Em busca da reeleição, João Campos vai precisar enfrentar a resistência do PT

 

Com o caminho bem pavimentado para a reeleição em 2024, o prefeito João Campos fez, até agora, o dever de casa. Compôs seu secretariado com 50% das vagas preenchidas por mulheres, fez um elogiado esquema de vacinação contra a Covid 19, vem se deslocando por toda cidade e pondo seus movimentos nas mídias sociais e, embora seu Governo não seja um primor em termos de infra-estrutura, tem espalhado obras de pavimentação por todos os bairros, animando seus moradores. Além disso, através de uma competente negociação política, acumula o apoio de grande parte dos partidos de maior tempo de TV, garantindo espaços vantajosos para sua campanha. Até quem duvidada que fosse se reeleger passou a refazer os cálculos depois disso.

O que não se desconfiava, porém, era que as sequelas da eleição de 2020, quando o prefeito esquentou as baterias no segundo turno para derrotar o PT, fazendo pesadas críticas ao partido, fossem se transformar numa pedra no seu caminho para 2024. Em entrevista a este blog publicada na edição desta coluna ontem, João Paulo, antes de demonstrar problemas pessoais com o prefeito, faz uma advertência que João Campos vai precisar considerar se deseja mesmo ter os petistas em seu palanque, de preferência, acompanhados do presidente Lula.

Segundo ele, ou a aliança chega até a base ou pode se frustrar, como aconteceu em 2022 na presença de Lula no Recife quanto dos petistas vaiaram o então governador Paulo Câmara e seu candidato Danilo Cabral, e na semana passada quando Lula esteve no Geraldão e o prefeito igualmente foi vítima de vaias, menores mas também perturbadoras. Ontem a entrevista de João foi muito comentada e distribuída pelo Whatsapp entre os petistas recifenses mas o silêncio calou mais fundo nas lideranças locais e estaduais que preferiram não se pronunciar. Agora é aguardar a movimentação no tabuleiro.

Idas e vindas

O relacionamento do PT com o PSB em Pernambuco nunca foi dos melhores. O PT sempre insistiu com candidaturas a prefeito do Recife conseguindo eleger João Paulo duas vezes e João da Costa uma vez mas o PSB terminou levando a melhor quando o governador Eduardo Campos fez seu pupilo Geraldo Júlio sucessor de João da Costa. A partir daí Eduardo deu as cartas e o PT virou coadjuvante. Já em 2022, com Lula voltando ao cenário, os petistas tentaram virar o jogo lançando Humberto Costa para governador e Paulo Câmara para o Senado. O plano foi abortado por João Campos que exigiu um candidato socialista para frustração de Paulo e Humberto.

Humberto no caminho

A declaração de Humberto citada por João Paulo de que o fato de o PT ter duas secretarias municipais não significa que a aliança para 2024 está sacramentada, foi uma deixa, embora o senador estivesse se referindo ao estado como um todo. Na verdade, cresce no PT pernambucano a convicção de que, ou o partido se firma no executivo da capital ou do estado, aproveitando a popularidade de Lula, ou nunca terá vez diante do PSB. Será sempre um coadjuvante. ”É aí que o bicho pega”- disse ontem um militante de alta influência na capital que pediu para não ser identificado.

Luta por espaço

Há também, nesse momento, uma queda de braço entre o PT e o PSB de Pernambuco por espaços em órgãos federais. O PT estadual quer ocupar a superintendência da Codevasf e o prefeito também. Essa disputa estaria impedindo o andamento das negociações sobre vários outros órgãos e têm irritado o senador Humberto Costa, que recebeu da executiva estadual as credenciais para falar em nome dos petistas pernambucanos. Por fim, há petistas de alto coturno se queixando do PSB até por não ter garantido espaço para o ex-deputado federal Danilo Cabral, preferindo atender outros estados.

Coincidência?

Em política é difícil se falar em coincidência, sobretudo em eventos programados. Ontem, a decisão do Governo Federal de marcar para o meio da manhã uma entrevista coletiva dos ministros Fernando Haddad e Simone Tebet, para explicar a Nova Regra Fiscal do Governo Lula, fez com que a volta do ex-presidente Jair Bolsonaro dos Estados Unidos acabasse em segundo plano. Os próprios jornalistas registraram isso em todos os comentários nas emissoras de rádio e TV. O marketing venceu a parada.

Pergunta que não quer calar: Bolsonaro vai mesmo ser o líder da oposição, ou terá que ceder espaço para pessoas mais moderadas?

E-mail: terezinhanunescosta@gmail.com

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