Povo na rua ajudou Lava Jato contra Lula assim como 8/01 prejudica Bolsonaro

 

O ex-senador de Pernambuco, Sérgio Guerra, falecido em 2014, era conhecido pelas inteligentes observações em torno da política. Ele costumava dizer que “não se cassa um líder popular sem que haja todo um clima ao redor de algum processo movido contra ele”. O Brasil tem passado nos últimos anos por experiências que comprovam a assertiva de Guerra. Além de processos que envolviam corrupção não se tem dúvida de que a mobilização popular em torno do impeachment de Dilma deu força à Lava Jato e a tribunais superiores como STJ e STF para condenar e prender o então ex-presidente Lula em 2018. Da mesma forma não há mais dúvida de que a suspensão dos direitos políticos do ex-presidente Bolsonaro não vai derivar de processos em si – há 16 em andamento – mas da tentativa de golpe representada pela invasão e depredação das sedes dos três poderes em 8/01.

Goste-se ou não de Lula ou Bolsonaro, o resultado da eleição de 2022, que terminou quase empatada, demonstrou que os dois são líderes populares de dimensão no país tanto que, apesar de tudo, conservam um rol de admiradores capazes de, apesar de tudo que diga ou demonstre sobre cada um, ambos conservam um grande volume de seguidores e admiradores imunes aos pecados que tenham por acaso cometido. A paixão está acima da razão nos dois casos e quem tomar a frente de um processo que danifique a imagem dos dois, vai acabar também sofrendo rebordosas.

Bolsonaro está para experimentar “seus dias de Lula”. Ainda não está claro que possa vir a ser preso mas dá-se como inevitável a cassação dos seus direitos políticos por oito anos. Analisando cada um dos processos a que responde, excetuando-se o 08/01 não fica clara culpa suficiente para cassação. Mas, aumenta cada vez mais a convicção nos meios políticos que o seu julgamento vai ser empurrado para um resultado negativo com base no que aconteceu em Brasília em janeiro deste ano. Num processo comum sobre uma pessoa comum a falta de provas concretas de que partiu do réu a iniciativa de golpe – coisa não comprovada até agora em relação ao ex-presidente – poderia ensejar uma dúvida que levaria o processo a durar anos. Mas, na medida em que o 8/01, objeto de uma CPMI, paira no ar com toda dimensão que teve, e foi muito grave, qualquer juiz ou ministro que venha a julgá-lo terá em mente esse problema maior. E o resultado pode ser o pior possível.

Direcão da Alepe e base governista se afinam

Os problemas de relacionamento entre o Palácio do Campo das Princesas e direção da Assembléia Legislativa, que marcaram os primeiros meses da gestão Raquel Lira, foram mais danosos para a governadora do que qualquer dificuldade para formação de uma base de sustentação na casa. A prova foi a derrota da oposição esta quarta-feira quando o plenário aprovou requerimento do líder do Governo, deputado Izaías Regis, para que o projeto de pagamento do piso para os professores estaduais fosse votado em plenário, apesar de ter sido reprovado por duas comissões. O presidente Álvaro Porto e o primeiro-secretário, Gustavo Gouveia, se juntaram à liderança governista e garantiram a primeira vitória do Governo.

Piso dos professores vai a plenário dia 27

Na próxima terça-feira, dia 27, o plenário da Alepe vota o projeto de Raquel que garante o pagamento do piso de R$ 4.250,00 a 28.600 professores que recebem menos que isso mas não projeta aumento linear para toda a categoria, como pleiteia o Sindicato Sintepe. Há perspectiva é que seja aprovado porque se não o for, como a Assembléia entra em recesso dia 28 e só volta a funcionar regularmente em agosto, os professores que agora serão beneficiados irão ter que esperar dois meses para receber os salários majorados. E eles têm enchido as caixas de mensagens dos parlamentares pressionando pela votação da matéria.

Um estranho no ninho

O deputado estadual coronel Alberto Feitosa (PL) tem sido um estranho no ninho da oposição na Alepe. Bolsonarista radical ao ponto de ter sido um dos mais votados na eleição de 2022 mas insatisfeito com a governadora porque foi preterido na presidência da Comissão de Administração, ele tem votado ao lado do PSB, PT e PSOL. Esta quarta-feira não só defendeu aumento geral para os professores mas cobrou da governadora mudanças na atual faixa salarial dos PMs. Um seu colega, intrigado, comentou com este blog: “ essas faixas salariais foram criadas em 2017 pelo PSB. Na época Feitosa era deputado licenciado para ser secretário de Geraldo Júlio e podia ter pedido licença para votar contra. Era só tirar uma licença de dois ou três dias. Agora quer acabar o que ajudou a criar”.

Pergunta que não quer calar: quantos votos o Governo vai ter no plenário da Alepe dia 27, quando os deputados vão votar o projeto da governadora que garante o piso salarial dos professores?

E-mail: terezinhanunescosta@gmail.com

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