Na frente de João Campos, Lula fala em subir em dois palanques e lembra exemplo de Pernambuco em 2006

Apesar de fazer juras de amor ao PSB – “minha relação com o PSB é carnal, umbilical”- o presidente Lula surpreendeu no discurso de quase uma hora que fez no congresso nacional do Partido Socialista Brasileiro este domingo, em Brasília, no qual o prefeito João Campos foi eleito, por aclamação, presidente nacional da legenda. Em certo momento do seu pronunciamento, quando falava sobre as eleições de 2026, o presidente defendeu que “em alguns estados” (vídeo em anexo) os partidos trabalhassem com a possibilidade de dois palanques para governador e citou o exemplo de 2006 em Pernambuco, quando apoiou as candidaturas de Eduardo Campos, pelo PSB, e Humberto Costa, pelo PT e não houve problemas.
-“Humberto era meu ministro da saúde e tinha feito o programa Brasil Sorridente, criado o Samu e a Farmácia Popular. Eduardo era meu ministro da Ciência e Tecnologia. Os dois quiseram ser candidatos e vocês sabem como é, a pessoa quando resolve ser candidato a governador se torna de uma grandeza incomensurável, dizendo que vai ganhar. Eu não podia ser contrário a Eduardo nem a Humberto, então nos reunimos e ficou decidido que eu apoiaria os dois, ninguém vaiaria ninguém, e quem fosse para o segundo turno teria o apoio do outro. Fui a muitos comícios com bandeiras do PT e do PSB. Em uns, Humberto falava primeiro e, em outros, Eduardo e eu ficava para o final. Fizemos uma disputa civilizada e podemos repetir isso em muitos estados”.
Uma fonte do PT pernambucano disse a este blog, em off, não ter dúvidas de que, da forma como o presidente tocou no assunto, “ele quer o apoio de João e Raquel e deu seu recado ao PSB. Se não der certo é outra coisa mas ele trabalha com essa hipótese” e adiantou: “Lula é da mesma escola de Arraes, de Eduardo, ele não joga voto no lixo”. Essa mesma fonte citou que na Paraíba em 2022, “o PT apoiou a candidatura de Veneziano Vital do Rêgo, do MDB, e Lula não foi a comício do MDB porque queria também o apoio do atual governador João Bezerra, do PSB. Até gravou um vídeo para Veneziano mas não subiu no palanque. O resultado é que, no segundo turno, teve o apoio dos dois partidos: MDB e PSB e somou 66,62% dos votos válidos”.
Estratégia para dois palanques
Verdade que em 2006 foi possível para Lula colocar Humberto e Eduardo como candidatos a governador e não ser surpreendido por reações mais fortes, o que não aconteceria hoje se tivesse que apoiar e receber apoio de João Campos e Raquel Lyra. Se tiver que fazer isso vai precisar agir como fez na Paraíba até gravando vídeos mas não subindo no palanque de ninguém. Qual dos dois candidatos se beneficiariam com essa estratégia? E o que faria o senador Humberto Costa que vai precisar estar em um dos lados? Por enquanto, a postura de Humberto tem sido de cautela: não aceitou cargos na Prefeitura do Recife e mantém diálogo com Raquel enquanto o PT está dividido ao meio. No Recife o partido está com João Campos mas a bancada estadual vem apoiando Raquel.
Força para Alckmin
No congresso do PSB a postura das lideranças socialistas, incluindo o prefeito João Campos, foi a de apoio à continuidade de Geraldo Alckmin como vice de Lula no próximo ano. Teve sentido a pressão tanto que Lula falou diversas vezes no caminho que tem percorrido com a legenda mas o presidente não acenou para o assunto Alckmin, até porque se fizesse isso, afugentaria outras legendas. O próprio PSD, como informou o jornalista Romualdo de Souza, do Jornal do Commércio, estaria pensando no nome de Raquel para vice de Lula e partidos do centrão também lutarão pelo posto se a popularidade do presidente melhorar.

O que estao pensando João Campos e Raquel Lyra da fala de Lula sobre dois palanques?
E-mail: redacao@blogdellas.com.br/terezinhanunescosta@gmail.com