Raquel demora a dar espaço a partidos em seu Governo e acaba gerando insatisfação
“Vão-se os anéis mas ficam os dedos” é uma expressão popular que demonstra a escolha pelo mal menor. Na política isto significa que, às vezes, na divisão do poder, para não ceder o todo, deve-se concordar em dar o suficiente para agradar quem recebe mas deixar ao líder maior o controle da situação. A governadora Raquel Lyra tomou posse há 14 meses atrás anunciando um secretariado totalmente avesso à classe política. No final do ano passado, no entanto, percebendo a chegada de 2024, um ano eleitoral, em que um governador precisa mostrar força política, ela começou a incorporar partidos à sua administração nomeando um secretário de cada legenda. Foi assim com o PSD, do ministro André de Paula; com o PDT, de José e Wolney Queiroz ; e ontem com o Podemos do ex-senador Armando Monteiro.
Mas, ao contrário do que acontecia com o PSB, sobretudo nos mandatos do governador Paulo Câmara, ela não está entregando a nenhuma legenda uma secretaria “de porteira fechada”, como se fala corriqueiramente. Só tem nomeado uma pessoa – o próprio secretário – sendo os demais cargos ocupados pelo Palácio. Caberá ao secretário ir abrindo caminhos para outros correligionários, o que não tem sido fácil. Essa centralização excessiva, que criou algumas crises com os próprios secretários técnicos, está sendo engolida pelas legendas parceiras mas têm sido grandes as reclamações nos bastidores.
Outra dificuldade no “modelo Raquel de administrar”, como se fala nos corredores da Assembléia Legislativa, é o fato de partidos como o PP, que a acompanha desde o início da gestão, com 8 deputados estaduais e 4 federais, não ter até agora conseguido uma secretaria. Como o PL, o PP tem parte da diretoria da Ceasa e do Lafepe e o PL parte da do Detran. Não deu outra, ontem pela manhã teve início um movimento do PP que é ameaçador para a estabilidade da aliança da governadora no Recife. O deputado federal Eduardo da Fonte convocou prefeitos, parlamentares e candidatos a vereador do Recife para analisar entre outras coisas a possibilidade de até apoiar o prefeito João Campos na capital. Pode ser fogo de monturo ou uma forma legítima de pressão mas, até dois meses atrás, Eduardo dizia que apoiaria o nome de Raquel no Recife e em Caruaru, sem pestanejar.
A dificuldade do PP
Na verdade, o PP também ficou intrigado depois que o PDT, mesmo não tendo deputados federais e nem estaduais, entrou na base da governadora e, embora ocupando uma secretaria, anunciou que não planeja afastar-se da administração de João Campos, ou seja, estará, até que prove o contrário, no lá e lô. Vereadores e candidatos a vereador do PP no Recife passaram a defender que a direção municipal fosse liberada para seguir o caminho que desejasse. Foi então que marcou-se a reunião. Também os Progressistas estão preocupados com a decisão da governadora de não chamar parlamentares para o secretariado. Essa sempre foi a maior reivindicação do PP para trazer de volta para a Alepe a ex-deputada Roberta Arraes.
Problema de comunicação?
– “A governadora está muito bem intencionada mas o Governo tem falhado na comunicação”- disse ontem um deputado da base governista que pediu anonimato. Ele afirma que partidos que acompanham a governadora desde o início deveriam ter sido atendidos antes das legendas que só estão chegando agora e que essa questão do Recife deveria estar negociada concomitantemente. Na verdade, o único partido, além do PSDB, que diz abertamente que está com a governadora na capital é o PSD. O outro era o PP que quer mudar de patamar. Se no Recife houver liberação a questão estadual estará comprometida agora e em 2026.
Lula na mira da oposição bolsonarista
Os deputados estaduais Joel da Harpa e Abimael Santos, ambos bolsonaristas, foram à tribuna da Assembléia esta segunda-feira condenar as declarações do presidente Lula ao comparar a reação de Israel ao Hamas com o Holocausto. Com linguagem peculiar trataram o presidente de “ex-detento”. Já o deputado estadual e líder do PT na casa, João Paulo Silva, fez discurso em defesa de Lula mas evitou falar no Holocausto. O mesmo fez o deputado Waldemar Borges, do PSB, alegando, no entanto, que era preciso esclarecer a situação dos dois lados em questão “embora seja legítimo repudiar o que é repudiável”.
Raquel vai agir com rigor ou liberar partidos de sua base na eleição do Recife?
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