Duelo entre o petista João Paulo e o bolsonarista Feitosa, em torno de Raquel rouba a cena na Alepe

Esta terça-feira tinha tudo para se transformar em prova de fogo para a governadora Raquel Lyra na Assembleia Legislativa. A pauta marcava a reunião ordinária da comissão de Justiça, presidida por seu maior opositor na casa, o deputado estadual bolsonarista Alberto Feitosa, seguida de uma reunião conjunta das comissões de Justiça e Finanças, para que o secretário da Casa Civil, Túlio Vilaça, prestasse contas do pagamento das emendas parlamentares, o maior motivo de desavenças entre o Palácio das Princesas e a Alepe nos últimos tempos.
Mas, se a oposição amanheceu azeitada depois que a bancada governista conseguiu tirar de pauta na semana passada a PEC de Feitosa, que quase triplicava o valor das emendas parlamentares, na base governista o petista João Paulo Silva se preparou para o embate e protagonizou, ao longo da manhã, um duelo com Feitosa que surpreendeu. Logo na comissão de Justiça ele rebateu a resposta dada pelo oponente quando o deputado Antonio Moraes pediu explicações pela demora na marcação da sabatina do novo administrador de Fernando de Noronha e da apreciação do projeto da governadora que solicitou autorização para contrair empréstimo de R$ 1,5 bi para obras de infraestrutura.
“Estou buscando o momento propício”- respondeu um irônico Feitosa, acrescentando que Noronha ficou 83 dias sem administrador “porque o Palácio queria usar o cargo como moeda de troca”. Sobre o empréstimo avocou as prerrogativas do Parlamento para dizer que a matéria só seria votada quando o Palácio respondesse a um ofício dizendo onde o dinheiro vai ser empregado e porque. Diante da reação dos governistas ele foi claro: “a pauta quem faz é o presidente portanto só vou marcar quando achar conveniente”. Coube a João Paulo a reação mais forte “realmente o presidente pode pautar mas isto não acontecia aqui de se protelar algo que prejudica o estado, a Alepe sempre soube separar as coisas, coisa que não tem acontecido ultimamente”.
Na sabatina de Túlio Vilaça, o petista foi mais além referindo-se a Feitosa que presidia os trabalhos: ”considero uma aberração a proposta de Vossa Excelência de aumentar as emendas no momento em que o estado precisa de recursos para atender a toda população. Depois precisamos ser transparentes nas discussões e mostrar que no Governo passado teve ano em que se pagou de emendas só 0,1% dos recursos previstos e a governadora chegou a 66,3% em 2024. Tudo isso acontece porque aqui nesta casa há uma aliança paralela clara contra o Governo do Estado. Se ela não existisse, Vossa Excelência não seria presidente da Comissão de Justiça como é hoje”. Depois disso Feitosa não falou mais.
A aliança que incomoda
A aliança de que fala João Paulo é a que uniu o PSB, o próprio Feitosa, que conseguiu ser presidente da Comissão de Justiça por um pequeno partido, o PL, e que levou o deputado Antonio Coelho, do União Brasil, a presidente da Comissão de Finanças, afastando os governistas das três principais comissões da casa – a terceira é a de Administração, presidida pelo socialista Waldemar Borges. Foi esta aliança que fez de João Paulo e dos demais deputados do PT – Doriel Barros e Rosa Amorim – aliados incontestes da governadora. E a senha explicativa tem sido, além da distância que o grupo conserva do prefeito João Campos, a presença na linha de frente do grupo oposicionista o mesmo de Feitosa, um bolsonarista considerado hoje quase que da cozinha do ex-presidente, acompanhando-o pelo país ao lado de Gilson Machado.
Os números
A tabela que João Paulo carregava no bolso quando falou na tribuna e que foi preparada pela assessoria legislativa da Alepe mostra que entre 2017 a 2022, no Governo Paulo Câmara, o percentual máximo de emendas liquidadas pela gestão estadual foi de 0,3% em 2017 a 1,9% em 2022. No mandato de Raquel, segundo a tabela a que este blog teve acesso, foram pagas 63,3%% das emendas em 2023 e 66,3% em 2024.
Ganhe o mundo
A Assembleia Legislativa aprovou esta terça-feira projeto dos deputados Rodrigo Farias e Renato Antunes que vai permitir a 250 estudantes secundaristas do estado que vão fazer 18 anos agora em 2025 o direito de fazerem intercâmbio no Exterior em 2026, caso o Governo do Estado não consiga operacionalizar a tempo a segunda etapa do programa Ganhe o Mundo. O projeto original do programa estabelece 18 anos como idade máxima para a viagem. A excepcionalidade foi criada a pedido dos pais dos alunos e foi posta como um pleito da Alepe pois Rodrigo é de oposição e Renato é da bancada governista.

O que houve para o Governo do Estado não conseguir, a tempo, operacionalizar o programa Ganhe o Mundo criado em 2021 pelo então governador Eduardo Campos?
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