos partidos que estão indecisos entre seu palanque e o do prefeito João Campos. Exaltou no discurso que o PSD está inteiro a seu lado, no que foi seguida pelo ministro André de Paula que se pronunciou no mesmo sentido. Como vão ficar as legendas já chamadas de “lé e lô”? Dificil saber mas o MDB já andou dando sinais de que pode ter candidato a prefeito, o que seria uma forma de agradar os dois lados. E deixar o problema para ser resolvido no segundo turno. Mas aí vai ser preciso “combinar com os russos” como disse Garrinha na copa de 1958.

Raquel no PSD?

Desde que o “namoro” da governadora com o PSD ficou conhecido as especulações cresceram de tamanho e o comentário, a boca pequena, nos corredores da Alepe e do próprio Palácio, são de que Raquel poderia deixar o PSDB e se filiar à legenda de Kassab. Ela nega mas ontem fugiu das perguntas dos jornalistas sobre o assunto, demonstrando até um certo incômodo. Na classe política, no entanto, comenta-se que, caso o PSDB tome um rumo em 2026 do qual não concorde, ela poderia ter o PSD como saída partidária.

PT contra PT

As brigas intestinas do PT, conhecidas a nível local e nacional, chegaram ao ápice em Caruaru. O vereador petista Vitor Moura protocolou ontem na direção partidária um pedido de expulsão da legenda do atual presidente municipal Leo Bulhões que teria indicado uma empresa para assessorar juridicamente os 23 candidatos a vereadora e vereador do partido em 2020. Segundo ele, o serviço não foi prestado convenientemente e descobriu-se depois que a empresa citada pelo presidente seria uma gráfica e não um escritório de advocacia. O resultado é que o TRE rejeitou as contas de 15 candidatos e os condenou a devolver recursos do fundo eleitoral. Só um deles estaria devendo R$ 22 mil o que teria levado o MP a pedir investigação da PF sobre o assunto.

Pergunta que não quer calar: qual vai ser a próxima baixa que Raquel planeja fazer na base política de João Campos?

E-mail: terezinhanunescosta@gmail.com

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