Com mais de 80% das bancadas ocupadas por homens, Centrão não indica mulheres para Ministério

 

Com exceção de Pernambuco que elegeu três mulheres para cargos majoritários em 2022, derrotando muitos candidatos homens, as últimas eleições, em se tratando de Brasil, não corresponderam ao que se esperava no quesito igualdade de gênero. Dos 513 deputados federais eleitos só 17,7% são mulheres (em 2018 foram 15%). Para o Senado foram eleitas apenas quatro mulheres que, somadas às 6 que agora cumprem o segundo mandato, formam uma bancada de 10 senadoras (12,3% do total de 91 senadores). O número aumentou circunstancialmente para 13 porque as suplentes dos ministros Flávio Dino, Camilo Santana e Wellington Dias são mulheres e assumiram no lugar deles. Nos Governos estaduais a situação ainda é pior. Dos 27 governadores eleitos só dois são mulheres: Fátima Bezerra, Rio Grande do Norte e Raquel Lyra, Pernambuco.

Ter tão poucas mulheres na política passou a ser um entrave à formação do Governo Federal, em um país onde os ministérios são distribuídos para agradar os partidos da base, ou formar maioria parlamentar. Por isso o país está mergulhado há dias discutindo a redução do número de mulheres no Ministério do atual presidente – elas ocupam 30% das vagas e não 50% como se esperava – por um motivo simples: os partidos do Centrão só indicaram a Lula candidatos homens – todos deputados federais – e, pior, cobiçam pastas que estão na mão de mulheres. Primeiro foi pedida a cabeça da ministra da saúde, Nísia Andrade e da ministra do turismo, Daniela Carneiro, já afastada, depois a de Ana Moser ( Esporte) e agora a da pernambucana Luciana Santos (Ciência e Tecnologia).

Embora possam existir outras razões para o Centrão preferir homens a mulheres, na verdade, com bancadas ocupadas em mais de 80% por representantes masculinos, as opções se restringem. Cabe ao presidente, que prometeu dar força às mulheres, mudar o jogo. Lula se recusou a tirar Nísia Andrade e Ana Moser mas já entregou a cabeça de Daniela Almeida e agora pensa em deslocar, se for o caso, Luciana Santos para o Ministério da Mulher, que não é cobiçado porque seria esdrúxulo entrega-lo a um homem. Para isso terá que afastar do cargo outra mulher, Cida Gonçalves, nomeada no início do ano. Também está com a cabeça a prêmio a presidente da Caixa Econômica, Rita Serrano. Quem iria substituí-la ? Um homem, por óbvio.

Situação do Brasil no mundo

Apesar do avanço que as mulheres têm conseguido na ocupação de espaços em todo o mundo, no caso da política a situação deixa muito a desejar. A União Interparlamentar, organização que reúne 193 países, afirma que a participação de mulheres nos parlamentos a nível global só chega a 26,4%, em média, das vagas disponíveis, muito aquém do ideal que é a paridade. Já o Brasil está na vergonhosa posição de número 146, ou seja, só tem percentual maior que 47 das nações citadas, todas elas com pouca representatividade a nível mundial.

Pernambuco reduziu bancada na Alepe

Na eleição de 2022, Pernambuco conseguiu eleger 3 deputadas federais ( só tinha uma, que era Marília Arraes) mas reduziu sua bancada feminina na Assembléia de 10 para 6 parlamentares. As mulheres diminuíram na Alepe porque duas das mais votadas deputadas estaduais por vários mandatos, Teresa Leitão e Priscila Krause, concorreram às eleições majoritárias. Venceram o pleito mas não conseguiram que suas vagas estaduais ficassem com mulheres. Também sacrificaram-se as deputadas Alessandra Vieira ( candidata a vice de Miguel Coelho) e Dulcicleide Amorim que deu o lugar na chapa ao esposo, o ex-deputado Odacy Amorim.

A surpresa nas votações

Mesmo com pouca performance a nível geral, em 2022 as mulheres conseguiram em 8 estados ocupar o primeiro lugar entre os mais votados para a Câmara Federal. Como seus partidos não tinham outras mulheres representativas no voto, porém, elas acabaram ajudando a eleger candidatos homens com as sobras de sufrágios ( votos que superam o quociente eleitoral) que ficam para a legenda.

Silvinho entra nem que seja na cota de Lula

O Palácio do Planalto deixou vazar ontem a informação de que o deputado federal pernambucano, Sílvio Costa Filho, será ministro de Lula, embora não se saiba ainda que vaga vai ocupar pois estava cotado para o Ministério do Esporte, porém, o presidente resolveu manter Ana Moser. Como o partido do deputado, o Republicanos, está encontrando dificuldade de declarar apoio a Lula por causa da resistência de filiados de peso, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas e a senadora Damares Alves, a equação em estudo é a seguinte: Silvio entra na cota de Lula e o Republicanos libera os votos da bancada na Câmara. Vão-se os anéis mas ficam os dedos.

Pergunta que não quer calar: onde vão parar as investigações sobre os xingamentos ao ministro Alexandre de Moraes e agressão a seu filho, no Aeroporto de Roma?

E-mail: terezinhanunescosta@gmail.com

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