Desfaçatez: cinco governadores elegem esposas para julgá-los nos Tribunais de Contas
“Lugar de mulher é onde ela quiser”. Esta frase é citada correntemente nos dias atuais de emponderamento feminino, quando as mulheres vêm galgando cada vez mais espaços de poder e se impondo em uma sociedade ainda flagrantemente machista. Tão machista que cinco governadores ou ex-governadores patrocinaram as candidaturas de suas esposas a conselheiras dos Tribunais de Contas dos respectivos estados, usaram a preponderância sobre as Assembléias Legislativas às quais cabe eleger novos conselheiros, e as mesmas saíram vencedoras, com grande votação.
Como se não bastasse o fato de que chegaram aos cargos não por mérito próprio, embora a maioria seja formada em Direito, mas por apadrinhamento político, essas mulheres correm o risco de terem suas decisões questionadas uma vez que são os TCEs que julgam as contas dos seus maridos. Ou seja, fica claro que, além dos salários felpudos e da vitaliciedade – só saem aos 75 anos – estariam sendo usadas pelos maridos para favorecerem os próprios como relatoras de processos ou usando a natural influência sobre os demais conselheiros.
Por coincidência, embora algumas tenham sido eleitas em 2022, antes ou logo depois da eleição presidencial, dos cinco governadores ou ex-governadores que patrocinaram as suas mulheres conselheiras, quatro são ministros do presidente Lula. Em fevereiro de 2022, o governador do Amapá, atual ministro do desenvolvimento regional, elegeu a esposa Marília Goes conselheira do TCE do Amapá. Ela foi deputada e é advogada especializada em Direito Penal. Em dezembro de 2022 foi a vez do governador de Alagoas Renan Filho, atual senador e ministro dos transportes, ajudar sua esposa Renata a ser eleita no TCE de Alagoas.
De janeiro a março a farra continuou
dia 23 de janeiro o ex-governador do Piauí Wellington Dias, atual ministro de desenvolvimento social, ajudou a eleger sua esposa Rejane, formada em administração e direito, para o TCE do seu estado. Este mês, no dia 08, celebrado como o Dia Internacional da Mulher o ex-governador da Bahia e atual ministro da Casa Civil, Rui Costa deu de presente à esposa Aline o assento no TCE baiano. Ela é formada em enfermagem e gestão hospitalar. Finalmente, esta semana, o governador do Pará, Hélder Barbalho, ajudou a eleger sua esposa Daniela, advogada, como conselheira do Tribunal de Contas do Pará.
Influência do governador
Quem conhece o funcionamento da escolha dos conselheiros dos Tribunais de Contas sabe que, embora caiba aos deputados estaduais aprovar os candidatos ao cargo, os governadores têm alta influência pelas bancadas, normalmente, numerosas que têm nas casas legislativas. Se a candidata é a esposa do chefe do Executivo é impossível derrota-la.
Eduardo ajudou Ana no TCU
Aqui em Pernambuco é conhecido o episódio em que a senadora Ana Arraes, mãe do então governador Eduardo Campos, foi escolhida conselheira do Tribunal de Contas da União. Embora muita gente tenha trabalhado para que ela fosse eleita, o fato de ter um. filho como político famoso, sem dúvida a ajudou. Com uma diferença das nomeações de agora. O TCU só julga governadores quando se trata da aplicação de recursos federais e Ana sempre que recebeu um processo de julgamento sobre Pernambuco se recusou a ser relatora.
Raquel e Gadelha
A governadora Raquel Lyra já escolheu um interlocutor junto ao Palácio do Planalto: o deputado federal Túlio Gadelha (Rede). Após participar ao lado do presidente Lula, com direito a fazer discurso, do lançamento do Pronasci – Programa Nacional de Segurança Pública e Cidadania, Raquel foi ao Palácio do Planalto acompanhada de Túlio para se inteirar da agenda que o presidente cumprirá em Pernambuco – a governadora deseja recebê-lo em Palácio para almoço ou jantar – e o deputado escreveu em seu instagran que Lula tem total disposição para trabalhar junto com Raquel. Concluindo “Quem quer ver Pernambuco crescer, torce por essa aliança”.
Pergunta que não quer calar: Túlio Gadelha caiu mesmo nas graças de Raquel?
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