PT estadual se distancia do PSB, quer traçar caminho próprio e não descarta aliança com Raquel

 

Com dois senadores no estado – coisa que jamais sonhou em ter – o PT de Pernambuco pode até apoiar a reeleição do prefeito João Campos mas dentro de um acordo diferente do que marcou a relação dos dois partidos nos últimos anos. “Estamos dispostos a criar um novo campo político no estado, uma força alternativa e a partir de agora nossos passos terão essa direção”- afirmou a este blog uma das principais lideranças do partido esta quinta-feira, acrescentando: “este campo pode rumar, se for necessário, ao lado do PSB, que é o partido com o qual fizemos aliança nacional, mas não descartamos outras opções como a própria governadora Raquel Lyra, desde que ela não se atrele à direita bolsonarista”- adiantou.

Não é de hoje que o PT olha de soslaio para os aliados socialistas. A prova foi a rebelião das bases ao lado de Marília Arraes e contra Danilo Cabral, o candidato socialista a governador, na eleição de 2022. Marília soube aproveitar bem o descontentamento que ela própria começou a plantar em 2020, quando enfrentou João Campos no Recife e perdeu. A cúpula, porém, atendendo a pedidos do presidente Lula, segurou o apoio a Danilo, elegeu Teresa Leitão senadora, mas não pretende mais ser caudatária, segundo um deputado estadual petista. Essa convicção ganhou corpo, segundo ele, após a posse de Lula e os encaminhamentos dados à aliança no estado, tocada pelo prefeito do Recife. Ficou claro, desde o início, que o PSB pleiteava a direção nacional da Codevasf e o PT ficaria com a estadual.

Como não colou o cargo nacional, o prefeito, junto com o deputado federal Sílvio Costa Filho, teria passado a pleitear o cargo estadual, sem antes combinar com o senador Humberto Costa, a voz petista que está à frente da ocupação de espaços estaduais. Foi aí que o caldo entornou e não só Humberto como Teresa Leitão se juntaram para resistir à pressão. Chegaram até a sugerir o nome de Danilo Cabral para o cargo mas o PSB não aceitou. Foi então que se partiu para a solução salomônica de dividir o poder, ficando o PT com a superintendência de Petrolina e o PSB com a que vai ser criada no Recife, bem menos importante que a do sertão. Mesmo assim os entendimentos deixaram sequelas pois o PSB não aceitou que o petista Edilásio Wanderley, que vai ficar em Petrolina, assumisse interinamente a superintendência estadual, até que o desmembramento seja concluído. Para não prolongar a querela, Humberto e Teresa concordaram que o futuro superintendente do Recife, Gustavo Melo, ficasse na função com Edilázio adjunto. “Foi a primeira vez que o maior teve que ceder espaço ao menor”- afirmou o deputado citado acima.

Danilo e Paulo mais próximos do PT

Uma coisa, porém, o PT já conseguiu para minar o PSB estadual. Na luta por espaços, os socialistas se dividiram e dificilmente o ex-governador Paulo Câmara e o ex-deputado federal Danilo Cabral vão continuar próximos de João Campos, hoje a principal liderança socialista em Pernambuco, por comandar a Prefeitura do Recife. A prova maior foi a ida de Humberto e Teresa a uma recepção oferecida a Paulo recentemente pela conquista da presidência do Banco do Nordeste – uma decisão pessoal de Lula que não foi apoiada pelo PSB – e a postagem que Danilo fez esta semana agradecendo aos dois senadores petistas pela nomeação para superintendente da Sudene, excluindo seu partido dos agradecimentos.

A questão do Recife

O dirigente petista, que falou ao blog sobre o novo caminho do partido, não descarta a possibilidade do PT apoiar o prefeito em 2024, por conta da aliança nacional, mas sublinha que isso não ocorrerá sem um acordo explícito sobre 2026. “Não vamos abrir mão de ter candidato a governador e se o prefeito deseja nosso apoio precisará assumir desde já um compromisso nesse sentido”- sublinha. Embora na política não valha muito esse tipo de acordo, frequentemente desrespeitado, já se fala que o PT poderia indicar o vice de Campos para, caso ele se reeleja, os petistas garantam o controle do Recife, tão logo o mesmo se desincompatibilize para disputar o Governo. Os nomes petistas para o governo são os de Humberto e Teresa.

Túlio de carona com Lula

O deputado federal Túlio Gadelha fez uma pegadinha com os petistas pernambucanos. Foi a Salvador para, de carona no helicóptero do presidente, chegar a Recife na comitiva oficial e ter, desde já’, seu lugar reservado na aeronave durante toda a permanência do presidente no estado. Para não criar constrangimentos, a senadora Teresa Leitão, que teria acento assegurado no helicóptero por decisão do Planalto, acabou tendo que se deslocar de automóvel até Paulista, onde falaria na inauguração do campus do IFPe.

Pergunta que não quer calar: Raquel estaria disposta a corresponder aos acenos do PT em torno de uma aliança estadual?

E-mail: terezinhanunescosta@gmail.com

Foto: JC/Divulgação

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