Múcio e a dificuldade de se firmar na área mais melindrosa do governo Lula

 

A queda do comandante das Forças Armadas, general Júlio César de Arruda, demitido pelo presidente Lula este final de semana por se negar a punir militares que tiveram participação nos acontecimentos do dia 8 deste mês, quando as sedes dos três poderes foram invadidas e depredadas, fizeram crescer a especulações sobre a atuação do ministro da defesa, o pernambucano José Múcio Monteiro, comandante da mais sensível e desafiadora missão do atual governo que é manter uma convivência adequada com o Exército, Marinha e Aeronáutica. Como se já não fosse espinhosa essa tarefa, Múcio a abraçou no momento em que se comprova cada vez mais a participação de militares na tentativa de golpe e se faz necessária uma punição.

Logo que foi anunciada a demissão do general Júlio César, a Globonews, através de vários comentaristas começou a levantar a possibilidade do desgaste do ministro e este domingo a revista Piauí falou em “erro de cálculo” de Múcio que, segundo a publicação, sugeriu ao presidente a escolha do general Júlio por critério de antiguidade, deixando de levar em conta que ele fazia parte de um quarteto de generais que, no Alto Comando do Exército, seria “permeável ao ímpeto autoritário de Bolsonaro”. A Piauí informou que Múcio achou “que seria melhor e mais seguro ter o general por perto do que deixá-lo longe e livre”.

Todas essas nuances só mostram a rede de intrigas que gira em torno do ministro da defesa escolhido na cota pessoal de Lula mas visto de soslaio pelo PT. A verdade é que, mesmo tendo cometido erro, como se fala agora, o critério de antiguidade para escolha dos novos comandantes não poderia servir só para a Marinha e Aeronáutica sob pena da crise ainda ser maior. Mas José Múcio sabia que não seria fácil sua tarefa tanto que no dia 9 de dezembro, quando foi confirmado ministro e já tendo tido conversas com os comandantes militares advertiu “esse período até a posse será, historicamente, dos mais difíceis”. Só errou uma previsão. Houve tumultos antes da posse mas depois dela os problemas foram ainda maiores, como se viu.

Acampamentos e invasões

Ficou claro logo após sua escolha como ministro que José Múcio não só recebeu a missão de encontrar comandantes novos para as Forças Armadas como de intermediar junto a eles a desocupação da área em frente aos quartéis em todo o país. Informações não oficiais dão conta – e está comprovado agora – que o novo comandante do Exército se negou a fazê-lo, o que acabou provocando o ato golpista do dia 8. O general Júlio acabou indo mais além e se recusado este sábado a afastar do comando de um batalhão de Goiana o coronel Mauro Cid, ex-ajudante de Bolsonaro, como exigia Lula, dizendo que era necessária uma investigação quando o coronel é suspeito até de comandar um Caixa 2 no Planalto.

De quem é a culpa

O ministro pode até ser afastado ou entregar o cargo mas muita coisa ainda precisa ser esclarecida. De qualquer forma é difícil imaginar se outro nome agiria diferente e teria mais êxito do que ele, tanto que recebeu o apoio de ex-ministros da defesa logo após os acontecimentos do dia 8. A esta altura só ele próprio, o presidente Lula e muitos poucos sabem o que acontece nos bastidores do Governo no que se refere ao complicado relacionamento com as Forças Armadas. A escolha do novo comandante, o general Tomás, foi uma demonstração de autoridade do presidente – e não poderia ser diferente – mas pergunta-se: é suficiente?. Só o tempo dirá.

A tragédia dos yanomami

O Brasil estarreceu-se este sábado ao tomar conhecimento da situação calamitosa vivida pelos índios yanomami, em áreas de Roraima e do Amazonas, levando o presidente Lula a declarar emergência sanitária na região com socorro urgente aos índígenas, sobretudo crianças e idosos, que estão morrendo de inanição. Deputados articulam uma CPI sobre o caso que pode ser enquadrado como genocídio. O mais grave é imaginar porque a situação que era de conhecimento de parlamentares desde 2019 só agora é vista com preocupação. Uma CPI pode esclarecer tudo doa em quem doer.

Pergunta que não quer calar: Por que a calamidade vivida pelos yanomami perdura há tanto tempo e ninguém a denunciou antes?

E-mail: terezinhanunescosta@gmail.com

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