Disputa entre Raquel e João Campos já contamina debates na Assembléia

 

A governadora Raquel Lyra não vai disputar as eleições de 2024. O candidato no próximo ano é o prefeito do Recife, João Campos, que vai tentar a reeleição. Mesmo assim, em função da polarização política estabelecida em torno desses dois líderes e da possibilidade – já discutida nos meios políticos – de que os dois venham a se enfrentar em 2026, quando Raquel deve ter tentar a reeleição e João a conquista do Governo, a Assembléia Legislativa viveu na tarde desta quarta-feira, em plenário, uma prévia da campanha de 2026, quando apenas se discutia uma repartição do ICMS para ajudar os municípios mais carentes do estado. E como “para cobrir um santo é preciso descobrir um outro”, a saída foi reduzir os ganhos dos maiores, como a capital, que recebe por ano cerca de R$ 1 bilhão de ICMS.

No projeto inicial o Recife transferiria para os municípios menores R$ 19 milhões mas foi preciso nesta terça-feira, através de acordo, ampliar a perda para mais R$ 7,5 milhões, quando se descobriu que 23 municípios com menos de 30 mil habitantes não tinham sido beneficiados devidamente e aí foi necessário que o presidente da Alepe ligasse para o prefeito solicitando sua concordância, como foi feito com outros prefeitos, pois o objetivo era conseguir mais R$ 14,5 milhões para fechar a conta da redistribuição. João concordou e o Recife entrou, portanto, com a metade do valor a mais necessário.

Como todos os deputados sabiam desde o dia anterior que o Governo havia sido procurado pela comissão para fazer o repasse aos municípios dos R$ 14,5 milhões que faltavam e não concordou, a bancada do PSB não só elogiou o prefeito em plenário, diversas vezes, ressaltando o fato de que ele ajudou os municípios pequenos, como criticou de forma dura a governadora. O deputado Sileno Guedes acusou a chefe do executivo de “falta de criatividade e de competência” dizendo que o aumento da alíquota do ICMS vai render R$ 2,2 bi ao estado e ela não abriu mão de R$ 14,5 milhões para ajudar os municípios menores. “Ela está cercada de técnicos importados de outros estados”- disse referindo-se aos secretários do Planejamento e da Fazenda, que não são pernambucanos.

Propaganda no circuito

O deputado governista Renato Antunes, do PL, rebateu os elogios a João Campos dizendo que “quem gastou este ano mais de R$ 80 milhões com propaganda não vai sentir falta de R$ 7,5 milhões”. Sileno rebateu: “pior foi quem gastou R$ 50 milhões sem ter o que mostrar”- afirmou, referindo-se a Raquel. Outros deputados foram mais amenos como José Patriota, do PSB, um dos grandes responsáveis pelo acordo em torno do ICMS, que, sem atacar diretamente a governadora, disse ao microfone, elogiando o presidente da Alepe, Álvaro Porto: “é isso, presidente, quando as coisas não são resolvidas do outro lado do rio (referia-se ao Palácio ), a bomba estoura por aqui mesmo”.

História por trás das câmaras

Na verdade, a redistribuição do ICMS surgiu de uma proposta do deputado José Patriota, que foi presidente da Amupe, para que, aproveitando a nova alíquota do imposto que vai vigorar em janeiro, passando de 18% para 20,5%, o estado reservasse 0,5% do incremento de 1,5% para ajudar os menores municípios. Depois de muita negociação para que ele retirasse a emenda, ele concordou, após ouvir os prefeitos. A promessa da governadora era compensar o fim dessa emenda com uma outra forma de ajuda. Foi então que o Palácio propôs tirar dos municípios maiores para os menores. E deu no que deu.

O Cabo também fez campanha

Não foi só o Recife que ensejou debates eleitorais por conta da repartição do ICMS. O deputado Lula Cabral, que é cabense e candidato a prefeito, tomou a frente de uma movimento de boicote ao acordo afirmando que o Cabo não poderia perder receita porque recolhe impostos mas tem hoje o maior índice de violência do país, por falta de recursos para atender a todos que para lá se mudam. O deputado Jefferson Timóteo, do Cabo, adversário de Lula e afilhado do atual prefeito Keko do Armazem, candidato a reeleição, foi à tribuna dar razão a Lula pelas reclamações, votar contra a repartição, mas dizer que “Keko recebeu o Cabo já com todos esses índices de violência por falta de trabalho dos governos anteriores”(referia-se ao próprio Lula).

União para ajudar crianças com microcefalia

Uma luta que começou em Pernambuco pela União de Mães de Anjos (UMA) foi reconhecida pela Câmara Federal esta terça=feira quando, através de relatoria do deputado Lula da Fonte (PP), foi aprovado pelo plenário projeto de 2015, da então deputada federal Maria Gabrilli, garantindo indenização, pensão especial e outros benefícios para as crianças com microcefalia que foram vítimas do Zika Virus. Além de Lula da Fonte os deputados pernambucanos Kaio Maniçoba e Dudu da Fonte fizeram emendas ao projeto que foram incorporadas por Mara. Agora a matéria vai ser votada no Senado e a senadora Teresa Leitão deve ser a relatora. Pernambuco tem mais de 400 crianças que serão beneficiadas. O estado foi recordista nacional em casos de microcefalia.

Pergunta que não quer calar: no que vai dar toda essa polarização em torno de uma eleição que só vai acontecer em 2026?

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