Dom Paulo Jackson critica desigualdade social e chama de “lona preta da vergonha”, plásticos em morros do Recife

 

Desde a gestão de Dom Hélder Câmara (1964 a 1985) a preocupação social dos arcebispos de Olinda e Recife, é medida sempre que um novo religioso toma posse. Não seria diferente com Dom Paulo Jackson, empossado este domingo em uma concorrida cerimonia no Geraldão com a presença de 32 bispos pernambucanos e de vários outros estados e de mais de 300 padres. Durante toda semana se especulou sobre o que ele diria aos católicos dos 20 municípios que compõem a Arquidiocese. Seria progressista como Dom Hélder e Dom Fernando? Doutor em Teologia Bíblica pela Universidade Gregoriana de Roma e atual 2.o vice-presidente da CNBB, Dom Paulo teve muito divulgado na Internet seu posicionamento contrário à exibição da peça “O Evangelho segundo Jesus, Rainha do Céu,” em 2018 no Festival de Inverno de Garanhuns.

Embora não tenha pedido publicamente a proibição da peça, que acabou sendo tirada da grade do festival pela Fundarpe a pedido da Prefeitura Municipal, disse que, se ela fosse exibida, não liberaria a Catedral de Santo Antonio para as apresentações eruditas do evento.

Este domingo, em um homilia por vezes poética na construção de partes do texto, ele se mostrou disposto ao diálogo, falando em “Igreja de perdão e Reconciliação” mas deixou claro que seu lado será o dos pobres da Arquidiocese. “Entristece-me a desigualdade social do Recife. Sofro com seus morros que, a cada chuva, querem descer a ladeira e, por isso, são ornados com a lona preta da vergonha; envergonha-me a insalubridade das palafitas às margens de mangues e rios fétidos e tristonhos, doem-me a fome dos filhos de Deus e a indignidade onde moram” – pontuou para os olhos atentos do prefeito João Campos e da vice-governadora Priscila Krause.

Para ele “o desenvolvimento deveria começar com os pobres “, como uma forma “de incluir a todos e não esquecer ninguém”. Pontuou que é um homem de esperança e acredita em soluções, estando disposto a colaborar nesse sentido com os poderes públicos e toda sociedade. Para dentro da Igreja, de forma específica, falou que está do lado do Papa Francisco “eu amo o Papa Francisco”, disse de forma enfática, arrancando aplausos demorados, e completou que a formação dos seminaristas se dará tendo como uma das referências a encíclica Evangelii Guadium, de Francisco, que fala da Alegria do Evangelho. Manifestou sua preocupação com a perda de fiéis católicos e exortou os padres e leigos a dedicarem-se à evangelização. Aos sacerdotes recomendou, de forma enfática, “ir além das sacristias”. Por fim afirmou que, como Dom Hélder, é defensor “da liberdade de consciência, da paz e dos pobres”.

Palavras para Dom Fernando

Além de marcar a posse do novo arcebispo, o evento de ontem foi de despedida de Dom Fernando Saburido. Os dois, o antigo e o novo, caminharam juntos no entorno do vão central do Geraldão e foram muito aplaudidos. Dom Paulo dedicou parte de sua fala agradecendo a Dom Fernando pela forma com o foi acolhido e como foram-lhe repassadas todas as informações sobre o funcionamento da Arquidiocese. Dom Paulo foi incluído nos três nomes sugeridos por Dom Fernando ao Vaticano para escolha do seu sucessor.

Silvio Filho ministro

O deputado federal Sílvio Costa Filho (Republicanos) pode ser confirmado no ministério do presidente Lula ainda esta semana. Com isso Pernambuco passa a comandar a quarta pasta. Os demais ministros são José Múcio Monteiro, da Defesa; André de Paula, da Pesca e Aquicultura; e Luciana Santos, da Ciência e Tecnologia. Ainda há dúvida sobre o ministério a ser ocupado por Sílvio Filho. Estão nas especulações Portos e Aeroportos, com a provável ida do ministro Márcio França para o lugar de Geraldo Alckmin, nas Minas e Energia, ou mesmo Esportes, caso o presidente não encontre outra solução pois não deseja afastar Ana Moser.

Alckmin, gerente do NOVO PAC?

Não é improvável a ida do vice-presidente Geraldo Alckmin para o comando do NOVO PAC, lançado por Lula esta sexta-feira em um grande evento no Rio de Janeiro. Pelo visto praticamente todo o terceiro mandato do atual presidente vai girar em torno desse projeto que juntou a tudo e a todos e precisa sair do papel. Os governadores e prefeitos deixaram o Rio felizes porque praticamente todas as sugestões que fizeram foram acatadas. Mas há um grande caminho pela frente pois 40% dos investimentos previstos serão privados através de PPPs que demoram a ser negociadas, e a Petrobrás, de onde vão sair a maior parte dos recursos públicos, acabou engordando as parcelas de estados como Rio e Sergipe, onde está instalada.

Pergunta que não quer calar: qual líder político vai sair mais forte da eleição de 2024, a governadora Raquel Lyra ou o prefeito João Campos?

E-mail: terezinhanunescosta@gmail.com

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