Dividido em três, União Brasil pode estressar eleição de 2024 no Recife
Criado através da junção do DEM com o PSL – partido que já tinha abrigado o ex-presidente Jair Bolsonaro – o União Brasil é chamado, nos corredores do Congresso Nacional, de “Desunião Brasil” pelo fato de até hoje estar dividido em grupos que não falam a mesma língua e chegam a brigar até pelos jornais. Em Pernambuco, o partido abriga três correntes, exatamente o mesmo número de deputados federais que possui. Uma delas é regida pelo atual presidente nacional, deputado federal Luciano Bivar, outra pelo deputado federal Mendonça Filho e uma terceira pela família Coelho, do deputado federal Fernando Filho e do ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho.
Uma aparente união levou a legenda , apesar de muitos percalços, a marchar com a candidatura de Miguel Coelho a governador em 2022 e persistiu no segundo turno em torno da atual governadora Raquel Lyra. Empossada, Raquel continuou recebendo a solidariedade de Mendonça Filho mas Bivar dividiu seu apoio, aceitando uma secretaria da Prefeitura de João Campos e, ao mesmo tempo, o comando do Porto do Recife da administração de Raquel. O grupo Coelho, deixado no limbo pela governadora, terminou se integrando à base do prefeito da capital com o deputado estadual Antonio Coelho assumindo a secretaria de turismo e lazer, há poucos dias. Se essa configuração já demonstra a cobra de três cabeças em que o União Brasil se transformou a perspectiva é de que isso persista e até se agrave na eleição de 2024 no Recife.
Mendonça Filho, que não fala com Bivar mas tem diálogo com os Coelho, ganhou na justiça o direito de dirigir o partido no Recife, assumindo a presidência municipal com poder de definir que rumo a legenda vai tomar na capital. Bivar dificilmente vai conseguir continuar com um pé na PCR e outro no Palácio das Princesas. Os Coelho já escolheram seu caminho e vão estar no palanque de João Campos. Tanto Bivar quanto os Coelhos poderão ajudar João Campos muito mais em 2026 do que agora. Bivar tem poucos votos na capital e Miguel teve apenas 14% dos sufrágios no Recife no ano passado. Já Mendonça, além do poder de transferir para o candidato a prefeito que apoiar o tempo de TV da legenda, o segundo maior do país, é uma liderança forte na capital tendo sido o candidato a senador mais votado na cidade em 2018, superando o senador eleito Jarbas Vasconcelos.
Raquel vai conseguir ter Mendonça a seu lado?
Apesar de estar apoiando a governadora Raquel Lyra, Mendonça Filho tem revelado a amigos que não tem caminho definido em 2024 na capital. Considera que o ambiente ainda é fluido e vai esperar o rumo que as coisas vão tomar. Não pretende se candidatar a prefeito- (“cansei de bola dividida” falou recentemente a um deputado estadual )- e nem apoiar o PT – (“este caminho não tomarei”, afirmou à mesma fonte). Fora essas duas opções ele vai deixar o caminho aberto para resolver mais na frente. Um assessor seu revelou a este blog que se, por alguma circunstância, a governadora acabar apoiando um nome do PT para prefeito, não conte com Mendonça para isso.
Qual caminho pode levar Mendonça a outra opção?
Para quem considera fora de cogitação o apoio de Mendonça a João Campos por conta do passado recente, em 2014 ele apoiou a eleição do governador Paulo Câmara numa aliança a nível nacional em torno do candidato a presidente pelo PSDB, Aécio Neves, que aqui recebeu, no segundo turno, o apoio do PSB e dos Campos contra a candidata do PT, Dilma Rousseff ( no primeiro turno o PSB votou em Marina Silva que assumiu a candidatura a presidente após a morte de Eduardo, do qual era companheira de chapa). Mendonça chegou a assumir, através do assessor José Fernandes, a presidência do Lafepe, a convite de Paulo mas ficou pouco mais de um ano na administração do PSB porque Priscila Krause decidiu ser candidata a prefeita do Recife e ele a apoiou em nome da amizade de anos dos dois. Geraldo Júlio não gostou e houve o afastamento.
Administrar o tempo
Oficialmente, Mendonça não fala sobre 2024. “Vou administrar o tempo”- disse ontem a este blog. Se ele tomar o rumo do apoio ao candidato da governadora a prefeito poderá estar no mesmo palanque de Bivar, mas longe dos Coelhos. Se for para João Campos, o menos provável, se juntará aos Coelhos. “Sou adversário de Bivar mas me dou bem com a família Coelho e ajudei Miguel a conquistar o direito de ser candidato a governador em 2022, quando Bivar fez tudo para impedir” – afirma ele. Antes de ir para João Campos, Miguel deu ciência do fato a Mendonça e indagou se poderia acompanhá-lo mas ele se negou.
Antonio assume a defesa da governadora
Esta semana, na votação do pacote fiscal do governo na Assembléia, coube ao deputado Antonio Moraes, presidente da Comissão de Justiça, fazer a defesa do Governo em meio a uma chuva de críticas de deputados do PSB e da líder da oposição, Dani Portela, do PSOL. Ele desfez os argumentos de que Pernambuco ficaria com o ICMS mais alto do Nordeste, mostrando que Alagoas e Paraíba, apesar das alíquotas menores, criaram fundos de combate à pobreza com o ICMS, que superam a alíquota de 20.5% aprovada para Pernambuco. Também disse que a cesta básica e os setores de energia, comunicações e combustíveis não terão suas alíquotas alteradas.
Pergunta que não quer calar: para quem vai em 2024 o precioso tempo de TV do União Brasil no Recife?
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